“O proselitismo é a caricatura da evangelização”, diz Francisco aos padres

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Por: André | 15 Junho 2015

“Não façam proselitismo. O proselitismo é a caricatura da evangelização”. O Papa Francisco mostrou-se contundente na tarde do dia 12 de junho, durante um encontro com sacerdotes de todo o mundo. Ele respondeu a todas as perguntas que lhe foram feitas em castelhano, improvisando. Desde a situação da África à pobreza, passando por futuros acordos com outras confissões cristãs, como uma data fixa para a celebração da Páscoa, ou a possibilidade de que a viagem à África inclua uma ida ao Quênia.

A reportagem é de Jesús Bastante e publicada por Religión Digital, 12-06-2015. A tradução é de André Langer.

“A Igreja não cresce por proselitismo, mas por atração, como disse Bento XVI”, destacou o Papa, que disse que esta atração deve dar-se “com a linguagem dos gestos, e que provoquem a curiosidade”. Como já assinalara na JMJ do Brasil, Bergoglio assinalou que são “duas as colunas sobre as quais se apóia o cristianismo: as Bem-aventuranças e Mateus 25, que é o protocolo em base ao qual seremos julgados”.

“Devemos atender as pessoas que não podem sobreviver, doentes, nesta cultura do descarte, onde quem não produz não tem utilidade. A armadilha na qual podemos cair, e não devemos cair, é da pregação moralista”, advertiu o Papa, que pediu “homens e mulheres que gastam suas vidas servindo outros que o mundo descarta”.

Proximidade, e adeus à teologia do “não”. “Não há outro caminho. Não condenar ninguém; se seu inimigo lhe faz mal, devolve-lhe o bem. Se encontra alguém jogado pelo caminho da vida, comporte-se como o bom samaritano: cumprir as bem-aventuranças e deixar que o Espírito Santo faça o resto”, proclamou Francisco, que animou a “dar testemunho”, dando como exemplo a Charles de Foucauld.

“Tantos cristãos, leigos, que vivem as Bem-aventuranças, o que Jesus ensinou, o Evangelho. E o Evangelho, literalmente. Mas nunca o proselitismo, por favor, nunca”, disse o Papa ao responder a uma pergunta, destacando a necessidade de semear esperança e lutar “contra o problema da injustiça social”, na América Latina e no mundo.

“Há muita miséria, mas isso não é nenhuma novidade”, destacou Francisco, que animou para “ser homens que se movem, a estar junto dos que mais sofrem, mas sem desprezar a ninguém”, pois “a ideologia despreza, ela lhe arma a luta de classes, e isso não é Evangelho. Se há uma luta de classes no Evangelho, é a que existe entre a misericórdia que Jesus prega e a rigidez dos Doutores da Lei”, ressaltou o Papa. Em seguida disse que “Jesus não fez parte de nenhum dos partidos políticos: nem dos fariseus, nem dos saduceus, nem dos essênios nem dos zelotes. Dedicou-se a anunciar o Evangelho, a estar com os pobres”.

“Coloquem-se a caminho, anunciem, gratuitamente”, acrescentou Bergoglio. “Nosso povo fiel perdoa um padre que dá uma resvalada afetiva, que bebe um pouco além da conta... mas o povo fiel de Deus nunca vai perdoá-lo se está apegado ao dinheiro ou se maltrata as pessoas. São culpados”.

“A América Latina tem a possibilidade de ser uma Igreja pobre e para os pobres, mas não esqueçam que o demônio se mete no bolso”, alertou o Papa, assinalando a “vaidade e a soberba” como grandes tentações.

Ao mesmo tempo, pediu para não esquecer que “os pobres são a riqueza da Igreja. Se não estamos convencidos de que os pobres são a riqueza da Igreja, os utilizaremos para nossa ideologia”.

Sobre o ecumenismo, o Papa destacou a magnífica relação com os patriarcas ortodoxos, mesmo quando “há uma parte geopolítica que só com o diálogo se pode solucionar. O caso concreto dos russos da Ucrânia. O problema está resolvido nos papéis, o Tratado de Minsk foi assinado por todos, mas se recusam a cumpri-lo”.

Neste ponto, anunciou os diálogos para “chegar a uma data fixa comum” para a Páscoa. “Sei lá, segunda semana de abril. A Igreja católica está disposta a aceitar uma data comum”. Na linha dos anúncios, indicou que junto com a África Central e a Uganda, há a possibilidade, “ainda não fechada”, de visitar o Quênia, em novembro.

“É necessário que a Europa vá à África não para espoliar, mas para investir e para que as pessoas não tenham que emigrar. O trabalho mais social é dar trabalho”, concluiu o Pontífice.