Por: Jonas | 18 Fevereiro 2016
Francisco preside a Missa em um local de feira de Ciudad Juárez, após ter rezado em silêncio contemplando, a poucos metros, a cerca que marca a fronteira com os Estados Unidos: “São irmãos e irmãs que saem expulsos pela pobreza e a violência, pelo narcotráfico e o crime organizado. Diante de tantos vazios legais, estende-se uma rede que sempre captura e destrói os mais pobres. Escravizados, sequestrados, extorquidos, muitos irmãos nossos são fruto do negócio do tráfico humano”.
Fonte: https://goo.gl/MUaPD2 |
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 17-02-2016. A tradução é do Cepat.
Primeiro, parou para rezar em silêncio pelos imigrantes, contemplando a cerca metálica que marca a fronteira entre México e Estados Unidos, a partir de uma plataforma com uma grande Cruz preta, diante da qual colocou um buquê de flores brancas. Ao pé da Cruz havia dois pares de sapatos brancos de imigrantes. Dali, enviou uma benção a todas as pessoas “do outro lado” do Rio Bravo, na cidade de El Paso (a cara texana de Ciudad Juárez). Muitas delas se reuniram na fronteira para ouvir suas palavras de alento. Em seguida, presidiu a Missa na área para feiras, com o altar a menos de 80 metros da fronteira, acompanhado por 230.000 pessoas. Durante a procissão, levava o báculo de madeira que recebeu de presente dos detidos do Cereso N. 3, da cidade. Também acompanharam a celebração outras 50.000 pessoas no estádio da Universidade do Texas em El Paso, mais conhecido como “Sun Bowl”. A viagem do Papa Francisco ao México se encerra em um dos lugares mais simbólicos da imigração no mundo, diante dessa barreira que muitos sonham atravessar, buscando um futuro melhor para si mesmos e para a própria família.
Recordando a narração bíblica de Jonas, que ajudou o povo a ter consciência sobre o seu pecado e que após o seu chamado encontrou homens e mulheres capazes de se arrepender e de chorar, o Papa disse na homilia: “Chorar pela injustiça, chorar pela degradação, chorar pela opressão. São as lágrimas que podem dar passagem à transformação, são as lágrimas que podem abrandar o coração, são as lágrimas que podem purificar o olhar e ajudar a ver o círculo de pecado no qual, muitas vezes, se está submergido. São as lágrimas que conseguem sensibilizar o olhar e a atitude endurecida e, especialmente, adormecida diante do sofrimento alheio. São as lágrimas que podem gerar uma ruptura capaz de nos abrir à conversão”.
“Que esta palavra – acrescentou – soe com força hoje entre nós, esta palavra é a voz que grita no deserto e nos convida à conversão. Neste Ano da Misericórdia, e neste lugar, quero com vocês implorar a misericórdia divina, quero pedir com vocês o dom das lágrimas, o dom da conversão”.
“Aqui, em Ciudad Juárez, assim como em outras regiões fronteiriças, recordou Francisco, “concentram-se milhares de imigrantes da América Central e de outros países, sem esquecer de tantos mexicanos que também tentam passar ‘para outro lado’. Um caminho carregado de terríveis injustiças: escravizados, sequestrados, extorquidos, muitos irmãos nossos são fruto do negócio de trânsito humano”.
Uma situação que não pode ser ignorada, não podemos fazer de conta que não a vemos: “Não podemos negar a crise humanitária que, nos últimos anos, significou a migração de milhares de pessoas, seja por trem, por rodovia e, inclusive, a pé, atravessando centenas de quilômetros por montanhas, desertos, caminhos inóspitos. Esta tragédia humana que a migração forçada representa hoje em dia é um fenômeno global”.
Uma crise que normalmente medimos por números, mas que nós “queremos medir por nomes, por histórias, por famílias. São irmãos e irmãs que saem expulsos pela pobreza e a violência, pelo narcotráfico e o crime organizado. Diante de tantos vazios legais, estende-se uma rede que sempre captura e destrói os mais pobres. Não só sofrem a pobreza, como também sofrem estas formas de violência”. E esta injustiça “se radicaliza nos jovens”, explicou o Papa. Os jovens, “como ‘carne de canhão’, são perseguidos e ameaçados quando procuram sair da espiral de violência e do inferno das drogas. E o que dizer de tantas mulheres a quem injustamente foi arrancada a vida!”, acrescentou, referindo-se aos feminicídios.
“Peçamos a nosso Deus – disse o Pontífice – o dom da conversão, o dom das lágrimas, peçamos para ter o coração aberto, assim como os ninivitas, ao seu chamado no rosto sofredor de tantos homens e mulheres. Não mais morte, nem exploração! Sempre há tempo para mudar, sempre há uma saída e uma oportunidade, sempre há tempo para implorar a misericórdia do Pai”.
E o Papa concluiu convidando para apreciar e reconhecer sinais positivos: “apostemos na conversão, há sinais que se tornam luz no caminho e anúncio de salvação. Sei do trabalho de tantas organizações da sociedade civil a favor dos direitos dos imigrantes. Sei também do trabalho comprometido de tantas irmãs religiosas, dos religiosos e sacerdotes, de leigos que se lançam no acompanhamento e na defesa da vida. Auxiliam na linha de frente, arriscando muitas vezes a sua própria vida. Com suas vidas, são profetas da misericórdia, são o coração compreensivo e os pés acompanhantes da Igreja que abre seus braços e ampara”.
Ao encerrar a homilia, o Papa Francisco se dirigiu a todas as pessoas, imigrantes ou não, que estavam acompanhando a Celebração “do outro lado”, com estas palavras: “Desejo aproveitar este momento para, daqui, cumprimentar nossos queridos irmãos e irmãs que nos acompanham simultaneamente do outro lado da fronteira, em especial aqueles que se reuniram no estádio da Universidade de El Paso, conhecido como Sun Bowl, sob a orientação de seu Bispo, Dom Mark Seitz. Graças à ajuda da tecnologia, podemos rezar, cantar e celebrar juntos esse amor misericordioso que o Senhor nos dá, o que nenhuma fronteira poderá nos impedir de compartilhar. Obrigado, irmãos e irmãs de El Paso, por nos fazer sentir uma só família e uma mesma comunidade cristã”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O grito do Papa pelos migrantes: “Não mais morte, nem exploração!” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU