15 Dezembro 2015
O enfraquecimento das manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff neste domingo (13) deve-se, pelo menos parcialmente, ao entendimento de parcela da sociedade sobre os interesses em jogo, em torno de uma eventual queda do governo, e quais seriam os atores políticos vitoriosos com isso, a começar pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e o vice-presidente Michel Temer, ambos do PMDB, além do PSDB, de Aécio Neves, em bloco.
A reportagem é de Eduardo Maretti, publicada por RBA, 14-12-2015.
“Sem dúvida, o esvaziamento dos movimentos de ontem tem a ver, em parte, com a percepção de quais são os beneficiários do processo de impeachment. Não dá para se fazer um discurso de que o impeachment é contra a corrupção vendo quais são os atores envolvidos nisso”, avalia o cientista político Vitor Marchetti, da Universidade Federal do ABC. “Num processo de impeachment, você pensa qual vai ser a coalizão do dia seguinte. E olhar para o dia seguinte de um processo de impeachment nesse caso talvez seja um fator de desmobilização”, diz o professor.
Para Marchetti, porém, há outros fatores a não ser a perda de credibilidade decorrente dos atores políticos. Por exemplo, o fato de já ter decorrido praticamente um ano de governo, o que torna os custos de um impeachment muito caros e os resultados imprevisíveis.
“Uma parcela da população acredita que, se o governo cai, isso pode ser benéfico para a economia. Mas há outros atores econômicos que têm sinalizado para uma direção que é a necessidade de acabar com o cenário de incerteza, o que tem potencial mais benéfico para o crescimento econômico”, analisa Marchetti. “Nesse sentido, a tese contra o impeachment elimina essa incerteza com mais rapidez do que a do impeachment”.
Na opinião do professor da UFABC, pode haver também uma ponderação no interior da sociedade sobre o day after e as lutas políticas, com a instauração de um clima que a muitos não interessa. “Com impeachment, você estaria tirando do poder um partido que tem enraizamento social. Como os movimentos sociais vão se comportar? Qual o impacto que isso vai ter na mobilização política do país? Também politicamente, há muito mais elementos de incerteza no impeachment do que contra o impeachment.”
Antes das manifestações de domingo, na sexta-feira (11), o deputado federal Júlio Delgado (PSB-MG) questionou qual seria hoje o apoio da sociedade ao PSDB e aos defensores do impedimento. “Precisa ver qual o objetivo do PSDB, e se a sociedade não está vendo o impeachment como um ato de ascensão de quem tem interesse direto nisso, que é o caso do Eduardo Cunha (PMDB-RJ). E de Michel Temer, que é presidente do partido dele”, avaliou o deputado.
Para o cientista político Francisco Fonseca, da Fundação Getúlio Vargas, a defesa do impedimento de Dilma é comprometida pelo presidente da Câmara. “Certamente, a figura do Eduardo Cunha como homem do impeachment – com processos na Justiça e na iminência de ser cassado ou preso – desmoraliza todo o processo”.
Mas Fonseca também acredita em outros motivos para as manifestações contra Dilma terem diminuído consideravelmente. “Há também um certo esgotamento desse massacre midiático que protege o PSDB. No caso das escolas de São Paulo, isso impactou milhões de pessoas. De certa maneira estamos vivendo uma certa exaustão desse samba de uma nota só”.
Na opinião de Fonseca, a figura de Cunha, que revela à sociedade interesses obscuros no impeachment, e o esgotamento do “massacre midiático” se aliam a outro fator: “Está cada vez ficando mais claro à sociedade que se trata de uma crise do sistema político com um todo, e não de um governo, embora a ira ainda seja em relação ao PT”.
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Para analistas, interesses de Cunha, Temer e PSDB esvaziaram protestos contra Dilma - Instituto Humanitas Unisinos - IHU