Por: André | 14 Dezembro 2015
Bernard-Henri Lévyfoi recebido no Vaticano para preparar o 50º aniversário da Declaração Nostra Aetate. O Papa Francisco causou-lhe boa impressão.
Fonte: http://bit.ly/21TTM4K |
A entrevista é publicada por Le Point.fr, 11-12-2015. A tradução é de André Langer.
Eis a entrevista.
Em que oportunidade você encontrou o Papa Francisco?
Veja. O mundo, felizmente, não se limita às nossas eleições regionais. Há outros problemas, outros desafios, além de saber se a família Le Pen se apoderará, ou não, de algumas das nossas regiões. Eu estive no Vaticano para preparar um grande encontro que acontecerá no dia 16 de dezembro próximo, na sede das Nações Unidas em Nova York, pelo 50º aniversário da Declaração Nostra Aetate que marcou, como você sabe, o fim do ódio cristão do judaísmo.
Por que o Vaticano?
Porque ele é, junto com o Memorial de Yad Vashem e com as grandes organizações judaicas americanas, um dos organizadores deste evento de Nova York. Eu serei um dos relatores. Eu me encontrei com o rabino inglês David Rosen e o americano Michael Landau para uma espécie de reunião de trabalho para estabelecer o método e os objetivos deste importante encontro. Tivemos uma longa reunião com Pietro Parolin, o cardeal que é também o secretário de Estado do Vaticano, com outras palavras, o número dois. E, antes disso, nos encontramos para combinar a etapa e, também, para lhe apresentar uma pasta com os selos editados, para a ocasião, pelo Vaticano e pelo Yad Vashem, uma audiência muito comovente com o próprio Papa.
Você aparece em um desses selos...
Sim. São doze. Eles têm a finalidade de fixar, acredito eu, momentos da longa, mas segura reconciliação entre judeus e cristãos. E, em um desses 12 selos há uma imagem que eu conheci e onde posso ser visto, há 20 anos, com o Papa João Paulo II, a quem eu apresentei o presidente da Bósnia, Alija Izetbegovic.
Que impressão teve do Papa Francisco?
Isso, talvez, seja surpreendente para alguém tão pouco religioso como eu e, sobretudo, tão profundamente judaico. Mas a impressão dominante é a de uma grande santidade. O homem tem conhecimento das coisas que acontecem no mundo. Está informado sobre a atualidade mais candente. Está atento, inclusive, aos últimos sobressaltos da cena política francesa. Ele é, assim como também era João Paulo II, poderosamente encarnado. Mas o que domina nesse corpo grande e robusto, atrás de seu sorriso fácil e suas risadas espontâneas, é a impressão de que não está totalmente aqui e de ser, em todo o caso, maior, bem maior, que este ser de carne e osso que o visitante tem diante dos seus olhos.
Sobre o que vocês falaram?
Foi rápido. Mas com ele nenhum assunto era tabu, nem mesmo o Estado Islâmico ou estes políticos que recorrem abusivamente aos valores cristãos. Eu o perguntei, também, sobre uma frase engraçada que ele disse, em uma entrevista recente na Espanha, onde ele diz que, quando reza e recita um salmo, ele o faz por parte “em judeu”. Mas a impressão dominante, eu o repito, era a de um ser não totalmente presente, não completamente deste mundo, estando uma parte dele do lado dos anjos.
Nesse tempo “religiosamente atormentado”, que objetivos podem unir judeus e cristãos?
A luta comum contra aquilo que Sigmund Freud chamou de “maré negra do ocultismo”. Falando claramente, os jihadistas de um lado e, do outro, os semi-gêmeos dos partidos populistas, até mesmo fascistas, europeus. Nesses dois combates, e em outros, judeus e católicos andam, mais do que nunca, lado a lado. De resto, vou lhe fazer uma confissão. Você via três judeus. E mesmo, no caso dos amigos que me acompanham, judeus ortodoxos. Ora, nós passamos o dia passeando pelos porões do Vaticano, suas capelas, suas “escadas da morte”, seus diversos e variados lugares de poder. Nós fomos do escritório de tal cardeal ao salão onde encontramos tal outro. Ora, nós nunca tivemos, nem Rosen, nem Landau, nem eu, o sentimento de nos encontrarmos – como dizer? – em terra estrangeira...
O diálogo inter-religioso ainda é útil em tempos do materialismo triunfante?
Sim. E eu quero dar-lhe imediatamente um exemplo muito concreto. Os cristãos do Oriente e, em particular, o mosteiro de Mar Mattai, quase na linha de frente com o Estado Islâmico, ao qual consagrei um artigo há algumas semanas. Bem, eu dei ao Papa, traduzido para o espanhol, uma cópia desta matéria. Mais fotos, comoventes, que eu tirei desses quatro últimos monges que se recusaram a fugir e que serão, talvez, um dia, queira Deus que não, futuros monges de Tibhirine. Bem, eu não posso lhe dizer mais no momento, mas se esses quatro monges estão a salvo e, com eles, esse mosteiro que data dos primeiros séculos do cristianismo, talvez se deva a esse diálogo judeu-católico...
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“Emerge do Papa uma grande santidade”. Entrevista com Bernard-Henri Lévy - Instituto Humanitas Unisinos - IHU