Mais Mises, menos direitos

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13 Abril 2016

Um dos souvenirs prediletos dos manifestantes contrários ao governo de Dilma Rousseff, nas ruas ou nas redes sociais, contém um lema tão pedante quanto enigmático para a maioria da população: a camiseta “Mais Mises, Menos Marx”.

O comentário é de Carlos Juliano Barros, publicado por CartaCapital, 13-04-2016.

O barbudo comunista é figurinha mais do que carimbada. Mas quem foi Mises, afinal? O que ele tem a ver com o Fla-Flu ideológico em eterna prorrogação desde as eleições de 2014? E, principalmente, que influência suas ideias podem exercer sobre o nebuloso futuro que aguarda o Brasil?

A lembrança da camiseta de Mises (nascido Ludwig von Mises em 1881, na Áustria) me veio à cabeça durante a leitura do ótimo A Nova Razão do MundoEnsaio sobre a Sociedade Neoliberal, de Pierre Dardot e Christian Laval, infelizmente ainda não traduzido para o português. No livro, os autores embarcam no túnel do tempo até o Colóquio Lippmann, realizado em 1938, em Paris – uma espécie de Big Bang do neoliberalismo.

Naquele longínquo ano, Mises dividiu com seus colegas uma análise sobre o mercado de trabalho que parece feita sob encomenda para o atual noticiário econômico da grande mídia brasileira, refém dos economistas de bancos e consultores ligados ao mercado financeiro: “o desemprego, como fenômeno massivo e duradouro, é o resultado da política que tem por objetivo manter os salários em um nível superior ao que seria possível nas condições de mercado”.

Em outras palavras, para Mises – assim como para seus asseclas contemporâneos – o xis da questão do desemprego é o alto custo do trabalho para o capital, inflacionado sobretudo por legislações protetivas.

Assim, neste momento de recessão econômica temperada pelo aumento do contingente de pessoas sem ocupação, a narrativa neoliberal tupiniquim promete enxugar os gastos, sanar as contas públicas e reconquistar a confiança do mercado através da flexibilização das leis trabalhistas e do afrouxamento da já precária rede de proteção oferecida pelo Estado, através dos programas sociais.

Em tempo: Mises e companhia limitada constituem a referência teórica que, na década de 1980, fez a britânica Margaret Thatcher e o americano Ronald Reagan sepultarem o Estado de Bem Estar Social nos países de primeiro mundo. Na Europa, o neoliberalismo sucedeu os chamados “Trinta Gloriosos” – período de três décadas de robusto crescimento econômico com justiça social e distribuição de renda após o término da Segunda Guerra Mundial.

Provavelmente, os “Trinta Gloriosos” representam o período de maior equilíbrio de forças entre capital e trabalho na história da humanidade. Sindicatos fortes e Estado atuante na proteção de direitos trabalhistas e na taxação dos mais ricos explicam essa equação.

Porém, desde o advento do neoliberalismo, a desigualdade na Europa tem crescido violentamente e se aproxima dos níveis da Belle Époque, no fim do século XIX, como o best seller Thomas Piketty não nos deixa esquecer.

Nos Estados Unidos, a concentração de renda atinge níveis escandalosos – apenas 10% da população concentram metade de toda a riqueza nacional. A maior economia do mundo é movida por um contingente cada vez mais expressivo de trabalhadores chamados de “temps” (temporários): uma massa mal remunerada e precarizada, abandonada à negociação direta com seus empregadores e sem qualquer tipo de proteção por parte do Estado.

Por aqui, a moda Mises está começando a pegar. O libera-geral das terceirizações é só o prólogo do filme de terror que aguarda os trabalhadores brasileiros. No afã de se cacifar perante o mercado para o cargo de presidente, o ainda vice Michel Temer já acena com uma pesada reforma trabalhista. Nessa toada, os brasileiros da base da pirâmide social já podem preparar a camiseta: “Mais Mises, menos direitos”.

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