30 Julho 2015
A organização de escoteiros Boy Scouts of America suspendeu na segunda-feira (27/7) sua proibição nacional de líderes adultos abertamente homossexuais.
A reportagem é de Erik Eckholm, publicada pelo jornal The New Yorl Times e reproduzida pelo portal Uol, 29-07-2015.
A nova política, entretanto, permite que as unidades patrocinadas por igrejas escolham os líderes das unidades locais que compartilham seus preceitos, mesmo que isso signifique a restrição desses cargos a homens heterossexuais.
Mesmo com esta exceção, a Igreja Mórmon disse que poderá deixar a organização. Sua postura surpreendeu a muitos e levantou dúvidas se outros patrocinadores conservadores, incluindo a Igreja Católica Romana, não seguirão o exemplo.
"A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias está profundamente preocupada com o resultado da votação de hoje pelo Conselho Executivo Nacional dos Boy Scouts of America", disse um comunicado emitido pela igreja momentos depois dos escoteiros anunciarem sua nova política. "Quando a liderança da Igreja retomar a sua programação regular de reuniões em agosto, a associação de um século com os escoteiros terá de ser reavaliada".
Há apenas duas semanas, a Igreja Mórmon deu a entender que poderia permanecer associada ao grupo, desde que suas unidades pudessem escolher seus próprios líderes.
Os principais líderes escoteiros, incluindo Robert M. Gates, atual presidente e ex-secretário de defesa que promoveu a nova política, não responderam imediatamente à declaração mórmon. Em declarações anteriores, Gates manifestou a esperança de que, com a aprovação da isenção para grupos religiosos, os escoteiros pudessem evitar uma fragmentação devastadora.
Muitos líderes dos Boy Scouts of America disseram que não esperavam a resposta dura da Igreja Mórmon e sua ameaça de deixar a parceria.
"Minha suposição era de que a decisão votada hoje tinha sido avaliada, de modo a evitar surpresas desnecessárias", disse Jay Lenrow, líder escoteiro e voluntário de longa data em Baltimore, que está no comitê executivo da região nordeste e atua no comitê nacional de relações religiosas da organização.
"Eu só posso dizer que eu estou esperançoso de que, quando a liderança da Igreja se reunir e discutir a questão, encontrará uma maneira de continuar a apoiar os escoteiros", acrescentou Lenrow.
Os mórmons usam os Boy Scouts of America como sua principal atividade não religiosa para meninos, e as unidades que patrocinam foram responsáveis por 17% de todos os jovens no escotismo em 2013, o último ano para o qual foram publicados dados.
Sob a política adotada na segunda-feira, a discriminação com base na orientação sexual também será banida em todos os escritórios dos Boy Scouts of America e todos os empregos remunerados –uma medida que visa evitar ações na justiça em Nova York, Colorado e outros Estados que proíbem a discriminação no emprego.
Uma ameaça jurídica foi imediatamente evitada. Em resposta à mudança, o procurador geral de Nova York, Eric T. Schneiderman, anunciou na segunda-feira que seu escritório estava arquivando sua investigação dos escoteiros por violação das leis estaduais de combate à discriminação.
O conselho executivo nacional dos escoteiros, composto de 71 líderes civis, empresariais e da igreja, aprovou as alterações com 79% dos votos daqueles que participaram da reunião por telefone, de acordo com um comunicado emitido pelos escoteiros. O anúncio não disse quantos conselheiros estavam ausentes.
A mudança de política, que já era esperada, foi amplamente vista como um divisor de águas para uma instituição que tem enfrentado crescente turbulência sobre a sua posição em relação a pessoas homossexuais, enquanto se esforça para deter um declínio de longo prazo. Ela foi elogiada por organizações de defesa dos direitos gays como um grande passo, apesar de incompleto, para acabar com a discriminação.
Em 2013, enfrentando crescente pressão pública e interna, os escoteiros decidiram que jovens abertamente gays poderiam participar das atividades, mas não adultos. Essa abordagem não satisfez a ninguém. Ela forcou a expulsão dos homossexuais Eagle Scouts quando completavam 18 anos, mas ainda não impediu a saída de alguns conservadores.
Gates fez uma advertência urgente em maio dizendo que, por causa da cascata mudanças sociais e legais, a organização não tinha escolha senão acabar com a proibição de líderes gays.
Em uma declaração em 13 de julho, a Igreja Mórmon pareceu sugerir que aceitaria a solução adotada na segunda-feira. A declaração dizia que qualquer novo padrão de liderança deveria preservar "o direito de selecionar líderes escoteiros que adiram aos princípios morais e religiosos consistentes com nossas doutrinas e crenças".
Mas o tom da declaração dos mórmons de segunda-feira após o anúncio formal da nova política de Escoteiros foi marcadamente mais negativo.
"A Igreja sempre recebeu todos os meninos em suas unidades de escoteiros, independentemente da orientação sexual", disse a declaração da sede da Igreja Mórmon. "No entanto, a admissão de líderes abertamente homossexuais é incompatível com as doutrinas da igreja e os valores tradicionais dos Boy Scouts of America".
A declaração também sugeriu outra razão pela qual os mórmons estão pensando em deixar os Boy Scouts of America: a possível criação de uma organização similar própria para servir aos seus membros em todo o mundo.
"Como uma organização global com membros em 170 países, a Igreja há muito vem avaliando as limitações que metade de seus jovem enfrentam onde o escotismo não está disponível", disse o comunicado.
Algumas igrejas evangélicas conservadoras cortaram os laços com os escoteiros após a decisão de 2013 ao admitir jovens abertamente gays. O total de jovens matriculados, que tinha declinado em alguns pontos percentuais em muitos anos anteriores, caiu 6% em 2013 e 7% em 2014, para 2,4 milhões.
É provável que outros conservadores religiosos se afastem, disse Russell D. Moore, presidente da Comissão de Ética e Liberdade Religiosa da Convenção Batista do Sul. Moore expressou ceticismo sobre a promessa dos escoteiros em deixar que unidades patrocinadas pela igreja excluíssem líderes gays por motivos religiosos.
"Depois que os escoteiros mudaram a regra de adesão, eles disseram grupos aos grupos religiosos que isso não afetaria as lideranças", disse ele. "Agora, estão dizendo que essas mudanças não afetarão os grupos de base religiosa. As igrejas sabem que esta é a palavra final somente até o próximo desdobramento".
Por outro lado, com a mudança de segunda-feira, os executivos dos escoteiros esperam renovar os laços com doadores corporativos, escolas e órgãos públicos e atrair pais que tinham afastado seus filhos do escotismo por causa de sua política.
"Vamos continuar a focar em alcançar e servir os jovens, ajudando-os a crescer para se tornarem cidadãos bons e fortes", disse o comunicado dos Boy Scouts of America na segunda-feira.
O desafio mais difícil, dizem os líderes escoteiros, talvez seja conquistar o tempo e o entusiasmo dos jovens cada vez mais urbanos, diversificados e atarefados de hoje. Para aumentar seu apelo, os escoteiros construíram novos campos de aventura com atividades como mountain bike e tirolesa, e criaram novas medalhas de mérito em áreas como robótica e animação.
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Igreja Mórmon dos EUA se opõe a decisão dos escoteiros de permitir líderes gays - Instituto Humanitas Unisinos - IHU