08 Julho 2015
O papa Francisco aproveitou a celebração de sua segunda missa no Equador no parque do Bicentenário – construído sobre o antigo aeroporto de Quito – para unir o velho grito de independência com o da evangelização, que, “com a mesma urgência” a Igreja precisa empreender.
Segundo Jorge Mario Bergoglio, os cristãos não podem se fazer de “distraídos” em meio a “um mundo dilacerado pelas guerras e a violência”. Diante de mais de um milhão de pessoas, o papa clamou: “Evangelizar é nossa revolução. Nossa fé sempre é revolucionária. Esse é o nosso mais profundo e constante grito”.
A reportagem é de Pablo Ordaz, publicada por El País, 07-07-2015.
Tão logo iniciou a homilia, Francisco pronunciou uma frase que entusiasmou os presentes, entre os quais estava o presidente do Equador, Rafael Correa: “Este [o da independência] foi um grito nascido da consciência da falta de liberdades, de estar sendo espremidos e saqueados, submetidos a conveniências circunstanciais dos poderosos de turno”. A partir daí, Bergoglio articulou um discurso que incluiu o principal ingrediente da casa: estender ao restante da humanidade sua mensagem aos cristãos.
O Papa, que na segunda-feira celebrou a missa em Guayaquil e depois visitou Correa à tarde no palácio do Governo e saudou os fiéis congregados diante da catedral de Quito, construiu uma hábil homilia que, sem sair do canônico, também era um chamado à revolução pacífica. “A aquele grito de liberdade proferido há pouco mais de 200 anos”, disse Bergoglio”, “não faltou convicção nem força, mas a história nos conta que só foi contundente quando deixou de lado os personalismos, o afã de lideranças únicas, a falta de compreensão de outros processos libertários com características distintas, mas nem por isso antagônicos”.
Foto: AciDigital
O uso por Francisco de conceitos como revolução e utopia provocam urticária nos setores mais conservadores da Igreja, que engolem sua frustração por um subversivo vestido de Papa diante do qual se mostram os mais poderosos da Terra.
Discurso subversivo
E talvez por isso mesmo – pela força que chega a ele dos milhões de pessoas que já reuniu no primeiro dos três países latino-americanos que visitará até domingo –, Bergoglio insiste na ideia de um cristianismo que não se mova pelo medo do inferno, mas pela alegria de compartilhar os ensinamentos de Cristo ao restante da população.
“Nós também”, explica”, “constatamos todos os dias que vivemos em um mundo dilacerado pelas guerras e a violência. Seria superficial pensar que a divisão e o ódio afetam somente as tensões entre os países e os grupos sociais”. Segundo o Papa, eles são a consequência de um “individualismo difuso” provocado pela ausência de Deus. Como voltou a repetir em Quito, sua receita de evangelização não é excludente: “A imensa riqueza do que é variado, do múltiplo que a unidade alcança cada vez que trazemos à memória aquela quinta-feira santa, nos distancia da tentação de propostas mais próximas a ditaduras, ideologias ou sectarismos. Não é tampouco um arranjo feito à nossa medida, no qual nós impomos as condições, escolhemos os integrantes e excluímos os demais”.
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“Nossa fé é revolucionária”, afirma Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU