04 Dezembro 2014
As ordens religiosas e a Congregação vaticana que as auxilia devem ser ousadas na avaliação sobre se as atuais estruturas e práticas ajudam ou atrapalham na proclamação do Evangelho, na busca pela santidade e no serviço aos pobres, disse o Papa Francisco.
A reportagem é de Cindy Wooden, publicada pelo Catholic News Service, 01-12-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
“Não devemos ter medo de deixar os ‘odres velhos’, quer dizer, de renovar os hábitos e as estruturas que, na vida da Igreja e, portanto, também na vida consagrada já não respondem ao que Deus pede hoje para fazer avançar o seu Reino no mundo”, contou o pontífice, ex-provincial jesuíta, aos membros da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica.
O papa se reuniu com os membros desta congregação no dia 27 de novembro, três dias antes da abertura do Ano da Vida Consagrada. No mesmo dia, ele também se encontrou com os Padres Paulinos, as Filhas de São Paulo e outros grupos religiosos e leigos que se inspiram no beato Tiago Alberione através de ordens dedicadas à evangelização via imprensa.
Em sua fala aos membros da Congregação para os Religiosos, o papa disse que a Igreja deve ter coragem para reconhecer e mudar as “estruturas que nos dão uma falsa proteção e que condicional o dinamismo da caridade”, bem como “os hábitos que nos afastam do rebanho ao qual somos enviados e nos impedem de escutar o grito daqueles que esperam a Boa Nova de Jesus Cristo”.
O Papa Francisco disse também que “desde o Concílio Vaticano II, o vento do Espírito continuou soprando com força”, pressionando as ordens religiosas a realizarem aquela renovação que o Concílio mesmo pediu e trazendo novas formas de vida religiosa na Igreja.
“Na parcela da vinha do Senhor representada pelos que escolheram imitar a Cristo mais de perto” através votos de pobreza, castidade e obediência, disse o papa, “amadureceu a uva nova e se espremeu o vinho novo”.
A Congregação e as ordens religiosas, disse, são chamadas a “discernirem a qualidade e o sabor do ‘vinho novo’ colhido na longa temporada da renovação, e ao mesmo tempo avaliar se os odres que o contêm – representados pelas formas institucionais presentes atualmente na vida consagrada – são adequados para conter este ‘vinho novo’ e favorecer o seu pleno amadurecimento”.
O papa falou aos membros da Congregação saber que nem todas as notícias sobre a vida religiosa são boas e que a Igreja não deveria “esconder as fraquezas”, inclusive a “resistência de mudança em certos setores, a habilidade de atrair novos membros, o número não irrelevante daqueles que abandonam [a vida consagrada]... Isso é o que me preocupa, de verdade”.
O Vaticano e as próprias ordens devem tomar cuidado em aceitar candidatos e formá-los, acrescentou, mas também devem estar bastante cientes para garantir que “as tarefas institucionais e ministeriais” não sejam a prioridade em detrimento do desenvolvimento da vida espiritual dos membros. As ordens religiosas igualmente enfrentam “a integração difícil de diversidade cultural e geracional, o equilíbrio problemático do exercício da autoridade e o uso adequado dos bens materiais – a pobreza me preocupa também”.
Pedindo desculpas por dar “publicidade à minha família”, o papa disse que o fundador jesuíta, Santo Inácio de Loyola, descrevia o voto de pobreza como a “mãe e o muro” da vida consagrada: ele é a mãe porque dá a vida, é fonte de vida; e é o muro no sentido de que este voto protege os religiosos do mundanismo.
A reza é a primeira tarefa e auxílio para a santidade, disse.
“Por favor, digam aos novos membros que rezar não é perder tempo, adorar Deus não é perder tempo, louvar a Deus não é perder tempo”. Sem oração, falou, “o vinho será vinagre!”
Ao se encontrar logo depois com a família paulina, o Papa Francisco continuou refletindo sobre a importância da reza e do discernimento dos métodos.
“O segrego para a evangelização (...) é comunicar o Evangelho no estilo do Evangelho”, disse. “A alegria de um dom recebido a partir do puro amor deve ser comunicada com amor”.
O foco da partilha do Evangelho, disse o papa à família paulina, “está na constituição de vocês, está no DNA de vocês”.
“O objetivo final de nosso trabalho como cristãos nesta terra é alcançar a vida eterna”, disse-lhes. “Portanto, sermos uma Igreja peregrina – enraizada no compromisso de proclamar Cristo e o seu amor a toda criatura – impede-nos de continuar sendo prisioneiros das estruturas terrestres e mundanas”.
Confiando no Senhor e convencidos da ação do Espírito Santo, disse ele, os religiosos são chamados a não terem medo e, especialmente, a serem testemunhas de esperança e alegria no mundo.
Virando-se em particular para o ministério paulino através de livros, televisão, filmes e outros meios de comunicação, o papa pediu-lhes para “jamais promoverem o conflito, jamais imitarem aqueles meios de comunicação que olham somente para o espetáculo do conflito e provocam escândalos”.
Estejam certos, disse ele, de que o Espírito Santo irá inspirar a criatividade necessária para proclamar, fielmente, o Evangelho.
“Muitos ainda estão à espera de conhecer Jesus Cristo. A criatividade da caridade desconhece limites e irá sempre abrir novos caminhos” de evangelização, completou.
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Tempos de mudança podem necessitar de mudanças nas ordens religiosas, diz Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU