16 Março 2015
"Vários movimentos sociais populares estão montando uma estratégia de resistência abrangendo todos os ameaçados pelos projetos do governo no Tapajós, incluindo os Munduruku e as comunidades não indígenas", escreve Edilberto Sena, coordenador da comissão Justiça e Paz da Diocese de Santarém e membro do Movimento Tapajós Vivo.
Eis o artigo.
Na atual conjuntura nacional, com a polarização política, entre governo e oposições, com a crise econômica e o ajuste fiscal do governo federal, massacrando os pobres, sem enfrentar os ricos, para salvar seu mandato, a situação do projeto hidroelétrico do governo também entra em crise. As empreiteiras que estão à frente dos projetos de barragens foram flagradas nas propinas do dinheiro público e agora pressionam o governo e a justiça para punir os funcionários sem atingir as empresas. Alegam que se forem punidas ficarão sem poder fazer contratos para obras públicas. E sem estes contratos todas as empreiteiras acusadas de envolvimento nas propinas entrarão em falência.
Nesta conjuntura de crise, o governo federal não quer abrir mão das construções das hidroelétricas de Teles Pires, de Belo Monte, ambas já em execução, nem quer abrir mão das duas primeiras hidroelétricas no rio Tapajós, ainda em projeto. Até há pouco, os agentes do governo vinham tentando ludibriar o povo Munduruku com pseudos diálogos repudiados pelos líderes Munduruku, que exigem consultas prévias e livres antes de iniciar as obras. Ao mesmo tempo, os ribeirinhos e todos os moradores não indígenas da bacia do Tapajós tem sido ignorados pelo governo em seu projeto de hidroelétricas. Também esses tem sido iludidos com promessas de compensações caso as barragens prejudiquem seu habitat.
Caso a hidroelétrica de São Luiz do tapajós seja construída, além dos graves danos ambientais, prejuízos para a fauna e a flora e floresta, serão gravemente atingidos mais de 200 mil habitantes, que vivem nas comunidades ribeirinhas e nas cidades de Jacareacanga, Itaituba, Trairão, Rurópolis, Aveiro, Belterra e Santarém. Mesmo com tudo isso, o governo federal despreza essas populações e afirma que não abrirá mão das hidroelétricas no Tapajós.
Porém, vários movimentos sociais populares estão montando uma estratégia de resistência abrangendo todos os ameaçados pelos projetos do governo no Tapajós, incluindo os Munduruku e as comunidades não indígenas. Além do povo Munduruku, do Movimento dos atingidos por barragens, está o Movimento Tapajós Vivo seguindo um plano de sensibilização das populações da região. A força motivadora da resistência é a importância que tem este rio para todos os habitantes da sua bacia. O rio é vida, pois é via de caminhada pela navegação entre as várias comunidades e cidades; é também uma preciosa cozinha, pois de suas águas são retiradas várias espécies d e peixes, que serão extintos caso sejam feitas barragens; e também o belo rio Tapajós é banheiro, pois suas águas potáveis e suas praias são parte de sua riqueza turística. Por esse e outras razões as população estão sendo espertadas para os crimes planejados pelo governo federal. Hidroelétricas podem ser energia limpa de mercadoria para os de fora, mas suja e criminosa para os habitantes da região. Por isso, o grito a ecoar pela região é – Este rio é Nossa Vida não abrimos mão dele.
No próximo dia 22 de março, Dia Internacional da Água, mais uma a manifestação pública vai acontecer em seis cidades da região do Tapajós ( Jacareacanga, Itaituba, Aveiro, Belterra, Rurópolis e Santarém). Vários movimentos estão se organizando, para dar um grito de resistência em defesa do rio e dos povos tapajônicos.
Dois objetivos unirão os milhares de manifestantes das seis cidades: um, ampliar a consciência dos habitantes ainda alheios às ameaças das barragens e assim também ampliar a militância da resistência; outro objetivo será enviar mensagem à presidente da república a lhe dizer que, pelo fato de ser presidente da república, não tem direito de impor projetos hidroelétricos na Amazônia violando direitos humanos, ambientais e tratados internacionais como a violação do artigo 169 da OIT, por falta de consulta prévia, livre e abrangente dos povos ameaçados pelos projetos hidroelétricos.
As manifestações nas ruas e praças das seis cidades terão lema comum: DEFENDER A VIDA DO RIO TAPAJÓS É DEFENDER NOSSA PRÓPRIA VIDA. Em cada cidade uma equipe de liderança assumirá a organização da manifestação, convidando as autoridades locais, as várias organizações populares para expressarem seu compromisso com a defesa do rio e dos povos tapajônicos. Um grande abaixo assinado será feito pelos manifestantes das manifestações como aceitação da resistência. Este documento será coletado e enviado ao governo federal, como prova de que não abrirão mão do belo rio ameaçado pelas barragens. Os canais de televisão locais e emissoras de rádio serão convidados a fazer cobertura dos eventos.
Despertar as consciências dos desinformados e iludidos pelas promessas do governo sobre os benefícios das hidroelétricas, unir as forças do povo Munduruku com as dos habitantes das diversas comunidades ribeirinhas e urbanas do Tapajós será a forma de enfrentar as arbitrariedades dos que insistem em destruir um belo rio e seus povos para gerar eletricidade mercadoria para grandes empresas do país.