02 Março 2016
O momento mais embaraçoso do depoimento cardeal Law, em Roma, ante a Royal Commision into Institutional Responses to Child Sexual Abuse foi quando admite ter sabido que um dos Christian Broders (“Irmãos Cristãos”) de Ballarat, Leo Fitzgerald, costumava nadar nu com os estudantes bacelarenses, e diz que ”a convicção geral” era que este comportamento “excêntrico” fosse bastante “harmless”, inócuo, acrescentando: “Era certamente não usual, mas ninguém nos disse que deveríamos fazer algo”.
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada por Corriere della Sera, 01-03-2016. A tradução é de Benno Dischinger.
São noites longas para o cardeal australiano George Pell, “ministro” da Economia do Vaticano. Das 22 às 24h, a partir do anoitecer de domingo, por “três ou quatro audições”, está depondo ante a Royal Commision into Institutional Responses to Child Sexual Abuse (a “Comissão Real sobre as respostas institucionais aos abusos sexuais sobre menores”) que o acusa, em substância, de ter encoberto, nos anos 70 e 80, sacerdotes responsáveis por abusos, permitindo que fossem transferidos de uma paróquia a outra, e de ter abafado os escândalos.
Acusações que o rastreiam há anos – Ballarat é sua cidade natal e sua primeira diocese – e ele sempre rejeitou. Pell fala em via vídeo do Hotel Quirinal de Roma, tendo na mesa uma Bíblia para prestar juramento, o tom pousado, uma premissa: “Não estou aqui para defender o indefensável. A Igreja cometeu erros enormes, mas está trabalhando para remediar”.
Às audições no hotel assiste um grupo de umas quinze vítimas guiadas pelo porta-voz do “Ballarat Survivors Group”, [Grupo de Sobreviventes de Ballarat], Andrew Collins: “Queremos olhá-lo nos olhos”. Tinham lançado em Rede uma coleta de fundos para chegar a 40 mil dólares e pagar-se a viagem, mas superaram os duzentos mil. Ontem de manhã o cardeal falou face a face com Francisco.
George Pell – primeiro em Ballarat, depois arcebispo de Melbourne e de Sydney – é, desde 2014, prefeito da Secretaria para a Economia. Uma das audiências periódicas que o Pontífice tem com os chefes de dicastério, se diz. Mas, é difícil que não se tenha falado da deposição. “Tenho o pleno apoio do Papa”, disse o cardeal na noitada, chegando ao hotel Quirinal.
De certo, aos 8 de junho, Pell completará 75 anos, a idade na qual os cardeais de Cúria são “levados” a apresentar renúncia ao próprio cargo. Em Ballarat, Pell era consultor do Bispo Mulkearns, um assoreador. O comportamento Mulkearns foi “uma catástrofe para a Igreja”, diz ele.
Mas Pell rejeita toda responsabilidade, embora admita ter dado fé aos acusados: “Naquele tempo, se um padre negava estes comportamentos, eu era fortemente inclinado a crer neles”, murmura. Existia o instinto de “proteger da vergonha a instituição”. A escutar está também David Ridsdale, abusado pelo tio, padre Gerard Ridsdale, o mais famigerado pedófilo australiano, agora em galera, com o qual Pell habitou por algum tempo. O cardeal assegura que não sabia e nega ter oferecido ao neto dinheiro para o seu silêncio. E diz querer encontrar as vítimas.
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Pedofilia, o face a face entre Pell e Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU