O Cid Samuel Ruiz

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Por: Jonas | 15 Fevereiro 2016

O bispo Samuel Ruiz, que foi vexado e golpeado por alguns membros de sua própria igreja retorna à batalha, já morto. Francisco pediu para rezar a sós diante da imagem da Virgem de Guadalupe e diante da sepultura de dom Samuel. Quem quiser entender que entenda; as palavras sobram.

O comentário é de Diego Petersen, publicado por Criterio, 12-02-2016. A tradução é do Cepat.

O mesmo Papa que resgatou o teólogo silenciado por Ratzinger, Leonardo Boff, para torná-lo seu assessor na encíclica Laudato Si’ e que beatificou Oscar Arnulfo Romero, o bispo assassinado por denunciar a repressão do governo salvadorenho, vem ao México resgatar Samuel Ruiz do ostracismo ao qual foi condenado pela igreja católica mexicana.

Tatic” (pai bom em maia), como era chamado pelos fiéis indígenas em Chiapas, foi o grande impulsionador da pastoral indígena. Nunca foi um bispo liberal em termos morais, seu ethos ganajuatense o acompanhou por toda a vida, mas, sim, uma pessoa que após 30 anos como bispo de San Cristóbal, em Chiapas, entendeu que a pobreza, a marginalização e a diversidade cultural eram parte essencial da população a que servia. Falou pelos pobres, criou centros de atenção a violações de direitos humanos e capacitou e ordenou como diáconos moradores das áreas indígenas para desenvolver uma pastoral na língua dos moradores.

Após o levante zapatista, foi apontado pelo governo mexicano como gerador de uma “teologia da violência”, sendo acusado de ser o líder da guerrilha, de introduzir armas e até de marxista, o que nunca foi, mas a apelação, é claro, era usada como desqualificação. O então núncio apostólico, Girolamo Priggione, encarregou-se de fazer o trabalho sujo para o Estado mexicano: desautorizar e anular o bispo que denunciava as atrocidades no sul do México.

A hierarquia católica se encarregou de desbaratar, pouco a pouco, o trabalho pastoral em Chiapas. O resultado foi o aceleramento da perda de fiéis católicos nesse estado. Dos 92% da população declarada católica no censo de 1960, quando Samuel Ruiz chegou a San Cristóbal, passou para 68%, em 1990.

Após o conflito zapatista e a desarticulação da pastoral indígena, aumentou-se a conversão para outras religiões. O catolicismo havia caído para 58%, em 2010, com corredores completos de municípios na fronteira com a Guatemala, onde os católicos já são minoria. Hoje, o número pode estar abaixo de 55% (Regiões e religiões no México, Alberto Hernández e Carolina Rivera coordenadores e INEGI).

A reivindicação de Samuel Ruiz é a mensagem mais forte do Papa Francisco, antes de pisar em território mexicano. Como o Cid campeador, Tatic retorna como estandarte de novas batalhas.

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