16 Julho 2015
"Ita, ita, ita, o papa é jesuíta." Era sábado à noite passado, quando Francisco decidiu fugir de mais um protocolo e se dirigiu para a igreja o colégio de Cristo Rei, acolhido entre os gritos dos estudantes, para ver os coirmãos. E rezar diante da relíquia de São Roque González, também ele jesuíta e único santo paraguaio.
A reportagem é de Lucia Capuzzi, publicada no jornal Avvenire, 14-07-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Entre os cerca de 30 jesuítas que tiveram um momento pessoal com o papa, havia dois velhos conhecidos do então padre Jorge Mario Bergoglio. José Luis Caravias (foto acima) e Francisco Oliva (foto abaixo), ambos missionários espanhóis, encontraram o jesuíta argentino em um momento turbulento.
Na época, entre o fim dos anos 1960 e início dos anos 1970, o Paraguai era oprimido pelo punho de ferro de Alfredo Stroessner, o mais longevo dos ditadores latino-americanos: quase 35 anos de poder ininterrupto.
"Não podíamos nos reunir com mais de três pessoas por vez. E, para as festas de aniversário, era preciso pedir permissão para a polícia", conta o padre Oliva, que chegou ao país em 1964. "Um padre agricultor como eu era visto como fumaça nos olhos. Estou vivo graças a Bergoglio", acrescenta o padre Caravias, um dos protagonistas do livro-entrevista de Nello Scavo, La lista di Bergoglio (Ed. EMI) e I sommersi e i salvati (Ed. Piemme), em que se relata o empenho silencioso de Francisco para salvar os perseguidos pelo regime militar argentino.
O padre José Luis foi preso em 1972, depois de ter sido nomeado representante das Ligas Camponesas, o sindicato agrário católico: ameaçaram-no de tortura e de morte. No fim, expulsaram-no da Argentina. Primeiro, ele permaneceu a pouca distância da fronteira, no Chaco. Depois, um ataque dos militares – desta vez argentinos, mas próximos dos paraguaios – forçou-o a ir para Buenos Aires.
"E lá, em 1975, eu conheci o padre Bergoglio, o novo provincial dos jesuítas argentinos", ressalta o padre Caravias, atualmente empenhado no trabalho pastoral em Bañado Sur, as favelas de 8.000 famílias ao longo do Rio Paraguai.
Foi Bergoglio que lhe deu hospitalidade no Colégio Máximo de San Miguel, na periferia de Buenos Aires, onde o então provincial acolheu muitos perseguidos. Ele ficou lá até que Bergoglio lhe disse que os paramilitares argentinos – agora o golpe também estava às portas do país – queriam matá-lo.
Graças à sua ajuda, o padre José Luis pôde se refugiar na Espanha, à espera de voltar. Quem o manteve informado sobre a evolução da situação sempre foi o superior dos jesuítas: como os telefones eram controlados, nas conversas, os dois usavam a metáfora da meteorologia.
A atividade pastoral de Oliva também atraiu o olhar carrancudo de Stroessner. "Eu não atacava o presidente diretamente. Nas homilias e nos encontros, eu tentava estimular os jovens a pensar. Exatamente o que o regime não tolerava", diz o jesuíta de 86 anos, ainda na vanguarda em Bañado Sur.
Resultado? "Uma noite, em 1969, o chefe da polícia local ordenou que me jogassem no rio." Em vez disso, no fim, expulsaram-no da Argentina. Ele ficou lá por nove anos, até que o golpe de Estado e a repressão em Buenos Aires o obrigaram a voltar para a Europa.
"O cerca ao meu redor estava apertando. Um após o outro, estavam desaparecendo todos os meus colaboradores. Foi Bergoglio que me acolheu na minha chegada e me fez entrar no Centro de Estudos Sociais em que eu me ocupava dos imigrantes paraguaios", conclui o padre Oliva. "Ele sempre foi um homem generoso, cujo compromisso social amadureceu ao longo dos anos, graças ao contato com a realidade. Por isso, as suas palavras são verdadeiras e perturbadoras."
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"Nós, jesuítas, ao lado dos pobres, salvos por Bergoglio" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU