09 Dezembro 2014
Nascido no Rio Grande do Sul, mas radicado no Rio de Janeiro, Gaudêncio Frigotto é professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Em entrevista ao Brasil de Fato, ele faz uma avaliação da educação brasileira, destacando a importância da luta dos trabalhadores e o papel dos meios de comunicação na formação da sociedade.
A entrevista é de André Vieira, pulicada pelo jornal Brasil De Fato, 04-12-2014.
Eis a entrevista.
Apesar do aumento nos investimentos em educação nos últimos anos, pesquisa divulgada pelo IBGE apontou que ainda existem cerca de 13 milhões de brasileiros, acima de 15 anos, que são analfabetos. Quais os desafios para eliminar esse problema?
Primeiramente, sem dúvida houve um grande avanço nem investimento na educação fundamental, no nível médio, na educação profissional e foram criadas 18 universidades federais. Houve avanço na educação, mas é insuficiente. Basta ver esse número de analfabetos no Brasil. Os trabalhadores têm que reivindicar o direito de suas crianças terem uma creche, terem um ensino fundamental com professores que estejam apenas em uma escola, que o professor seja dignamente remunerado, que haja professor para todas as disciplinas. Precisamos entender que a única instituição que pode oferecer uma educação para todos é o Estado, não é a Organização Não Governamental (ONG), nem a igreja, nem a empresa. Esse é o grande desafio dos trabalhadores: pressionar os governos.
O que explica a dificuldade do trabalhador em acessar a educação?
O Brasil é a sétima economia do mundo em produção e uma das últimas em distribuição da sua riqueza. Temos políticas que realizaram uma melhoria pequena no salário mínimo, outras que transferiram renda aliando a política de cotas. Essas políticas mudaram a figura das universidades e das escolas públicas. Só que isso tem que ser multiplicado por 4,5 vezes. Na medida em que as famílias têm uma renda melhor, elas poderão ter dentro de suas casas, maiores investimentos daquilo que a classe média tem: computadores, livros. Então, um primeiro impedimento é causado pela injustiça da sociedade brasileira, onde um pequeno número ganha muito.
Em 2014 foi aprovado o Plano Nacional de Educação (PNE). Quais as consequências dele na vida dos brasileiros?
Primeiro, nós poderíamos implementar a escola em tempo integral de verdade. Não se trata de mais tempo na escola para a mesma escola ruim. Em Vacaria, no Rio Grande do Sul, por exemplo, o prefeito disse que vai criar creches que vão funcionar de 7 da manhã até 7 da noite. É uma creche de fato onde os pais terão a certeza que seus filhos vão estar ali tendo direito à arte, cultura, esporte, enfim, desenvolvendo sua personalidade. A aplicação do Plano seria um grande ganho para os pais que precisam trabalhar e um grande ganho para a sociedade, porque, aí sim, você poderia dizer que criança nenhuma fica na rua. Outra coisa que os pais precisam tomar cuidado é que os grandes veículos de comunicação não trabalham valores, eles deseducam. Uma escola pública de tempo integral com tudo aquilo que é educativo, artes, esporte, cultura e conhecimento livraria a juventude desse lixo. E nós professores poderíamos ajudar na construção de uma visão crítica desse lixo que são os grandes meios de comunicação.
Como nosso leitor pode contribuir para melhorar a educação?
O Plano Nacional de Educação e qualquer conquista só existem com luta política com "P" maiúsculo. Isso é, com organização em sindicato, associação de moradores, movimentos sociais. Sem pressão não vai haver avanço. Política é a luta daqueles que não têm direito, para que esse direito seja cumprido.
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"Houve avanço na educação, mas é insuficiente" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU