20 Setembro 2015
A dois anos da eleição ao sólio pontifício e a poucas semanas da abertura do Sínodo sobre a família, a revista italiana MicroMega, n. 6, setembro de 2015, dedica um volume inteiro ao Papa Francisco. Atacado pelos setores mais tradicionalistas da Cúria, Bergoglio é defendido pelos mais abertos e cada vez mais também pela área da "dissidência". Mas é uma verdadeira revolução? Quanto na obra do papa "qui sibi nomen imposuit Fransciscum" é pura maquiagem e quanto, ao contrário, Bergoglio está realmente pondo em discussão a solidez de um sistema que parecia intocável? De fato, se sobre algumas questões a intervenção de Francisco parece mais decidida, sobre outras – especialmente as ligadas à moral familiar e aos direitos civis – o seu pontificado parece estar em continuidade substancial com os anteriores.
Vários componentes da Igreja – freiras, párocos, teólogos, bispos, jornalistas, simples fiéis – refletem sobre isso nesta edição, respondendo às seguintes perguntas da MicroMega.
A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis as perguntas.
1. O papa se propôs a renovar profundamente as estruturas de poder financeiras e da Cúria. Em uma frente como na outra, porém, apesar de diversos sinais de "boa vontade", ainda não parece ter havido mudanças realmente relevantes. Como você avalia a ação desse pontífice ao intervir concretamente, nas nomeações como nas reformas, nas contradições que ainda caracterizam a estrutura eclesiástica?
2. Muitos teólogos, intelectuais, padres e religiosos da Igreja conciliar e progressista assinaram, há alguns meses, um abaixo-assinado para defender o papa dos ataques feitos, na opinião deles, por renomados expoentes e poderes da conservação que atuam contra Francisco em nível eclesial assim como na esfera mundana. Se é verdade que o estilo de Francisco é indigesto para o setor mais tradicionalista das hierarquias, no entanto, não seria um ato de coerência por parte desse papa a reabilitação de todos aqueles que, de formas diversas, sofreram a censura, a marginalização, até mesmo a sanção canônica por parte da Igreja sob os pontificados de João Paulo II e Bento XVI?
3. O Sínodo ainda não se expressou sobre nenhuma das questões cruciais que dizem respeito à família, aos divorciados recasados, às uniões gays. E é evidente que as resistências à renovação que se manifestaram, às vezes de modo majoritário, na primeira fase desempenharão um papel de freio na segunda. Você não acredita que o papa poderia se expressar através de uma encíclica (analogamente ao que Paulo VI fez com a Humanae vitae, mas em direção evidentemente diferente) sobre temáticas que já se tornaram de urgência prepotente?
4. A luta pelas posições de renda e pelos privilégios eclesiásticos, que Francisco, com diversas declarações, mostrou querer assumir não deveria ser acompanhada por atos concretos, como a renúncia de alguns dos inúmeros privilégios concordatários de que gozam a Igreja e o Vaticano na Itália? Por exemplo, o "8 por mil" [parcela do imposto de renda italiano direcionado às confissões religiosas], a isenção ou a redução de alguns impostos, as rendas decorrentes das especulações imobiliárias (especialmente na emergência habitacional e na da acolhida de sem-teto e migrantes que caracterizam a nossa época)...
5. Em relação ao papel dos leigos e das mulheres na Igreja, em que você vê mudanças visíveis e reais na ação deste pontificado? É possível que o sacerdócio feminino continue sendo um tabu, uma recusa encouraçada, justamente enquanto a Igreja Anglicana, a menos distante da Igreja Católica entre as Igrejas reformadas, consagrou uma mulher até mesmo como bispo?
6. Como você avalia o episódio ocorrido há alguns meses sob este pontificado da excomunhão de Martha Heizer, presidente do Nós Somos Igreja Internacional, e do seu marido, Gert, por ter celebrado a Eucaristia na própria casa, junto com a sua comunidade, mas sem a presença de um padre? Não teria sido oportuno que o papa que prega uma Igreja aberta, tolerante, inclusiva, parasse esse procedimento, também em consideração do fato de que o Nós Somos Igreja está na vanguarda em muitos países do mundo sobre temas "espinhosos" e atuais como o celibato presbiteral, o sacerdócio feminino, a colegialidade, os divorciados recasados, os gays, a pobreza, o combate à pedofilia no clero?
7. A propósito do tema da pedofilia na Igreja, além do justo e sacrossanto combate aos padres pedófilos e ao seu afastamento e denúncia às autoridades civis (que, porém, na Itália, a Conferência Episcopal Italiana não tornou obrigatória para os bispos), não seria necessário um profundo repensamento da formação dos padres e da instituição do seminário? Nessa frente, você considera que o papa está agindo ou irá agir no futuro próximo?
8. O Papa Francisco declarou repetidamente que quer dialogar com o mundo ateu sem a intenção de "proselitismo" e que quer respeitar as regras da democracia pluralista. Como se conciliam essas afirmações com a reiterada pretensão de que as leis dos Estados soberanos, que dizem respeito a todos os cidadãos, devam continuar sendo modeladas sobre a moral da Igreja Católica em questões cruciais como a eutanásia, quando até mesmo no seio da Igreja vozes muito autorizadas (por último, Hans Küng) apoiaram a legalidade da eutanásia e, em alguns casos, até mesmo o seu caráter peculiarmente cristão?
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Oito perguntas sobre o Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU