08 Outubro 2015
"Um olhar atento para a vida cotidiana dos homens e das mulheres de hoje mostra imediatamente a necessidade que há em todas as partes de uma robusta injeção de espírito familiar. De fato, o estilo das relações – civis, econômicas, jurídicas, profissionais, de cidadania – parece ser muito racional, formal, organizado, mas também muito 'desidratado', árido, anônimo. Às vezes torna-se insuportável. Embora querendo ser inclusivo nas suas formas, na realidade, abandona à solidão e ao descarte um número cada vez maior de pessoas."
A reportagem é de Luciano Moia, publicada no sítio do jornal Avvenire, 07-10-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Isso foi dito pelo papa na costumeira Audiência Geral dessa quarta-feira, acrescentando que "a família introduz à necessidade dos laços de fidelidade, sinceridade, confiança, cooperação, respeito; encoraja a projetar um mundo habitável e a acreditar nas relações de confiança, mesmo em condições difíceis; ensina a honrar a palavra dada, o respeito pelas pessoas individuais, a partilha dos limites pessoais e alheios". Uma reflexão que fala diretamente ao tema do debate sinodal.
E agora que o trabalho dos chamados "círculos menores" – os grupos linguísticos formados por cerca de 30 Padres sinodais – também já entrou em funcionamento, começa-se a se delinear com clareza o perfil deste Sínodo.
Um acontecimento eclesial que tem dois grandes pontos de referência. Atrás, o Vaticano II. À frente, o Ano Jubilar da Misericórdia. Isto é, um acontecimento que se alimenta acima de tudo de acolhida, fraternidade e esperança. Que, traduzido nas palavras do Papa Francisco, significa "derrubar muros e construir pontes".
Isso foi reiterado explicitamente, embora com diversidade de ênfases, pelos Padres sinodais, durante a coletiva de imprensa da manhã dessa quarta-feira e foi explicado com maiores detalhes também pelo secretário especial do Sínodo, o arcebispo Bruno Forte, de Chieti-Vasto, na Itália: "Parece-me que esse Sínodo em duas etapas e com a fase intermediária que também envolveu fortemente as Igrejas locais, assim como a fase preparatória com o questionário, é um exercício muito alto de participação da Igreja".
Para Forte, no debate, "cada um traz a própria contribuição para o bem de todos. É a Igreja do Vaticano II, que ganha forma através de uma estrutura, a do Sínodo, que é filha do espírito conciliar".
Um perfil que aparece com clareza ainda maior no debate dos "círculos menores". "Uma coisa – explicou Forte – é uma assembleia de 270 Padres mais uma centena de auditores e especialistas; outra coisa é um círculo em que cerca de 30 Padres podem – com alguns auditores e especialistas – compartilhar e refletir juntos sobre alguns pontos".
Uma dinâmica expressamente desejada por Francisco como "um exercício efetivo de participação favorecida e encorajada", observou ainda o arcebispo Forte. "Nisso – concluiu – há muita democracia, no sentido de que cada círculo escolhe o seu próprio moderador, que tem a tarefa de dar a palavra, coordenar o trabalho, e um relator próprio, isto é, alguém que faça a síntese de todas as ideias que surgiram – possivelmente compartilhando-as com todo o grupo – e, depois, as apresenta na Aula. O trabalho dos círculos é efetivamente canalizado para uma comunicação para toda a Assembleia sinodal: isso é muito importante. Assim, o trabalho feito em pequenos grupos, de fato, reflui para o trabalho colegial de toda a Assembleia sinodal."
Nessa quarta-feira, o trabalho dos Padres sinodais foi inteiramente absorvido nos "círculos menores", porque não estavam previstas congregações gerais. "Como o papa nos pediu, trabalhamos em total liberdade e ouvimos em total humildade", assegurou o presidente dos bispos do Peru, Salvador Piñeiro García Calderón.
Por sua parte, o bispo francês Laurent Ulrich lembrou que o pontífice pediu que os Padres sinodais "sejam atentos e salvaguardem a serenidade. Nós trabalhamos em um projeto comum".
Como em todas as grandes assembleias eclesiais, porém, também há aqueles que balançam a cabeça. Como o arcebispo da Filadélfia, Charles Chaput, que durante a coletiva de imprensa, expressou preocupação, "porque o Instrumentum laboris não representa a realidade das Igrejas locais. Ele tem uma visão muito ocidental".
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Espírito familiar para um mundo anônimo: a indicação de Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU