11 Fevereiro 2016
Se as pessoas o esperam de braços abertos, as hierarquias não escondem o nervosismo. Os políticos estão nervosos porque Francisco vai visitar periferias onde milhões de deserdados sobrevivem no abandono da violência: narcotraficantes, gangues criminosas, degradação dos barracos que já são verdadeiras cidades ao redor das cidades.
A reportagem é de Maurizio Chierici, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 09-02-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Ele vai subir para o Chiapas governado pelo punho de ferro dos grupos no poder. "Para garantir a segurança", eles expropriam as terras e dispersam os indígenas "indignos da sociedade civil".
O subcomandante Marcos os reuniu na utopia de uma revolução impossível. Dois anos atrás, ele mudou de nome, e ninguém sabe que rosto ele tem. Na catedral de San Cristóbal de Las Casas, sobre o túmulo de D. Samuel Ruiz Garcia, quando Francisco lembrar a sua coragem, confundido entre a multidão, talvez Marcos estará lá para ouvi-lo. Ruíz escandalizava as hierarquias da Igreja mexicana não só por estar do lado dos desesperados, mas por rezar a missa nas três línguas indígenas, recomendação do Concílio Vaticano II.
As milícias armadas pelos latifundiários não o suportavam. Catedral sitiada. O núncio apostólico, Dom Prigione, também rejeita a solidariedade do L'Osservatore Romano: "Ruíz em perigo como Romero assassinado em El Salvador? Bobagem. O L'Osservatore não é a voz do Vaticano. É só um jornal católico como tantos outros...".
Agora, Francisco vai rezar a missa nas três línguas, e o desconforto vai confundir o clero conservador sintonizado com os ministros anticlericais nos 74 anos de governo.
Mas as tramas permanecem ambíguas. Bispos e políticos ligados por interesses financeiros. Purpurados compreensivos com a pedofilia muito conhecida de Marcial Maciel Delgado, fundador dos Legionários de Cristo, profeta do integralismo exportado para Roma e para o mundo até que João Paulo II o obrigou a vida retirada de "oração e penitência".
A distração da Igreja mexicana atravessa os anos, respeitando as amizades. Ela não se dá conta da doce vida de Dom Guillermo Schulenburg, abade do Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, colecionador de Mercedes, campeão nacional de golfe: alugava nichos escavados debaixo do altar para quem pagasse preços inacreditáveis para a vida eterna entre as relíquias.
Um suspiro de Guzmán Carriquiry, leigo, amigo de Francisco e secretário-geral da Pontifícia Comissão para a América Latina: "A Igreja mexicana não pode continuar vivendo de renda do patrimônio recebido".
Também estão nervosos os políticos, apesar de exibirem contentamento, "honrados com a grande honra". Eles abrem as portas do palácio presidencial não dissolvendo a dúvida sobre se a solenidade de acolhida diz respeito ao líder espiritual dos católicos ou ao chefe do Estado vaticano. Chefe de estado, insistem os governadores das regiões limítrofes.
Nada de saída livre das escolas. Os jovens não vão ouvir as suas palavras, porque a Constituição não permite isso. Mas é o itinerário da visita que preocupa o presidente Peña Nieto e os seus yes-men. Francisco não vai visitar só os lugares tópicos da tradição. Ele também vai atravessar cidades que a oficialidade esconde nas sombras. Regiões controladas com a violência que, em Ayotzinapa, queima os ônibus dos estudantes a caminho para um pacífico congresso dos descontentes. Alguns escapam, alguns desaparece na floresta.
Depois, Ciudad Juárez, capital do feminicídio; Ecatepec, chaga urbana ao redor da Cidade do México, principalmente o Chiapas dos indígenas pisoteados: com Guerrero e Yucatán, fecha-se o triângulo do esquecimento. Cemitérios onde os políticos da capital descem apenas para acender a vela. Se Francisco a acender, algo vai mudar?
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Francisco no México: acolhida entre o povo, nervosismo entre a hierarquia e os políticos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU