Por: Cesar Sanson | 24 Março 2015
Muitos nomes, muitas possibilidades e uma preocupação: quem desses nomes é capaz de convencer Dilma Rousseff a priorizar a implementação do PNE, entendendo o plano como a própria expressão do lema de governo: “Brasil: pátria educadora''? O comentário é de Daniel Cara em artigo publicada no portal Uol, 23-03-2015.
Eis o artigo.
Continua crescendo a lista de nomes para a chefia do MEC (Ministério da Educação), mas poucos têm chances reais de assumir a pasta – talvez nenhum dos aventados até aqui. Nesses momentos, há um fenômeno parecido com o do conclave papal: quem entra como favorito para ser papa, sai como arcebispo. Além disso, o debate político brasileiro insiste em um erro de perspectiva: os nomes estão, quase sempre, descolados dos projetos. Contra a insistência no equívoco, já se pronunciaram ANPEd, Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Mieib e Undime.
Ainda assim, esse paradoxo presente em toda a administração pública brasileira está agora evidente na educação. Ou seja, ao invés de pensar em quem tem mais condições de tirar o PNE (Plano Nacional de Educação) do papel, as informações de bastidores, muitas vezes veiculadas na imprensa, mostram que o esforço do Palácio do Planalto tem sido na escolha de um nome para simplesmente compor o governo, em um contexto de escalada da crise econômica e no meio de um processo de acirramento e recomposição de forças políticas no Congresso Nacional.
O fato é que o projeto educacional está secundarizado, como sempre. Tanto é assim que, mesmo no governo que busca fazer do Brasil uma “pátria educadora”, o PNE ainda não foi mencionado sequer uma vez em discursos da presidenta, mesmo tendo sido sancionado por ela própria em junho de 2014.
Diante desse quadro de descolamento entre o projeto educacional e a maior parte dos nomes aventados para o MEC, é possível classificar as possibilidades observadas nos bastidores de Brasília e na imprensa nacional. Elas podem ser resumidas em três categorias, com alguns nomes estabelecendo uma intersecção entre elas: solução caseira, nomes reconhecidos na área e acerto partidário.
As opções de solução caseira
A proposta da ilógica dança de cadeiras… Em um primeiro momento, circulou na imprensa, em blogs e nos bastidores bem informados de Brasília uma intensa dança de cadeiras que recolocaria Aloizio Mercadante (PT-SP), titular da Casa Civil e coordenador do governo Dilma, na pasta da Educação.
Esse deslocamento (ou queda!?), faria parte de uma reforma ministerial supostamente idealizada pelo ex-presidente Lula. O objetivo seria atender (novamente!) ao PMDB, que ganharia mais dois ministérios: o da Integração Nacional (hoje com o combalido PP) e o das Relações Institucionais. Além disso, serviria para redimensionar o poder de Mercadante, braço direito da presidenta.
Dilma, ciente dos riscos de ficar ainda mais refém, afirmou que “reforma ministerial é uma panaceia”. Em outras palavras, ela não pretende mexer em Mercadante.
Jacques Wagner, Berzoini e Mangabeira Unger Diante disso, Jacques Wagner (PT-BA), atual predileto do ex-presidente Lula, também é cotado. Contudo, como governador baiano, não teve bom desempenho justamente na educação. Ainda assim, seus defensores argumentam que ele seria um nome forte para coordenar o lema de governo “Brasil: pátria educadora”.
Falando nisso, por sua influência na elaboração das ações relativas ao lema de governo, cresce o nome de Magabeira Unger, que migraria da SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos) para o MEC. Embora goze de prestígio em Harvard, Mangabeira não tem apoio da academia nacional. Além disso, se há certezas dentro do governo sobre sua capacidade de proposição, há muitas dúvidas sobre seu talento para gestão.
Ademais, no âmbito político-partidário, entende-se que ele esteja ligado a uma ala rebelde do PMDB, liderada por Eduardo Cunha (RJ) e Renan Calheiros (AL). E esse grupo, depois das acusações feitas por Cid Gomes na Câmara dos Deputados, das manifestações de 15 de março e dos resultados da última pesquisa Datafolha, tem afirmado que não quer mais nenhuma pasta na Esplanada. Ao contrário, no melhor estilo “acredite quem quiser'', defende uma drástica redução no número de ministérios: dos atuais 39 para 20.
Por outro lado, circulou a notícia de que o MEC iria para Ricardo Berzoini (PT-SP), atual chefe do Ministério das Comunicações. Com isso, o PT recuperaria a educação, pasta essencial para o país e para sua militância. Como sempre é prudente unir o agradável ao útil, nessa composição, o PMDB ainda não rebelado (leia-se Michel Temer) teria o direito de indicar um substituto para as Comunicações, aumentando sua interlocução com a grande mídia.
Os nomes reconhecidos na área
Nilma Lino Gomes
Atual Ministra da Seppir (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Brasil), Nilma Lino Gomes pode ser considerada uma solução caseira, mas ela é principalmente uma personalidade pública reconhecida na área da educação. Inclusive, a colocação de seu nome para o MEC é fruto da mobilização de muitos educadores e de militantes do movimento negro. Nilma foi a primeira reitora negra de universidade federal do país, no caso, a Unilab (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira). Além disso, teve participação destacada no CNE (Conselho Nacional de Educação). Nesse momento, há uma petição pública no Avaaz em defesa de sua nomeação. O colhimento de assinaturas foi iniciado em 19 de março e contava, na manhã de hoje, com 3.885 adesões. Não há dúvida de que Nilma teria compromisso com o cumprimento do PNE.
Mario Sérgio Cortella
Muito reconhecido no seio militância petista, por setores da grande mídia, por educadores de todos os matizes e respeitado pelo mundo político-partidário, Mário Sérgio Cortella também teve seu nome lançado por educadores e militantes dos movimentos sociais. Durante a administração de Luiza Erundina, trabalhou primeiro na equipe de Paulo Freire, depois o sucedeu como Secretário Municipal de Educação de São Paulo (1991-1992). Seu nome é forte por si só, resta saber se ele desejaria ou aceitaria assumir o MEC, considerando os limites impostos pelo Palácio do Planalto. Cortella também é defensor do PNE.
Acerto partidário
Izolda Cela (Pros-CE) teve seu nome lançado pelo deputado federal José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara dos Deputados. Atual vice-governadora do Ceará, Isolda foi ex-secretária de educação da prefeitura de Sobral e do governo cearense. Em ambos os casos, trabalhou com Cid Gomes. Guimarães argumentou que Izolda teria respaldo em setores da imprensa especializada em educação e perante as fundações empresariais dedicadas à área, o que é verdade. Contudo, ela já carrega a rejeição do PMDB. O motivo é simples: ela é ligada a Cid Gomes, atualmente o maior desafeto político do todo-poderoso Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Tarso Genro (PT-RS) é considerado um dos melhores ministros da educação dos últimos 12 anos de administração petista e também tem seu nome ventilado. Pesa contra ele o fato de que, como governador gaúcho, não pagou o piso do magistério aos professores da rede estadual. Além disso (e, talvez, principalmente por isso), não conquistou a reeleição. No entanto, Tarso Genro goza de muito prestígio no setor, especialmente entre movimentos sociais, acadêmicos e parte significativa do movimento estudantil. É um dos nomes mais apoiados pela militância petista e lideranças do partido. Genro tem afirmado compromisso com o cumprimento do PNE.
Gabriel Chalita O atual secretário municipal de Fernando Haddad, neste momento, é o mais forte candidato – o que não significa que vai emplacar. Conquistou Dilma Rousseff na eleição de 2010. Naquele pleito, quando emergia a onda de conservadorismo que assola hoje o país, Chalita abriu canais de interlocução entre Dilma e setores eclesiais e leigos da Igreja Católica. Empossada, a presidenta queria seu novo amigo na Esplanada dos Ministérios; mais do que isso, desejava ver o ex-tucano na chefia do MEC. A militância petista sentiu um frio na espinha, mas Lula brigou por Haddad e conseguiu que seu afilhado ocupasse o posto até janeiro de 2012, quando partiu para concorrer à prefeitura de São Paulo e foi sucedido por Aloizio Mercadante.
Em 2012, Chalita também disputou a prefeitura paulistana. Considerado leal, cumpriu pacto de não agressão com Haddad e apoiou o petista no segundo turno. Embora não tenha concorrido às eleições de 2014, manteve seu capital político e assumiu recentemente a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, o que frustrou a militância petista e a maior parte da comunidade educacional. Para assumir o novo posto, Chalita teve a benção de Michel Temer e de Lula, além do entusiasmo público de Fernando Haddad – o que aumentou a desmotivação de muitos apoiadores do prefeito. Entre outros fatores, além da forte discordância sobre concepção pedagógica, os correligionários de Haddad lembram que Chalita ascendeu na política pelas mãos do governador tucano Geraldo Alckmin (PSDB-SP).
Frente a todo esse histórico, após iniciar conversas durante a concorrida festa de aniversário da senadora Marta Suplicy (hoje PT-SP, amanhã PSB), os bastidores de Brasília passaram o final de semana comentando que Chalita tinha ido à Capital Federal para se reunir com Michel Temer, seu atual líder político. O objetivo era discutir sua ida ao MEC, desejada por Dilma e que contaria com o aval de Lula. Parte do boato virou notícia, em nota da Reuters.
Mas antes de conferir cenas dos próximos capítulos, vale lembrar: nesse jogo todo, não é correto desconsiderar que o MEC possui hoje um ministro interino: Luiz Cláudio Costa (PT-MG). Foi em situação parecida, em meados da década passada, que Fernando Haddad ascendeu na política nacional. Haddad conquistou Lula rapidamente, Costa precisa encantar Dilma. Em Brasília, dizem que a tarefa dele é bem mais complexa.
Porém, dentro do próprio Ministério da Educação, há quem aposte mais em Arnóbio Marques (PT-AC). Mais conhecido como Binho, Marques é ex-governador do Acre e titular da SASE/MEC (Secretaria de Articulação com os Sistemas de Ensino). Como trunfo, ele contaria com apoio de alguns secretários estaduais de educação.
No próprio Ministério muitos lançam suas fichas no improvável retorno de José Henrique Paim (PT-RS), hoje responsável pelo “S'' do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Paim já se estabeleceu no Rio de Janeiro e está muito animado com seu novo papel.
Muitos nomes, muitas possibilidades e uma preocupação: quem desses nomes é capaz de convencer Dilma Rousseff a priorizar a implementação do PNE, entendendo o plano como a própria expressão do lema de governo: “Brasil: pátria educadora''?
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Cresce a lista de nomes para o MEC. Solução caseira, nomes reconhecidos na área ou acerto partidário? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU