04 Agosto 2015
Somente quarenta e oito quilômetros separam Nablus de Tel Aviv. O clamor que se ergue da Cisjordânia após o atentado incendiário no qual perdeu a vida uma criancinha palestinense ribomba na casa silenciosa onde Abraham B. Yehoshua procura escrever no seu estúdio. O grande romancista israelense responde ao telefone com um tom de voz abatido, repleto de dor.
A entrevista é de Guido Andruetto, publicada pelo jornal La Repubblica, 01-08-2015. A tradução é de Benno Dischinger.
“Considero realmente pavoroso quanto aconteceu – confessa – foi um ato de violência terrificante. Não sei o que pensar, estou profundamente abalado”.
Eis a entrevista.
- Senhor Yehoshua, por que não parece haver limite ao sofrimento e à violência nesta terra ferida?
Porque há culpas e ninguém assume sua responsabilidade. Continuam a existir muitas ações violentas nos assentamentos na Cisjordânia e as forças de polícia não prendem nem freiam os autores. Esta situação dura há anos e é inaceitável.
- Que culpa tem a polícia?
Dou-lhe um exemplo. Quando um palestinense atira uma pedra, após dia as forças de polícia vão retirá-lo do campo de prófugos ou então nos subúrbios de Jenin e de Nablus. E o prendem. Ao invés, os assentamentos – onde nem todos aqueles que ali habitam são violentos, obviamente – têm no seu interior alguns grupos extremistas e violentos que estão fazendo coisas terríveis e a polícia não os pode controlar. Sabe por quê? Porque falta uma séria atividade de controle deste fenômeno, que sirva para freá-lo e processá-los pelos crimes que cometem.
- Refere-se também a quanto aconteceu no outro dia em Gay Pride?
Sim, certamente. Um religioso, não um dos assentamentos, que com uma faca freia a manifestação dos homossexuais em Jerusalém e fere seis pessoas. Dele depois se descobre que já estivera no cárcere. Esta é uma violência que chega dos extremistas religiosos, seja que eles vivam nos assentamentos ou na própria região. Hoje só podemos criticar a polícia, porque eles sabem tudo o que ocorre entre os violentos dos assentamentos e entre os extremistas.
- A morte do pequeno Ali Dawabsheh nos recorda que as crianças são os verdadeiros inocentes nesta trágica história?
Mas não só as crianças, não só as crianças são inocentes! Também as outras pessoas são inocentes. Eu me sinto mal por esta pequena criança, não é a primeira vez que isso acontece, a atmosfera é assim, é terrível, pesada. E esta violência não é só contra os palestinos ou os árabes, é direcionada também contra quem quer procurar a paz, contra a esquerda. Na internet se leem coisas realmente violentíssimas. O ponto é que a violência vem sendo fomentada também por membros do parlamento da extrema direita e do governo. Mas, em Israel houve uma atitude à agressão da parte da direita violenta, como depois destas eleições, e esta é a regia do primeiro ministro Benjamin Netanyahu. Da Europa e dos Estados Unidos se olha com preocupação para as violências na Cisjordânia.
- Crê que se abrirá mais uma passagem de luz neste cenário de conflito permanente?
Veja, aqui não estamos na Síria nem no Iraque. Nós somos uma democracia, fazemos parte do mundo livre ocidental. É difícil fazer qualquer coisa contra o Estado Islâmico e a Europa não pode fazer muito na Ucrânia ou no Iêmen, mas aqui, ao invés, os europeus são amigos de Israel, e, enquanto amigos de um país civil deveis ajudar-nos a mudar esta política. Estou convencido que a Europa possa dar uma grande contribuição para encontrar uma solução ao conflito entre israelenses e palestinos
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Criança palestina é assassinada. “Clima de ódio jamais visto – ninguém detém os extremistas” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU