12 Janeiro 2015
"A julgar pelo novo momento de Beijing com a região, se pode ser otimista: em fim de contas, é outra expressão de uma mutante correlação de forças no plano internacional, onde nossa região começa a interatuar cada vez com maior fluidez com os novos pólos de poder em nível global", escreve Juan Manuel Karg, pesquisador do Centro Cultural da Cooperação, em artigo publicado por Rebelión, 09-01-2014. A tradução é de Benno Dischinger.
Eis o artigo.
2015 começa com uma importante citação da diplomacia regional quanto à sua vinculação com as economias emergentes: o Foro Ministerial da Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (CELAC) com a China, uma das economias mais pujantes dos últimos anos em nível global. O que se pode esperar da reunião que nestes dias tem lugar em Beijing? Quais as oportunidades que se abrem para a região após este encontro?
A CELAC terá seu conclave no final deste mês, em San José na Costa Rica. Sem embargo, a reunião que os chanceleres terão nestes dias em Beijing abre um leque de possibilidades para a região. Vejamos: ali tentar-se-ão aprofundar os acordos alcançados no recente giro que realizou o presidente Xi Jimping durante 2014 por vários países da região – Brasil, Argentina, Cuba e Venezuela -. A diplomacia chinesa tem otimismo de que mais acordos possam ser levados adiante, tal como o assinalou dias atrás Zhu Qingpiao, o diretor geral para a América Latina e o Caribe, da chancelaria.
A reunião será marcada no Plano de Cooperação China-América Latina e o Caribe (2015-2019), cujo propósito é, tal como se depreende da reunião ministerial de julho passado, aumentar os vínculos e a cooperação “em campos como o diálogo político, comércio, inversão, agricultura, alta e novas tecnologias, energias renováveis”, entre outros importantes eixos. De acordo com cifras de Beijing, o intercâmbio comercial China - América Latina superou os 240 mil milhões de dólares em 2014. A isto é preciso somar projeções, como os desembolsos que o gigante asiático fará nos próximos anos na Nicarágua para desenvolvimento do canal inter-oceânico, cujas obras se iniciaram em fins de dezembro. Estima-se que somente esta obra pode supor uma inversão de capitais chineses de uns 50 mil milhões de dólares, propiciando um imenso fluxo de capitais para a América Central.
Com esta inversão pretenderá Beijing dar uma lição a Washington? Com uma diplomacia que sempre soube ser mais cautelosa - e silenciosa – do que a América do Norte quanto aos seus interesses na região, China começa a “levantar o perfil” de sua nova relação com a América Latina: o encontro se dá apenas meio ano depois da importante reunião BRICS-Unasul em Brasília, e do giro que mencionáramos anteriormente. Isto somado a uma inegável melhoria das relações entre China e Rússia nos últimos tempos, o que ajuda a entender melhor o contexto global: dez reuniões bilaterais entre Xi Jimping e Vladimir Putin nos últimos dezoito meses podem confirmar este dado, com acordos-chave como a construção do gasoduto russo-chinês Sila Sibiri e um aumento na cooperação militar num panorama geopolítico convulsionado em escala global. Falamos, então, de um novo momento da China a nível internacional, algo que também ficou demonstrado na recente cúpula da APEC.
É preciso recordar que o ponta-pé inicial deste espaço de vinculação entre a China e os 33 países da América Latina e do Caribe foi precisamente acordado durante a reunião da CELAC em Cuba, em janeiro de 2014. É bom remarcar isto para visualizar os avanços na materialização dos acordos, em face de algumas teses que tendem a menosprezar o papel que tem estas reuniões na concretização do “dia-a-dia”. Resta esperar, então, que os acordos aos quais se chegue nestes dias em Beijing logo possam ter uma nítida concretização na região. A julgar pelo novo momento de Beijing com a região, se pode ser otimista: em fim de contas, é outra expressão de uma mutante correlação de forças no plano internacional, onde nossa região começa a interatuar cada vez com maior fluidez com os novos pólos de poder em nível global.
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O novo mundo multipolar e a América Latina - Instituto Humanitas Unisinos - IHU