15 Dezembro 2014
Na terça-feira, o tão aguardado relatório do Vaticano sobre a vida das religiosas dos Estados Unidos será lançado. Ele chega depois de uma visitação apostólica de três anos liderada pela Ir. Mary Clare Millea, superiora geral das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus.
Neste artigo, ela descreve como começou essa tarefa e quais as suas esperanças para as suas conclusões. O artigo foi publicado no jornal britânico The Tablet, 13-12-2014. A tradução é de Claudia Sbardelotto.
Eis o texto.
Nossas vidas, às vezes, podem mudar dramaticamente durante vários anos por uma única conversa. Lembro-me, como se fosse ontem, de um breve telefonema do cardeal Franc Rodé, então prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, no fim de 2008. Quando ele perguntou se eu estaria disposta a realizar uma visitação apostólica aos quase 400 institutos de religiosas nos Estados Unidos, eu me senti assoberbada. Embora eu tenha percebido imediatamente que a tarefa estaria bem além das minhas habilidades, eu sabia no meu coração que tinha que dizer sim.
Eu sabia que seriam necessárias não somente orações, mas também a melhor ajuda prática possível e experiência, e rapidamente reuni uma equipe especializada para me apoiar. Eu estava certa de que o compromisso dessas pessoas com os valores da vida religiosa iria garantir que a visitação ocorresse com profundo respeito por cada congregação em específico e por cada religiosa em particular. Já que eu mesma sou superiora geral de uma congregação religiosa internacional, liderando mais de 1.000 irmãs em 15 países, as quais eu visito regularmente, assumir essa responsabilidade adicional também pedia a compreensão e o apoio das minhas próprias irmãs.
O anúncio da visita apostólica veio como uma surpresa e provocou algumas reações muito fortes, inclusive de algumas religiosas. Eu decidi que, embora a par das críticas, gostaria de me concentrar em tentar realizar o serviço a mim confiado do modo mais respeitosamente possível. Eu senti que tinha a total confiança da congregação em Roma. Eu estava autorizada a escolher os meus próprios colaboradores e parceiros e formular minha própria estratégia para avaliar a qualidade de vida das congregações religiosas femininas dos EUA.
Na primeira das nossas muitas longas sessões de trabalho em conjunto, a equipe principal escolheu uma imagem da Visitação de Maria à sua prima Isabel como o ícone de nossa própria visitação. Iniciávamos cada encontro com uma oração especial a Maria que, "com Jesus escondido sob o seu coração, levantou-se naqueles dias e, com pressa, foi até sua parenta Isabel, para servi-la em seu momento de necessidade". Pedíamos a Maria que nos ajudasse a servir as nossas irmãs que fielmente amam a Igreja, e para nos ajudar a amar a Igreja humildemente servindo nossas irmãs.
Nós tentamos colocar a escuta compassiva no cerne do processo. Tudo começou com o meu encontro com - muitas vezes conhecendo pessoalmente - 266 das 341 superioras gerais dos institutos dos EUA envolvidos em atividades apostólicas. (Uma vez que seus estilos de vida e necessidades são tão diferentes, tinha sido decidido não incluir as comunidades contemplativas de clausura na visitação.) Cada uma delas compartilhou comigo as alegrias, esperanças e desafios de sua congregação. Nas fases subsequentes, de coleta de dados qualitativos e quantitativos e de avaliação, recebemos informações das próprios religiosas, de seus pastores e de qualquer outra pessoa que desejasse compartilhar suas ideias conosco. Embora o próprio processo fosse público, tivemos o cuidado de proteger a confidencialidade dos que tinham respondido ao nosso pedido de feedback e informação.
Setenta e cinco visitadores diferentes de 46 institutos religiosos diferentes foram então escolhidos para fazer visitas in loco às congregações religiosas selecionadas. Todos esses visitadores participaram de uma sessão de treinamento residencial intensivo, projetado para assegurar que eles seriam ouvintes ativos, incentivando cada irmã com quem se encontrassem a partilhar a sua experiência vivida e a expressar sua visão pessoal de seu carisma e missão. Os visitadores incluíam quatro homens, que foram enviados aos institutos que nos tinham dito que gostariam de receber um visitador religioso do sexo masculino. No fim de cada visita, um relatório confidencial foi preparado para mim, que se tornou um documento de referência para me ajudar na preparação do meu relatório, que eu concluí em janeiro de 2012.
Muitas oportunidades de reflexão, diálogo e comunhão, tanto entre as religiosas dos EUA quanto na Igreja em geral, foram fornecidas pela visitação. Embora continuasse a enfrentar críticas, muitas das líderes de congregações dessas mulheres, incluindo algumas que haviam inicialmente expressado resistência à visitação, descobriram que o processo produziu resultados surpreendentemente positivos, incluindo um contato mais profundo com a Palavra de Deus, com as palavras e com o testemunho de suas fundadoras e fundadores, e com a doutrina da Igreja sobre a vida consagrada.
Em sua carta apostólica às pessoas consagradas no início do Ano da Vida Consagrada em 30 de novembro, o Papa Francisco nos pede para olhar para o passado com gratidão, para viver o presente com paixão e abraçar o futuro com esperança. Eu acredito que a visita apostólica deu às religiosas dos EUA uma oportunidade para redescobrir a grandeza dos carismas únicos de nossas fundadoras e fundadores, e para reacender o nosso desejo de encontrar maneiras criativas de levar a novidade do Evangelho a todas as culturas e a todos os cantos da sociedade. Talvez, como Maria e Isabel, nós também possamos ser surpreendidas pelas grandes coisas que o Espírito Santo ainda pode e vai fazer em e através de nós.
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Mulheres que despertam o mundo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU