18 Abril 2016
O Papa Francisco afirmou que a sua recente exortação apostólica sobre a família abriu “novas possibilidades concretas” aos católicos que se divorciaram e voltaram a se casar sem obter a anulação do primeiro matrimônio.
Em uma coletiva de imprensa na volta de sua visita de um dia a Lesbos, na Grécia, um jornalista expôs ao papa que algumas pessoas estão interpretando a linguagem empregada no citado documento como se houvesse alguma mudança específica na prática pastoral da Igreja quanto aos católicos recasados, ao mesmo tempo em que outras estão interpretando como se não houvesse nenhuma alteração.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 16-04-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
“Há novas possibilidades concretas que não existiam antes da publicação da exortação, ou não?”, perguntou o jornalista.
“Eu posso dizer que sim”, respondeu Francisco. “Mas seria uma resposta muito sucinta”.
Aos que estão em busca de mais informações sobre o assunto o pontífice sugeriu a leitura da apresentação escrita pelo cardeal austríaco Christoph Schönborn no dia 8 de abril, dia da publicação da exortação Amoris Laetitia.
Nessa apresentação, Schönborn afirma que a exortação apostólica faz alguns “desenvolvimentos orgânicos” sobre a prática pastoral da Igreja aos fiéis divorciados e que voltaram a se casar.
“Recomendo-lhes que leiam a apresentação do documento feita pelo Cardeal Schönborn”, disse o papa no sábado. “Schönborn é um grande teólogo”.
“Ele conhece bem a doutrina da Igreja. Nesta apresentação, a sua pergunta encontrará uma resposta”.
Francisco escreveu Amoris Laetitia em resposta aos dois Sínodos dos Bispos sobre a família ocorridos em 2014 e 2015.
No documento, o papa toca em várias questões e diz que os bispos e padres não mais devem ficar fazendo avaliações morais vazias sobre as chamadas situações “irregulares” tais como o divórcio e o segundo casamento.
“Por isso, já não é possível dizer que todos os que estão numa situação chamada ‘irregular’ vivem em estado de pecado mortal, privados da graça santificante”, afirma o pontífice a certa altura do documento.
“É mesquinho deter-se a considerar apenas se o agir duma pessoa corresponde ou não a uma lei ou norma geral, porque isto não basta para discernir e assegurar uma plena fidelidade a Deus na existência concreta dum ser humano”, escreveu mais adiante.
Também perguntaram a Francisco no sábado sobre uma nota de rodapé em particular presente em Amoris Laetitia, na qual o papa diz que o “discernimento pastoral” para as pessoas divorciadas e recasadas “em certos casos, poderia haver também a ajuda dos sacramentos”.
Um jornalista perguntou por que o papa havia posto essa decisão em uma nota de rodapé, e se com isso ele estava querendo indicar que o assunto não é esmagadoramente importante.
“Um dos últimos papas, falando sobre o Concílio, disse que havia dois concílios”, respondeu Francisco. “O Vaticano II, ocorrido na Basílica de São Pedro, e o dos meios de comunicação”.
“Quando convoquei o primeiro Sínodo, a grande preocupação da maior parte da imprensa era: poderão os divorciados recasados comungar?”, continuou ele.
“Como não sou santo, isso me causou um pouco de aborrecimento e de tristeza”, completou Francisco. “Porque estes meios não se dão conta de que o problema realmente importante não é esse. A família está em crise, os jovens já não querem casar, há uma diminuição da natalidade na Europa que é para chorar, a falta de trabalho, as crianças crescem sozinhas... Estes são os grandes problemas”.
Francisco ficou pouco mais de quatro horas deste sábado em Lesbos, ilha grega que se tornou um ponto de passagem para centenas de milhares de refugiados que buscam asilo na Europa. A ele se juntaram o Patriarca Ecumênico Bartolomeu e o arcebispo grego-ortodoxo Jerônimo II.
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Francisco: “Novas possibilidades concretas” aos fiéis recasados após Amoris Laetitia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU