Por: André | 28 Janeiro 2015
“Exclusivamente pastoral”. Dessa maneira o próprio Francisco qualificou a anunciada visita apostólica que fará à Bolívia durante este ano de 2015 e que ainda não tem data prevista. Suas palavras, contidas em uma carta dirigida ao cardeal Ricardo Ezzati, foram divulgadas enquanto aumenta, no Chile, a preocupação com o uso político que o seu giro apostólico poderia dar a Evo Morales, em meio a um diferendo territorial aberto entre ambas as partes.
A reportagem é de Andrés Beltramo Álvarez e publicada no sítio Vatican Insider, 26-01-2015. A tradução é de André Langer.
O debate midiático sobre este tema foi aberto em dezembro, quando Morales antecipou publicamente a decisão do Papa de visitar seu país ao longo deste ano. Embora o Vaticano não tivesse confirmado na época essa eventualidade, ele a dava como certo.
Depois da notícia, que pegou a todos de surpresa, sobre o papel chave jogado pelo Pontífice na aproximação entre Cuba e os Estados Unidos, o presidente boliviano revelou ter entregado à Santa Sé informação detalhada sobre a sua reivindicação. Em 2013, a Bolívia apresentou à Corte Internacional de Justiça de Haia uma demanda cujo objetivo é obrigar o Chile a abrir conversas bilaterais que ofereçam a possibilidade de obter uma saída soberana ao Oceano Pacífico, que perdeu por causa de uma guerra entre os dois países no século XIX.
O governo chileno reagiu imediatamente às palavras do presidente boliviano e através de seu chanceler, Heraldo Muñoz, deixou clara a sua posição: “O Chile não aceitou no passado, não aceita e não aceitará mediação alguma em um tema que é absolutamente bilateral e que compete exclusivamente ao Chile e à Bolívia. O Chile nunca vai considerar, nem aceita, nem aceitará ceder território sob pressão nem mediação de espécie alguma”, assinalou o chanceler durante uma entrevista coletiva concedida no dia 06 de janeiro.
A polêmica recrudesceu depois que o Papa confirmou publicamente que visitará a Bolívia, Paraguai e Equador em 2015, enquanto tem a previsão de viajar ao Chile, Argentina e Uruguai no próximo ano. Fez o anúncio durante o seu encontro com os jornalistas a bordo do avião papal, no retorno das Filipinas para Roma, dia 19.
Nesse mesmo dia, a Conferência dos Bispos da Bolívia emitiu um comunicado no qual considerou “importante manter esta visita em um contexto pastoral e evitar qualquer tentativa de instrumentalização da mesma, posto que as especulações podem desorientar a opinião pública e inclusive entorpecer as gestões em andamento”.
Do outro lado da fronteira, a resposta de uma parte da classe política foi violenta. Alguns parlamentares chegaram inclusive a qualificar o giro de Francisco pelo país vizinho de “inconveniente”, reclamaram ter tomado conhecimento por uma deslealdade de Evo e lamentaram que não tenha sido levada em conta a proposta de organizar uma visita conjunta, sem privilegiar nenhuma das partes.
O primeiro a tentar aplacar a controvérsia foi o chanceler Muñoz ao reconhecer a “boa notícia” que é a visita papal em 2016. Em seguida, coube o turno ao arcebispo de Santiago, Ricardo Ezzati, que decidiu tornar público o conteúdo de uma carta pessoal que recebeu do Papa no dia 05 de janeiro de 2015.
Na carta, o pontífice esclareceu que as visitas a ambos os países serão realizadas “animado exclusivamente pela caridade pastoral”. Além disso, manifestou que tem o Chile “muito presente em seu coração” e que reza para que “cresça em todas as partes a fraternidade e o entendimento mútuo”.
“Diante do anúncio, o cardeal Ricardo Ezzati agradece publicamente ao Papa Francisco sua preocupação e generosidade para com os povos irmãos da Bolívia e do Chile, e desde já convida a todos a dispor o coração para a sua visita. Convida os fiéis para rezarem pelo Santo Padre e a colocarem todas as suas energias para acolhê-lo como mensageiro de Jesus e seu Evangelho”, concluiu uma nota da arquidiocese de Santiago.
Embora ainda não haja data oficial para a visita de Francisco à Bolívia, na América do Sul especula-se com uma participação sua no Congresso Eucarístico Nacional, previsto para 01 a 05 de julho próximo, em Tarija.
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O Papa afasta “fantasma” de instrumentalização em visita à Bolívia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU