01 Julho 2015
Confiar nas decisões conscientes de católicos divorciados em segunda união sobre se eles devem ou não receber a Comunhão pode ser a única saída realista para o Sínodo. Mas romper o impasse, dizendo isso oficialmente, pode ser um passo além daquele que os padres sinodais estão prontos a dar.
Publicamos aqui o editorial da revista The Tablet, 25-06-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Em outubro, o Sínodo dos bispos deve retomar a sua busca por um consenso sobre questões controversas como a homossexualidade e o recasamento depois do divórcio.
O documento preliminar publicado na semana passada, o Instrumentum laboris, oferece uma análise séria dos problemas enfrentados pelo matrimônio e pela vida familiar. Ele é menos consensual sobre as soluções. Ele aceita implicitamente que o contexto cultural se alterou, e, em muitos lugares, os católicos estão se tornando mais tolerantes, incluindo a forma como eles consideram a homossexualidade e o divórcio.
Mas é aí que as opiniões divergem.
Ainda há um formidável corpo de opiniões entre os bispos de todo o mundo de que a mudança cultural não justifica uma mudança na prática pastoral. Eles considerariam qualquer flexibilização da regra segundo a qual os católicos divorciados e recasados estão banidos da Santa Comunhão como uma traição do princípio fundamental de que o matrimônio é indissolúvel.
Alguns bispos ainda apoiam a política traçada por João Paulo II em 1981 – segundo a qual os casais divorciados e em segunda união deveriam se abster da intimidade sexual.
Há um corpo maior que considera essa posição muito dura e busca para uma abordagem mais misericordiosa. Sugestões sobre como isso pode acontecer variam consideravelmente. Nenhuma é ideal.
O processo de nulidade poderia ser simplificado e acelerado e, talvez, delegado aos párocos. Os padres poderiam receber tal faculdade com base nas circunstâncias da ruptura do primeiro matrimônio, por exemplo se o católico recasado tinha provocado intencionalmente essa ruptura ou se ele foi uma parte inocente disso, e também com base em uma avaliação da estabilidade do segundo relacionamento. Muitos padres não vão acolher essas responsabilidades adicionais; alguns vão se opor a elas por princípio.
Outra sugestão é a possibilidade de readmissão dos católicos divorciados em segunda união à Comunhão depois de terem seguido um "caminho penitencial", presumivelmente incluindo a absolvição de quaisquer pecados que eles possam ter cometido.
Isso foi mencionado pelo cardeal Vincent Nichols, de Westminster, mas ele não desenvolveu a ideia. Ela responde à esperança de que a Igreja deveria mostrar uma face mais misericordiosa para com os católicos em segunda união.
Nesse espírito, o Instrumentum laboris fala de um desejo generalizado de "integrar" os católicos divorciados em segunda união na vida da Igreja, o que poderia significar pôr fim à exclusão de tais pessoas de papéis como o de professor titular em uma escola católica.
A ideia do "caminho penitencial" pode ser a melhor esperança de reconciliar tantos bispos quanto possível com um relaxamento da regra existente, mas não é um processo sem dificuldades. Um católico divorciado recasado pode ser convidado a "se arrepender" de ter se casado por uma segunda vez? O caminho penitencial não se pareceria muito a uma camuflagem política, acelerando, de fato, a tendência de que os católicos divorciadas recasados recebam a comunhão, independentemente das regras – o que, em todo o caso, são apenas autoimpostas?
Na verdade, colocar a confiança nas decisões conscientes de católicos divorciados em segunda união sobre se eles devem ou não receber a Comunhão pode ser a única saída realista. Mas romper o impasse, dizendo isso oficialmente, pode ser um passo além daquele que o Sínodo está pronto a dar.
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Sínodo: o acordo inexistente sobre a segunda união - Instituto Humanitas Unisinos - IHU