10 Março 2015
Por ocasião do próximo segundo aniversário do pontificado de Francisco, no dia 13 de março, interpelamos diversos vaticanistas e estudiosos para pedir a sua opinião, mesmo que breve, sobre a característica mais relevante e significativa desses primeiros 24 meses da missão pastoral de Jorge Mario Bergoglio.
A reportagem é publicada por Il Sismografo, 07-03-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Segue abaixo a opinião do jornalista Paolo Rodari, do jornal La Repubblica.
Eis o texto.
Francisco inaugurou um tempo novo, o tempo do Espírito. É ele, o Espírito, o guia da Igreja, o Espírito que a todos quer alcançar, particularmente os distantes, aqueles que, por causa do seu pecado ou das suas condições de vida, sentem-se indignos de entrar nas igrejas, de se aproximar de Jesus, de ser abraçados pelo seu amor.
Mas a Igreja, como disse meses atrás o cardeal Walter Kasper, não é um castelo com pontes levadiças em que aqueles que estão dentro decidem arbitrariamente quem é digno de entrar e quem não. A Igreja, no máximo, é uma família na qual todos são queridos bem.
Nesse sentido, é bonito o que, no L'Osservatore Romano, o prior de Bose, Enzo Bianchi, escreve: segue a linha de abertura ao diálogo que Paulo VI delineou na Ecclesiam suam e que o Concílio assumiu – abrindo brechas, derrubando muros e bastiões – e que, "desde o início do seu pontificado, o Papa Francisco fez ressoar com tom renovado e forte a palavra misericórdia".
E ainda: "As palavras dirigidas aos párocos de Roma, em março do ano passado – "[é preciso] ouvir a voz do Espírito que fala a toda a Igreja neste nosso tempo, que é precisamente o tempo da misericórdia. Disso estou certo. Nós estamos vivendo um tempo de misericórdia" – revelam o coração e o programa do atual pontificado".
Para viver a misericórdia, para propor a misericórdia como leitmotiv da vida de toda a Igreja, não devemos ter medo do Espírito, de se confiar a Ele, de ter fé que Ele pode fazer o que aparentemente parece impossível. O quê? Viver sem fugir, do modo justo, aquela tensão que sempre deve ser mantida aberta entre vida e doutrina, entre práxis e dogma.
Dizia muito bem o teólogo francês Henri de Lubac (Francisco fala dele na Evangelii gaudium), quando convidava a viver o paradoxo. A vida é um paradoxo. E o paradoxo – por exemplo, as contradições daqueles que, crendo, choca-se cotidianamente com o próprio limite – não deve ser eliminado propondo uma moral estéril e fossilizada, ou lembrando o que a doutrina da Igreja diz a respeito, mas deve ser abraçado todas as vezes de modo diferente, caso a caso.
Parece-me que é isso que o bispo de Roma, Francisco, está fazendo e propondo, um Evangelho da misericórdia que não tem medo de se encarnar nos casos individuais, para que ninguém se sinta excluído do fogo do Espírito.
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Dois anos de Francisco: ''Ele está fazendo e propondo um Evangelho da misericórdia'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU