Por: André | 01 Março 2016
O cardeal George Pell reconheceu neste domingo que a Igreja católica “cometeu grandes erros” por permitir que padres violassem e acossassem sexualmente milhares de crianças durante séculos, ao dar seu testemunho perante uma comissão investigadora australiana durante uma audiência pública extraordinária realizada a poucas quadras de distância do Vaticano.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 29-02-2016. A tradução é de André Langer.
O cardeal australiano George Pell testemunhou por videoconferência em um hotel de Roma perante a Comissão Real em Sidney. Na primeira fila da sala de conferência encontravam-se 24 vítimas australianas de abusos sexuais e seus acompanhantes e que vieram deste país da Oceania para assistir ao testemunho de Pell, uma importante demonstração da prestação de contas dentro dos escândalos de abusos sexuais que afetaram a Igreja há muito tempo.
A principal advogada da comissão, Gail Furness, perguntou a Pell sobre os esforços atuais do Vaticano para enfrentar o escândalo, assim como sobre o seu passado na Austrália, inclusive sobre como agiu diante das denúncias de pedofilia quando foi educador, padre e assessor do ex-bispo de Ballarat, Ronald Mulkearns.
Pell afirmou desde o princípio: “Não estou aqui para defender o indefensável. A Igreja cometeu grandes erros e trabalha para remediá-los”. Segundo Pell, a Igreja “fez um desastre destas coisas e decepcionou pessoas” e por muito tempo descartou denúncias confiáveis de abusos “em circunstâncias absolutamente escandalosas”.
Pell descreveu a gestão de Mulkearns do caso de Gerald Ridsdale – o padre pedófilo mais tristemente famoso na Austrália – como uma “catástrofe para a Igreja” e insinuou que ele seria um candidato para um proposto tribunal do Vaticano com a finalidade de escutar os casos de bispos negligentes. Mas Pell reconheceu que também ele cometeu erros por acreditar com frequência nos padres e não nas vítimas que denunciavam os abusos.
“Devo dizer que naqueles dias, se um padre negava tal atividade, eu me inclinava firmemente a aceitar o desmentido”, afirmou.
É a terceira vez que o cardeal australiano, o principal assessor financeiro do Papa Francisco, testemunha sobre o escândalo de abusos sexuais, mas a atual rodada provocou grande atenção internacional por realizar-se próximo do Vaticano.
Encontraram-se na sala de conferência repórteres da Austrália, Estados Unidos, Itália e Grã-Bretanha, assim como padres radicados em Roma e membros da comunidade católica.
A comissão, que já realizou mais da metade da investigação autorizada pelo governo a um custo de 435 milhões de dólares australianos (300 milhões de dólares), aceitou que Pell testemunhasse de Roma, porque está muito doente para enfrentar uma viagem à Austrália.
Há duas semanas, a comissão também aceitou a participação pessoal de vítimas na conferência realizada em Roma a fim de recriar o tipo de audiência pública que Pell teria temido na Austrália.
David Ridsdale, que sofreu abusos sexuais durante quatro anos por parte de seu tio Gerald Ridsdale, disse que as vítimas concederam nos últimos dias mais de 100 entrevistas antes do testemunho de Pell, e se disse agradecido pelo fato de que o horror ocorrido em Ballarat finalmente foi reconhecido fora da Austrália.
Gerald Ridsdale está preso desde que foi condenado por múltiplas acusações de abusos sexuais.
A localidade profundamente católica do Estado de Vitória, na Austrália, ficou devastada após vir à tona que havia muitas vítimas, muitas das quais se suicidaram em diversos casos relacionados com pedofilia, uma situação que não se viu em nenhuma parte.
Mais de 40 pessoas, entre elas vítimas de abusos sexuais, reuniram-se no ajuntamento de Ballarat para ver o testemunho de Pell em três telas de TV.
Pell, que nasceu e cresceu em Ballarat, foi ordenado padre ali em 1966 e era consultor de Mulkearns, que transferiu Gerald Ridsdale de paróquia em paróquia durante anos.
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“Não estou aqui para defender o indefensável. A Igreja cometeu grandes erros e trabalha para remediá-los”, reconheceu o cardeal Pell em comissão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU