15 Dezembro 2014
Citando uma ordem "para tratar respeitosamente a Criação", um grupo de bispos católicos pediu o fim do uso de combustíveis fósseis, e que os negociadores nas conversações sobre o clima, organizadas pelas Nações Unidas, em Lima, Peru, estabeleçam bases para um acordo internacional vinculante no próximo ano em Paris.
A reportagem é de Brian Roewe, publicada no sítio Eco Catholic, 10-12-2014. A tradução é de Claudia Sbardelotto.
"A humanidade no Planeta Terra está destinada a viver em igualdade, justiça e dignidade, paz e harmonia em meio à ordem da Criação. A humanidade deve tratar respeitosamente a Criação, que tem um valor em si mesma", disseram os bispos.
A declaração foi feita na quarta-feira por nove bispos de quatro continentes e cinco países, em sua maior parte do Sul Global, cinco deles do Peru, país anfitrião. Isso incluía o arcebispo Salvador Piñeiro García-Calderón de Ayacucho, presidente da Conferência Episcopal Peruana.
A quarta-feira marcou o segundo dia de negociações de alto nível na cúpula climática da ONU, conhecida formalmente como a 20ª Conferência das Partes, ou COP-20. A cimeira, que começou no dia 1 de dezembro, concluirá nesta sexta-feira, embora as conferências, que se realizam anualmente desde 1992, no passado, estenderam-se por mais dias.
Os negociadores em Lima, que representam 195 países, têm a tarefa de trabalhar na elaboração de um esboço de um acordo em que as nações se comprometem a reduzir as emissões de gases de efeito estufa, além de oferecer ajuda financeira para o Fundo Verde para o Clima, criado para ajudar os países em desenvolvimento na adaptação e mitigação de esforços relacionados às mudanças climáticas. Um acordo, então, será assinado no próximo ano em Paris, local da 21ª Conferência das Partes.
"Nós, bispos, apelamos a todos os católicos e pessoas de boa vontade para que se envolvam na estrada para Paris como um ponto de partida para uma nova vida em harmonia com a Criação, respeitando os limites do planeta", disseram eles, observando que a sua mensagem "está enraizada na experiência e no sofrimento" de comunidades pobres e vulneráveis.
Os nove bispos pediram aos delegados que iparticiparão da conferência em Paris "para adotar um acordo global justo e juridicamente vinculativo com base nos direitos humanos universais aplicáveis a todos". Eles disseram que tal acordo deve manter o aumento da temperatura global abaixo dos 1,5 graus Celsius, em relação aos níveis pré-industriais - um limite ainda mais rígido do que os 2 graus apontados pelos cientistas do clima de forma a evitar efeitos piores da mudança climática.
Os bispos também pediram novos modelos de desenvolvimento e estilos de vida, que sejam "compatíveis tanto com o clima e que sejam capazes de afastar as pessoas da pobreza".
"Central a isso é colocar um fim à era dos combustíveis fósseis, suprimindo gradualmente as emissões de combustíveis fósseis e levando a um uso de 100% de energias renováveis, com acesso à energia sustentável para todos", disseram os bispos.
No início de sua declaração, os bispos atribuíram o aquecimento global ao "sistema econômico global dominante, que é uma criação humana". Eles argumentaram que o modelo colocou o mercado e o lucro acima do ser humano e do bem comum, e disseram que há uma necessidade "por uma nova ordem econômica e financeira".
Reforçando o impacto desproporcional da mudança climática sobre os pobres, os prelados exortaram os delegados da ONU a adotar esforços de adaptação e mitigação que atendam às necessidades das comunidades mais vulneráveis.
"Nós, bispos, queremos acompanhar o processo político e buscar o diálogo para trazer as vozes dos pobres à mesa de negociações", disseram eles.
Os bispos reconheceram que, mais e mais, nações, grupos religiosos e indivíduos têm reconhecido as preocupações naturais e éticas da mudança climática.
"Queremos ver, portanto, um aprofundamento do discurso na COP-20, em Lima, para garantir que decisões concretas sejam tomadas na COP-21 a fim de superar o desafio das alterações climáticas e que possamos nos colocar em novos caminhos sustentáveis", disseram eles.
Além de García-Calderón, os bispos que assinaram a carta são: arcebispo Pedro Barreto Jimeno, de Huancayo, Peru; Dom Sithembele Anton Sipuka, de Umtata, África do Sul; bispo auxiliar emérito, Dom Theotonius Gomes, de Dhaka, Bangladesh; Dom Marc Stenger, de Troyes, França; Dom Zanoni Demettino Castro, de Feira de Santana, Brasil; Dom Richard Alarcon Urrutia, de Tarma, Peru; Dom Jaime Rodriguez, de Huanuco, Peru; e Dom Alfredo Vizcarra, do Vicariato Apostólico de San Francisco Javier de Jaen, Peru.
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Bispos aos delegados da COP-20: fim aos combustíveis fósseis - Instituto Humanitas Unisinos - IHU