07 Janeiro 2015
Eugene Robinson, do jornal The Washington Post, e Lawrence Kudlow, do CNBC (canal de assinatura dedicado a notícias de negócios), revisaram o mesmo conjunto de dados econômicos e chegaram a entendimentos diametricamente opostos. Ambos, no entanto, concluíram que a economia americana está em muito boa forma.
A reportagem é de Pat Perriello, publicada pelo National Catholic Reporter, 05-01-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
No artigo intitulado “Economic Facts Get in the Way”, Robinson descreve alguns dos dados econômicos atuais. A economia cresceu 4,6% no segundo trimestre e 5% no terceiro trimestre. O nível de desemprego caiu para 5,8%. Mais de 5 milhões de empregos foram criados desde que o presidente Obama assumiu o poder, e quase 10 milhões de postos de trabalho foram criados desde a pior recessão. O mercado de ações está em níveis recordes, e os custos com a saúde estão chegando aos níveis mais baixos em décadas.
Robinson salienta também que o candidato presidencial Mitt Romney prometeu diminuir o desemprego para 6% e que, agora, este número foi ultrapassado: 5,8%. O autor observa ainda que a muita difamada lei que regulamenta o sistema público de saúde americano (o Affordable Care Act) é, ao menos em parte, responsável pela queda nos custos de assistência à saúde. O mais importante é que ele insiste que Obama resgatou uma economia que estava à beira da depressão. Não pode haver dúvida de que o governo tem, de fato, um papel a desempenhar na criação de uma economia que funcione para todos os seus cidadãos.
Por outro lado, Lawrence Kudlow discorda enfaticamente em seu artigo intitulado “A Return to the JFK-Reagan Economic Model”. Embora aceite que o mercado tenha crescido 43%, ele atribui este fato a lucros recordes e a múltiplas expansões. Aqui, o autor defende a ideia de que nada do que o governo ou o Federal Reserve Bank – equivalente ao Banco Central americano – fez funcionou. Para Kudlow, o crescimento da economia está ocorrendo a despeito do governo, e por causa do poder de uma economia de livre mercado em superar uma má política. Ele insiste que nenhuma das flexibilizações quantitativas deram certo. O autor até mesmo aponta para a década de 1920 como um período em que o livre mercado funcionava admiravelmente. Mesmo com o que que aconteceu em 1929 na economia, a fórmula vencedora, para Kudlow, é ter índices de impostos mais baixos, menos gastos, desregulação e um dólar forte.
Fica bastante fácil ver que quando as opiniões das pessoas são tomadas a partir de um ponto de vista ideológico, torna-se quase impossível encontrar soluções comuns. Está claro que nem o livre mercado por si mesmo, nem uma economia administrada pelo governo unicamente é uma resposta satisfatória. Há elementos importantes vindo de ambos os lados do espectro e que precisam ser incluídos numa abordagem ampla no intuito de se manter uma economia forte e vibrante. Eu sugiro, no entanto, que nós podemos ganhar uma relevante orientação ao considerarmos um pouco daquilo que o Papa Francisco tem a dizer sobre a economia.
Francisco quer colocar o foco econômico na fome e em doenças como o ebola, que geralmente se alastram por negligência. Ele está lutando contra a desigualdade e enxerga a pobreza como um escândalo. O papa acredita que o acesso ao capital é um direito humano tanto quanto o é a educação e a assistência médica.
Francisco considera o sistema de pensamento de Kudlow como aquele que beneficia os que se encontram no topo da riqueza e do poder.
O contraste entre Kudlow e Francisco é muito gritante. O interesse primordial para Kudlow e Wall Street são os lucros corporativos. Por outro lado, Francisco está em busca de justiça e vem defendendo os pobres. Ele está desafiando a noção de que o mercado, deixado cuidados de seus próprios dispositivos, será melhor para a economia. Quando Wall Street diz que o livre mercado é melhor, ele quer dizer que é melhor para a produção de dinheiro aos poderosos. Francisco e a doutrina social católica sempre tiveram a ver com o fazer o que é melhor para todas as pessoas.
A mim, parece o que Francisco está dizendo é: se você realmente se importa com os seres humanos, a noção de que podemos simplesmente sentar e esperar para que boas coisas aconteçam não faz sentido. Mais especificamente, quando vemos as enormes inequidades mundo afora produzidas pelo atual funcionamento do capitalismo, não podemos olhar para este sistema de maneira benevolente. Para que ele seja verdadeiramente um sistema financeiro que valha a pena, ele deve também considerar e encarar as necessidades dos pobres e da classe média. Em outras palavras, embora a economia de livre mercado tenha muito a oferecer, ela não pode ser 100% livre.
O precioso livre mercado de Lawrence Kudlow é ótimo para produzir lucros corporativos e tornar ricas algumas poucas pessoas. Kudlow parece estar propondo a velha teoria econômica do gotejamento. Simplesmente deixem as coisas como estão e os pobres e a classe média podem receber as migalhas que caem da mesa dos poderosos. Francisco está dizendo que isto não é o suficiente.
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Qual é a fórmula certa para se produzir uma boa economia? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU