Por: Jonas | 12 Novembro 2015
“Qual está sendo a estratégia de reinvenção da direita latino-americana, nestes países (latino-americanos), após tantos anos de derrota? O que pensam para recuperar o terreno perdido? Cruzar os braços? Não. A direita nunca foi de jogar a toalha. Por isso, procura vencer esta briga no terreno fora das melhorias sociais e econômicas. Então, aposta em disputar o sentido do que falta fazer, do que está por vir. Sabedora de que perde em cada discussão acerca do passado e presente, então, a chave encontrada é brigar pelo futuro, pelas expectativas, pelas perspectivas de continuar melhorando, pelas sensações do que está por vir. Aí se concentra boa parte da maquinaria eleitoral da direita continental”, escreve o economista Alfredo Serrano Mancilla, em artigo publicado pelo Centro Estratégico Latino-Americano de Geopolítica, 08-11-2015. A tradução é do Cepat.
Eis o artigo.
As tentativas de restauração conservadora levam em conta vencer a batalha das expectativas. Isto é tão importante como vencer no campo das transformações reais. Tudo é política. O que acontece e o que imaginamos; o que é e o que pode ser. A direita regional opositora não soube vencer eleições, até esse momento do século XXI, naqueles países que optaram por um caminho contra-hegemônico em nível mundial. Nem na Venezuela, Brasil, Argentina, Equador, Bolívia, em nenhum desses processos, a oposição conseguiu vencer nas urnas. A política efetiva de mudanças materiais nas condições de vida em favor da maioria se impôs frente a qualquer relato de catástrofe. Os meios de comunicação dominantes tentaram isto com sua narrativa “à beira do precipício”, com esse tão insistente “tudo está ruim”. E até o momento, a colheita é infrutuosa. Perdem e voltam a perder. Porém, não desistem da tentativa.
Os diferentes processos de mudança atravessaram e superaram infinitas dificuldades no passado; foram capazes de concretizar eficazmente políticas públicas garantidoras de direitos sociais, recuperando a soberania nos setores estratégicos, melhorando os níveis de vida das classes populares. Souberam construir condições objetivas de modo inclusivo, sem deixar ninguém de fora. Frente a isso, a direita latino-americana parecia perdida. Foram se esgotando suas manchetes alarmistas e seus anúncios de uma hecatombe após outra. Nas ruas, as pessoas seguiam com sua rotina; sempre um pouco melhor, com as necessidades básicas cada vez mais satisfeitas, com emprego e salário digno, com níveis de consumo mais elevados.
Qual está sendo a estratégia de reinvenção da direita latino-americana, nestes países, após tantos anos de derrota? O que pensam para recuperar o terreno perdido? Cruzar os braços? Não. A direita nunca foi de jogar a toalha. Por isso, procura vencer esta briga no terreno fora das melhorias sociais e econômicas. Então, aposta em disputar o sentido do que falta fazer, do que está por vir. Sabedora de que perde em cada discussão acerca do passado e presente, então, a chave encontrada é brigar pelo futuro, pelas expectativas, pelas perspectivas de continuar melhorando, pelas sensações do que está por vir. Aí se concentra boa parte da maquinaria eleitoral da direita continental. O fim do ciclo é talvez o lema mais repetido na Argentina, Brasil e Venezuela (os três países com mais anos de vida), justamente com o objetivo de colocar ponto final nas expectativas e esperanças.
Após mais de uma década, o desgaste começa a ter um pouco de resultado. A queda de preços do petróleo, a contração do comércio mundial e o estrangulamento financeiro internacional constituem, além disso, uma frente externa adversa que acrescenta obstáculos para este momento histórico. Certamente, cada vez são mais notórias as tensões e contradições internas próprias de qualquer processo de mudança, em tão alta velocidade. A progressiva naturalização daquilo que foi conquistado pode ser que também seja outro fator determinante nesta fase de ‘sonho apequenado’ na qual nos encontramos.
Em tais circunstâncias, o inimigo histórico, hegemônico em nível global e com forças políticas-midiáticas-econômicas, dentro de cada país, esfrega as mãos. Cresce. Acredita que volta a surgir outra oportunidade para dar seu golpe de timão. A isto se soma dois assuntos cruciais nesta disputa: por um lado, o ‘atirar pedras’ daqueles crentes de que “se pode mudar tudo de um dia para outro, caso contrário, tudo está ruim”; por outro lado, também não faltam os que aparecem na foto somente quando as coisas vão bem. E quando se revira, então, o ‘jogar a toalha’ se apodera daqueles que sempre se dão por vencidos antecipadamente. Eis aqui a questão. O ‘jogar a toalha’: uma espécie de enfermidade que gera perdedores e derrotismo, que provoca paralisia. Com ele, corre-se o risco de acreditar que tudo está perdido, de entrar em um pessimismo crônico e de que, então, venham as críticas destrutivas e se esvaneça a vontade de continuar lutando. Proliferando, o ‘jogar a toalha’ nos condenaria a uma derrota política.
Os momentos espinhosos são para isso, para ser superados. Para não jogar a toalha. Para aprender com os erros cometidos. Para enfrentar os desafios vindouros: encontrar a saída interna não neoliberal frente à restrição externa, fazer com que o Estado seja mais efetivo, criar condições sociais e econômicas para a não negociabilidade dos direitos sociais, buscar superar o rentismo importador, transformar e democratizar o aparato produtivo, continuar avançando na integração regional. Por que não criar uma agência de qualificação de risco latino-americana, buscar identificar novas respostas às novas perguntas das maiorias, ser capazes de sonhar reinventando-se para frente (?). Como disse García Linera, “trata-se de tensões próprias de processos revolucionários que precisam enfrentar problemas, contradições e novas lutas não previstas, nem planejadas com antecedência, porque assim são as verdadeiras revoluções”.
Tudo isso constitui o atual universo em disputa na América Latina. Muitas questões sobre a mesa para que se jogue a toalha. Se ao ‘jogar pedra’ se somar o ‘jogar a toalha’, então, a direita tem tudo para vencer. Render-se agora seria um erro histórico imperdoável.
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Não ao ‘jogar a toalha’ na América Latina - Instituto Humanitas Unisinos - IHU