05 Agosto 2015
Junto ao repórter, morreram 4 mulheres, entre elas a ativista e antropóloga Vera Pérez; todos levaram tiro na cabeça e há indícios de estupro e tortura.
A reportagem foi publicada por OperaMundi, 03-08-2015.
Rúben Espinosa, de 31 anos, tornou-se o 14º repórter do estado mexicano de Veracruz a morrer desde 2010, quando o governador Javier Duarte assumiu o poder. Apesar de ter se exilado na Cidade do México após ter recebido ameaças, Espinosa foi morto com um tiro de uma pistola nove milímetros na cabeça e outro no peito, quando estava na residência de uma amiga, Nádia Vera Pérez, de 32 anos. Ela morreu junto com Espinosa e outras três mulheres, cujas identidades são desconhecidas.
A Promotoria não identificou as mulheres assassinadas com nome, disse apenas que tinham 18, 29, 32 e 40 anos. A revista Proceso averiguou, no entanto, Vera Pérez, é de Chiapas, ativista, antropóloga, integrante da Assembleia Estudantil de Xalapa e do movimento #YoSoy132. Outra vítima, seria, segundo a imprensa, Yesenia Quiroz Alfaro, maquiadora e originária de Baixa Califórnia. A mulher de 40 anos seria a trabalhadora doméstica da residência e a outra jovem, seria uma colombiana, dado que não foi confirmado pelo governo colombiano até o momento.
A imprensa mexicana relata que as mulheres teriam sido agredidas física e sexualmente antes de morrerem e que Espinosa teria sido torturado.
Veja trecho da entrevista concedida por Vera Pérez no final de 2014, na qual critica a morte de jornalistas em Veracruz sem que nada tenha sido feito para resolver os casos ou impedir novos assassinatos (em espanhol):
O assassinato múltiplo ocorrido na última sexta-feira (31/07) sensibilizou a sociedade mexicana. Neste domingo (02/08), foram realizados protestos em diversos locais do país contra a violência e a favor da liberdade de expressão.
Manifestantes portavam cartazes com dizeres como “Renuncie Javier Duarte!” e “Foi o Estado: #JustiçaParaRubén”.
Agência Efe. Manifestantes se mobilizaram em diversas cidades em todo o México em solidariedade aos mortos
De acordo com o diretor da agência mexicana de fotojornalismo Cuartoscuro, uma das empresas para as quais Espinosa colaborava, Pedro Valtierra, “Rubén não cobria temas de segurança ou de crime organizado. Mas trabalhava nos protestos sociais. Além disso, desde os primeiros assassinatos de colegas, participou ativamente das mobilizações de jornalistas para exigir justiça. Tinha se tornado um fotografo incômodo para o governo. Nos últimos tempos não o deixavam sequer entrar nos eventos oficiais”, como disse em declarações ao jornal El País.
Javier Duarte
Espinosa, que também trabalhava para a revista mexicana Proceso, fotografara o governador para a capa da publicação, na qual Duarte aparece em primeiro plano, de perfil, camisa branca, quepe azul de policial ao lado do título: “Veracruz, estado sem lei”.
O político não gostou da publicação e tentou, segundo Espinosa, impedir a veiculação da mesma e foi registrada a compra, em grande quantidade dos exemplares pelo Estado.
O jornalista passou a ser perseguido e a temer por sua vida. Ele relatara que desconhecidos armados tinham começado a segui-lo. Montavam guarda na porta de sua casa e tiravam fotos dele. Seu palpite era que o próprio Duarte estava por trás desses fatos.
O jornalista havia denunciado sua situação a coletivos de proteção da liberdade de expressão na capital mexicana, além de ter entrado com uma denúncia na procuradoria.
O governador, por sua vez, divulgou um comunicado no qual lamenta os “fatos aberrantes” do assassinato múltiplo e disse confiar que as autoridades esclarecerão rapidamente o caso.
Crime comum
Ainda em 2012, Espinosa havia sido advertido por um representante do governo para não tirar fotos dos estudantes detidos durante os protestos no estado: “Deixe de fotografar ou acabará como Regina”, teria dito o funcionário, em referência à jornalista da revista Proceso Regina Martínez, assassinada em maio de 2012.
Apesar do trabalho de Martínez, que investigava casos de corrupção envolvendo o narcotráfico e o governo local, a morte da jornalista foi considerada oficialmente como roubo.
Para que o caso Espinosa não tenha o mesmo desfecho, a Comissão Nacional dos Direitos Humanos mexicana pediu às autoridades do país que investiguem e considerem todas as possibilidades, incluindo o trabalho jornalístico que ele realizava.
Isso porque 24 horas após os corpos serem encontrados, a Promotoria da Cidade do México divulgou um informe no qual diz que o jornalista estava na capital em busca de “novas oportunidades” e menciona o roubo de um aparelho celular como possível causa dos assassinatos.
O fato gerou críticas entre os jornalistas. “É uma grande irresponsabilidade, uma incongruência incrível. Descartou todos os elementos que demos sobre as ameaças que recebeu em Veracruz”, disse uma porta-voz da organização Artigo 19.
Em declarações à RT, jornalista diz que "os jornalistas que não se vendem, se falam a verdade, são mortos ou desaparecem forçadamente". Veja o vídeo (em espanhol):
Violência
Segundo a Promotoria Especial para Atenção a Delitos contra a Liberdade de Expressão, entre 2000 e 2014 ocorreram 102 homicídios de jornalistas no México.
O caso de Espinosa está sendo considerado pela organização internacional de proteção a jornalistas Artigo 19 como um giro na violência contra jornalistas, uma vez que se trata do primeiro jornalista assassinado na capital mexicana.
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Espinosa é o 14º jornalista assassinado no estado mexicano de Veracruz desde 2010 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU