Por: André | 29 Junho 2015
O êxodo migratório para a Europa não é um problema apenas da Itália ou da Grécia. Nos países que têm fronteiras com estados membros da União Europeia, como a Espanha – em suas colônias de Ceuta e Melilla – com o Marrocos ou Hungria com a Sérvia, apenas para dar alguns exemplos, verifica-se o mesmo fenômeno, mas por terra. A União Europeia está procurando dar uma resposta à massiva chegada de imigrantes, para o qual estiveram reunidos em Bruxelas os chefes de Estado e de governo dos 28 países membros.
Mas, quais são as causas destas migrações que se tornaram particularmente numerosas em 2015 e quais são os remédios? O professor Vincenzo Cesareo, sociólogo especialista em migrações, que lecionou em numerosas universidades da Itália e atualmente é o secretário-geral da Fundação ISMU, Instituto para o Estudo da Multietnicidade, com base em Milão, em uma entrevista concedida ao jornal Página/12 explicou alguns aspectos deste fenômeno.
A entrevista é de Elena Llorente e publicada por Página/12, 26-06-2015. A tradução é de André Langer.
Eis a entrevista.
Professor Cesareo, foram dadas muitas explicações de por que neste momento milhares de imigrantes, principalmente da África e do Oriente Médio, procuram chegar à Europa. Mas, para você, quais são as verdadeiras causas?
Existe uma distinção tradicional entre migrações forçadas (aqueles que fogem de uma guerra ou de uma ditadura e que pedem asilo) e migrações econômicas, isto é, voluntárias. Na realidade de hoje, no entanto, esta diferença – que tem uma validade conceitual e jurídica – encontra muitas dificuldades para poder ser identificada. Porque em muitos casos estas duas modalidades se misturam. A migração forçada se mistura com a voluntária pela extrema pobreza que, além disso, reina nos países de origem. Na minha maneira de ver as coisas, na realidade há uma mistura de fatores que nem sempre podem ser reduzidos às duas categorias originais.
Mas nestas migrações, não influenciou de alguma maneira o que fazem ou fizeram os países ricos nesses países pobres? E não me refiro apenas às guerras, estimuladas muitas vezes pelos fabricantes de armas, mas também pela exploração das pessoas por parte de empresas multinacionais pertencentes aos países ricos.
Também isto pode ser uma causa. As causas são muitas. Mas para enfrentar realmente a questão é preciso tratar de ver as causas em cada país. A situação atual das migrações na Europa é uma emergência e não se resolverá no curto prazo. Vai durar bastante tempo. Por esta razão, é preciso enfrentar a situação atual da forma mais realista possível. Mas também seria preciso fazer um projeto, ter um olhar de longo prazo, para chegar às causas em cada país e agir sobre elas. Porque são as causas que agem sobre todo o resto. Se não detectarmos as causas, se não as enfrentarmos e as eliminarmos, não resolveremos o problema. No fundo de tudo isso, além das guerras e das ditaduras, há um desequilíbrio mundial tão grande entre os países ricos e pobres que está por trás e incentiva estes fluxos migratórios.
Se as guerras e o desequilíbrio mundial entre os países ricos e pobres estão entre as causas, não deveriam assumir-se parte da responsabilidade destas migrações os países que de uma ou de outra maneira têm a ver com essas guerras e esses desequilíbrios? Refiro-me não apenas à Europa, mas também aos Estados Unidos.
Os Estados Unidos já recebem muitos imigrantes, sobretudo da América Latina. As migrações de agora para a Europa são um problema que deve ser resolvido em nossa área geográfica, com a Europa, com a África e o Oriente Médio, que estão geograficamente em contato.
A globalização teve um papel em tudo isso?
Há um nexo entre migrações e globalização, porque esta inclui não apenas a possibilidade de fazer circular dinheiro, matérias primas, etc., mas também pessoas. A globalização tem aspectos negativos e positivos, como em todos os processos históricos. Mas devemos estar atentos para não enxergar tudo preto no branco. A realidade é muito mais complexa e dinâmica do que podemos imaginar.
Você acredita que a Europa e os Estados Unidos estão realmente interessados em chegar às causas e agir para mudar as coisas?
É o caminho obrigatório. Na medida em que se consegue reduzir ou acabar possivelmente com as guerras em curso, por um lado, eliminando as ditaduras e apoiando as forças democráticas, se terá dado um grande passo. Por outro lado, ao nível da pobreza, o problema não está só na falta de recursos de um país, mas muitas vezes no modelo social destes países que não permitem uma modernização. Uma democracia poderia modificar o modelo social.
O que pensa sobre a atitude de países como a França, a Inglaterra ou a Hungria que disseram que não aceitarão novos refugiados?
É uma atitude muito preocupante porque, além dos aspectos diretamente ligados à imigração, constitui um indicador negativo do que deveria ser o conceito de unidade europeia, de uma União Europeia que seja verdadeiramente uma comunidade. Este fato de dar um passo atrás, de fechar-se, de colocar barreiras, este fato de não compartilhar responsabilidades é um sintoma da falta de identidade europeia, o que demonstra que ainda estamos longe da construção da Europa unida.
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Europa. “Devemos enfrentar as causas do problema migratório”. Entrevista com Vincenzo Cesareo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU