19 Fevereiro 2016
"A visita do papa provoca dois sentimentos opostos no México", observa Juan Pablo Villalobos, conhecido escritor de Guadalajara, autor, entre outros, de Il bambino che collezionava parole (Einaudi, 2012). "Por um lado, ela transmite força e solidariedade para um país que vive momentos difíceis. Mas também deixa a população cética, que vê nessa visita algo que foi planejado pelo governo para resgatar uma legitimidade perdida nos fatos. As pessoas acorrem, entram na fila. Mas sabem que tudo, depois que o pontífice partir, vai recomeçar como antes."
A reportagem é de Daniele Matrogiacomo, publicada no jornal La Repubblica, 18-02-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Mas Francisco vai deixar uma marca?
Eu gostaria de pensar assim. O México passa por um período dramático, e os gestos, embora simbólicos, não são capazes por si sós de mudá-lo. Precisamos de projetos, investimentos, estratégias. Esperança. Estamos cercados de morte, dor, violência e corrupção. É preciso uma revolta moral da parte saudável do México.
De que modo?
A degradação do meu país se deve ao narcotráfico. Mas não depende apenas do México. O problema é internacional. Os negócios mais importantes ocorrem nos EUA. O meu país se limita a ser um distribuidor.
Com os seus lucros.
Que acabam condicionando tudo e todos, governo, polícia, empresariado, administrações. A mesma informação. A batalha contra o narcotráfico está perdida. O México é, ao mesmo tempo, protagonista e vítima de um problema que envolve todo o mundo: pensar que ele pode resolvê-lo sozinho é ilusório e equivocado. O mercado vive sobre a oferta e sobre a demanda. Enquanto houver a primeira, vai existir a segunda.
O que você pensa da missa do Papa Francisco na fronteira entre EUA e México?
O papa faz bem em chamar a atenção para um tema que tinha sido esquecido. Milhares de centro-americanos, muitíssimos menores, tentam atravessar a fronteira todos os dias. A maioria desaparece, engolida pelo buraco negro dos traficantes e dos esquadrões da morte. Eu gostaria que essa missa fosse dirigida a Donald Trump. Eu não ouvi palavras de condenação sobre os seus propósitos de mandar todos os imigrantes de volta para casa.
Como você vê o futuro do México?
Ele não vai mudar enquanto o PRI (Partido Revolucionário Institucional) governar, um sistema corrupto que controla com os seus tentáculos a vida econômica e social do país. Ele está estrangulado, está sufocando.
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"Gestos simbólicos não vão mudar o México" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU