Por: Jonas | 19 Agosto 2015
“O financiamento empresarial de campanhas é pai e mãe da corrupção. E não falo apenas da corrupção do desvio do erário, mas da corrupção de sonhos e ideais. Ou será que alguém acredita que um empresário doe R$ 400 ou R$ 500 mil reais para a campanha de um político porque deseja um país melhor? Claro que não. O empresário faz investimentos e espera retorno, pois essa é a natureza do capital. E esse retorno quase sempre fere de morte o interesse dos trabalhadores e das trabalhadoras”, escreve Robson Leite, funcionário concursado da Petrobras, escritor, professor e ex-deputado estadual pelo PT do Rio, de 2011 a janeiro de 2014, em artigo publicado por Correio do Brasil, 18-08-2015.
Eis o artigo.
Na noite da ultima quarta-feira, a Câmara Federal conseguiu a proeza de retroceder ainda mais no caminhar dessa “nova” legislatura: aprovou em segundo turno a institucionalização do financiamento empresarial nas campanhas políticas. Uma triste e lamentável iniciativa que eu apelidei de “deforma” política e que bate de frente com os anseios da sociedade em resolver a atual crise de representatividade existente nas casas legislativas do Brasil.
O financiamento empresarial de campanhas é pai e mãe da corrupção. E não falo apenas da corrupção do desvio do erário, mas da corrupção de sonhos e ideais. Ou será que alguém acredita que um empresário doe R$ 400 ou R$ 500 mil reais para a campanha de um político porque deseja um país melhor? Claro que não. O empresário faz investimentos e espera retorno, pois essa é a natureza do capital. E esse retorno quase sempre fere de morte o interesse dos trabalhadores e das trabalhadoras.
Um terrível e concreto exemplo foi o valor total doado pelos planos de saúde privado em 2014: R$ 54 milhões superando em mais de 250% o valor doado para campanhas pelas empresas privadas de saúde em 2010. Pergunto: essas empresas da área privada de saúde doaram com qual objetivo? Certamente não foi para fortalecer o SUS.
O grande mal do nosso país que deforma e macula a nossa democracia é o financiamento privado de campanhas. E falo isso depois de ter vivido um mandato parlamentar, cujos frutos muito me orgulho tais como o ficha-limpa para o Tribunal de Contas e as férias de janeiro para os professores, mas que, infelizmente, não obtivemos êxito eleitoral em função exatamente da brutal desproporção causada pelo financiamento empresarial de campanhas nas disputas eleitorais.
Espero ansiosamente que o Senado, casa revisora desse projeto que nasceu completamente torto e equivocado na Câmara, rejeite a inclusão institucional e definitiva do financiamento empresarial de campanhas na estrutura política brasileira. Só nos resta agora pressionar os Senadores para que “os negócios” não sejam misturados com a política. Caso contrário, correremos o sério risco de ver a terrível e “oficializada” transformação dos nossos parlamentares em ferozes lobistas do capital privado.
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A ‘deforma’ política - Instituto Humanitas Unisinos - IHU