13 Fevereiro 2015
Excelência, passaram-se dois anos desde que Bento XVI anunciou a sua "renúncia" ao pontificado. Ele fala sobre isso? Como o Papa Emérito olha, hoje, para essa escolha?
Bento XVI está convencido de que a decisão tomada e comunicada foi a certa. Ele não duvida disso. Está muito sereno e certo disso: a sua decisão era necessária, tomada "depois de ter repetidamente examinado a minha consciência diante de Deus". A consciência de que as forças do corpo e da alma desapareciam, de ter de olhar não para a própria pessoa, mas para o bem da Igreja. As razões estão na sua Declaratio. A Igreja precisa de um timoneiro forte. Todas as outras considerações e hipóteses são equivocadas.
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera, 12-02-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O arcebispo Georg Gänswein responde sereno e seco, em uma breve pausa dos seus dias muito intensos. Eram as 11h41 do dia 11 de fevereiro 2013, quando Bento XVI tomou a palavra diante dos cardeais atônitos, "declaro me ministerio renuntiare". Um instante que marcou a sua vida também.
Como prefeito da Casa Pontifícia, ele trabalha ao lado do Papa Francisco. Como histórico secretário particular de Ratzinger, ele escolheu continuar vivendo com o Papa Emérito no mosteiro Mater Ecclesiae, no Vaticano. Uma ponte entre os dois papas que "se escrevem, se telefonam, se convidam", contou ele há algum tempo.
Eis a entrevista.
Falou-se da escolha de Ratzinger como de um grande ato de governo da Igreja.
Você absolutamente tem razão: era um grandíssimo ato de governo da Igreja.
O que o senhor diria para aqueles que continuam duvidando da validade da renúncia ou da eleição de Francisco?
Não se pode fundamentar hipóteses sobre coisas que não são verdadeiras, totalmente absurdas. O próprio Bento XVI disse que tomou a sua decisão de modo livre, sem nenhuma pressão. E assegurou "reverência e obediência" ao novo papa.
Mas por que isso acontece? Falta de sentido da Igreja?
Sim, as dúvidas sobre a renúncia e a eleição nascem disso.
Como Bento XVI está hoje? De vez em quando, há quem lane alertas sobre a sua saúde...
Há muita má-fé, quem quer o mal. Bento XVI é um homem de quase 88 anos. Como é normal para a sua idade, de vez em quando, as pernas lhe dão algum problema. Isso é tudo. Ele tem o seu ritmo diário, é muito metódico. E a cabeça funciona muito bem, a sua mente é formidável. Quando a Universidade Urbaniana lhe dedicou a aula magna, e o cardeal Filoni lhe propôs, em outubro, uma lectio para o início do ano acadêmico, Bento XVI escreveu um texto muito bonito sobre a "questão da verdade", que me pediu de ler para ele...
Como ele passa os dias?
O seu dia típico começa com a santa missa de manhã, como sempre, só um pouco mais tarde do que antes, às 7h45. Depois, a ação de graças, o breviário, um breve café da manhã. Durante a manhã, ele reza, lê, estuda, abre a correspondência e, às vezes, recebe visitas. Por volta das 13h30, almoçamos e, depois, fazemos um passeio no terraço, duas ou três voltas, antes de ele ir repousar. Às 16h15, vamos aos Jardins Vaticanos: caminhamos para a gruta de Lourdes, rezamos, recitamos o rosário. Mais tarde, ainda há tempo para a oração, o estudo. Jantamos às 19h30 e vemos um telejornal italiano. À noite, Bento XVI reza as Completas na capela e depois se retira. Mesmo que, de vez em quando, ele toque [o piano].
Ele continua tocando piano?
É claro. Justamente nas últimas semanas, ele voltou a tocar mais frequentemente! Mozart, sobretudo. Mas também outros trechos que lhe vêm à mente no momento. Ele toca de cor.
Ratzinger escolheu se chamar, como pontífice, como o pai do monaquismo ocidental. Os seus dias lembram os de um monge...
Sim, ele escolheu uma vida monástica. Só sai quando o Papa Francisco lhe pede. De resto, não aceita outros convites. Regula-se como ele decidiu: escolhi esta vida, diz ele, e devo permanecer coerente com a minha escolha.
Bento e Francisco são diferentes, é natural. O que eles têm em comum?
São diferentes, às vezes muito diferentes, os modos de expressão. Mas eles compartilham a substância, o conteúdo, o depositum fidei a anunciar, a promover e a defender.
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A nova vida monástica do Papa Emérito: ''Ele toca Mozart, estuda'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU