Por: Jonas | 27 Janeiro 2015
Estivemos com Dimitris Vitsas na sede central do partido Syriza, situada a poucos metros da Praça Omonia, onde Alexis Tsipras e Pablo Iglesias encerraram a campanha eleitoral, na última quinta-feira. Recebeu-nos em seu escritório, com um forte aperto de mão e nos oferecendo um cigarro. Vitsas, além de responsável político do Syriza, também foi candidato ao parlamento nas eleições legislativas de ontem.
A entrevista é de Sara Serrano, publicada por Página/12, 26-01-2014. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
Por que o primeiro-ministro Antonis Samaras fracassou em sua tentativa de designação presidencial?
As eleições antecipadas são consequência da perda de legitimidade do governo de Samaras. Após os resultados das eleições europeias, Samaras procurou, por meio de um terceiro acordo, recuperar a confiança de algumas elites europeias que constatavam que seu poder havia se fragilizado na Grécia e de alguns eleitores que cada vez mais duvidavam que a austeridade e o caminho seguido por Samaras fossem a única saída para a crise. Frente a isto, Samaras pediu o voto de confiança no Parlamento, começou uma campanha de medo e terror contra o Syriza e, como último recurso, recorreu ao adiamento da designação presidencial. Por sua parte, o Syriza não se contentou com os resultados eleitorais, mas, sim, pressionou o governo nas ruas, enquanto apontava alternativas políticas à austeridade que incentivassem o desenvolvimento. Tudo isto fez com que Samaras não tivesse outra alternativa a não ser a de adiantar as eleições legislativas.
Não há nenhuma possibilidade de que o KKE (Partido Comunista Grego) apoie o Syriza para assim formar um governo integralmente de esquerda?
A direção do KKE está cometendo um erro histórico ao não apoiar o Syriza, que lhe passará a fatura no futuro. Só me ocorre um precedente semelhante, que é o caso da postura inicial do Partido Comunista Cubano frente a Fidel Castro e sua incapacidade de entender as necessidades de seu povo, durante este período. No entanto, a história demonstrou que Castro e Guevara tinham razão. Do mesmo modo, o KKE está antepondo seus interesses partidários aos interesses da sociedade e da classe trabalhadora grega. Apesar disso, acreditamos que os resultados das eleições gerarão uma dinâmica que necessariamente envolverá o apoio do KKE. Tanto nós como a sociedade estamos à espera de seus movimentos próximos.
Para se levantar contra a troika e as políticas de austeridade também serão necessários apoios fora da Grécia. Como você avalia as possibilidades de mudança do mapa político europeu em uma direção progressista?
Estamos vivendo um período de grandes mudanças históricas, em que a escolha da maneira de sair da crise determinará um novo cenário. A Europa tem duas saídas: recuperar os princípios de solidariedade e a democracia ou abraçar os princípios de uma extrema-direita, muitas vezes fascista. A recusa de Merkel da primeira opção e o aprofundamento das políticas de austeridade levam ao crescimento da influência e o poder da extrema-direita nas sociedades. Ao contrário, o Syriza contribui para a construção de uma saída democrática da crise pela mão do Podemos, na Espanha, ou do Sinn Fein, na Irlanda, e com os movimentos sociais que estão surgindo no centro da Europa. Para sair da crise alguém terá que ganhar e alguém perder. Nossa postura é que a sociedade não seja a que volte a perder, mas, sim, os responsáveis da crise.
Marine Le Pen disse que se alegraria com uma vitória do Syriza...
Nós representamos o principal obstáculo para o crescimento de forças populistas de extrema-direita como a Frente Nacional de Marine Le Pen.
Como você avalia as comparações que são feitas entre Syriza e Podemos?
A Espanha e a Grécia possuem contextos diferentes, razão pela qual não é possível extrapolar experiências diretamente. Temos uma aliança com o Podemos e estamos colaborando estreitamente. Pablo Iglesias vem com muita frequência à Grécia e Alexis Tsipras também viajou à Espanha e temos uma relação de companheiros. Também estamos colaborando e trocando ideias no plano político e econômico. Conseguimos criar uma nova situação na qual cresce a esperança em toda a Europa, deixando para trás os sectarismos partidaristas e recuperando os valores do internacionalismo e da solidariedade.
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“A saída democrática da crise” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU