18 Dezembro 2014
"Faz bem esperar pelo fato que os (novos) métodos sinodais de trabalho, ativados sob a regia do Papa nesta experiência de diálogo eclesial nos níveis máximos, tenham permitido um efetivo exercício de responsabilidade coletiva da parte dos representantes do episcopado mundial", escreve Alberto Dal Maso, da fundação Bruno Kessler, em artigo publicado por Teologi@Internet, 27-11-2014. A tradução é de Benno Dischinger.
Eis o artigo.
Num par de recentes ocasiões, primeiro na Universidade de Viena (15 de outubro de 2014) e depois na Catholic University of America de Washington (6 de novembro de 2014), o cardeal Kasper rebateu publicamente que os esquemas correntes do tipo “progressista/conservador” se aplicam mal ao Papa Francisco. Não classificável no interior de qualquer escola acadêmica de teologia, homem prático que à abstração das idéias prefere o encontro direto com as pessoas, o Papa argentino escapa de semelhantes catalogações. Embora imediatas e eficazes no plano jornalístico, essas simplificações resultam enganadoras quando aplicadas tout court à sua figura de pastor ou ao seu pensamento teológico.
1. Um Papa radical para uma igreja radical?
Vê-se confirmado este convencimento especialmente se dirige retrospectivamente o olhar à conduta – silente, mas em nada de fato indiferente – do bispo de Roma nos dias do sínodo extraordinário. Ou mesmo, quando se relê o seu discurso para a conclusão da assembléia sinodal, que alguns julgaram ser “um dos mais importantes do seu pontificado, até hoje.
Neste último texto o Papa Bergoglio sublinha, em referência ao processo sinodal, a positividade do caminho cumprido em conjunto, ora com momentos de entusiasmo, ora com sinais de fadiga (quando, precisa ele, o mais forte se sente no dever de ajudar o menos forte). E não obstante estigmatiza as opostas tentações – embora verificadas, inútil escondê-lo – de enrijecer num fechamento encaracolado ou de diluir o evangelho da cruz, seja para apoiar os próprios medos de mudança, seja para cobrir as feridas sangrando com falsa piedade, sem curá-las. Cegueira nos confrontos com a realidade, cegueira nos confrontos com a verdade. Pão transformado em pedra, pedra transformada em pão, diz o Papa. Refutando essas secas alternativas, conclui, a Igreja deverá esforçar-se em ser fiel ao seu Esposo, sem medo de sentar à mesa com publicanos e prostitutas. Invocando sobre si mesma o dom daquela misericórdia que é propriedade fundamental de Deus, saberá exercitá-la não como cedimento populista nem como debilidade pastoral perante os irmãos caídos.
Em definitivo, pontualizava Kasper na sua lecture para a consignação da medalha intitulada ao patrólogo Johannes Quasten (1900-1997), se uma escolha de campo é individuada, do Papa Francisco se deve dizer que “ele não representa uma posição liberal, mas uma posição radical, entendida – na acepção original da palavra – como um recolher-se às raízes, à radix”, na convicção que este retorno às fontes da experiência cristã é, de fato, abrir novas estradas, divisar possibilidades impensadas, “construir uma ponte para o futuro”.
Aos leitores mais atentos não terá escapado que, assim dizendo, Kasper, em Washington, retomava exatamente uma formulação retórica da Introdução de seu Il vangelo della famiglia [O evangelho da família], que referia as tarefas da Igreja católica hoje (1), lá aplicada ao Pontífice que rege suas sortes. Tradição, sim, sem tradicionalismos. Radicalidade, sim, sem radicalismos.
Mas então, podemos perguntar-nos, que espaço tem obtido, a posteriori, as teses do “teólogo do Papa” sobre matrimônio e família, na Relatio synodi final? O “Papa das surpresas” pode dizer-se representado, como assere a mídia, dos passos indicados como necessários da “teologia de joelhos” do cardeal alemão e/ou da síntese a que chegou provisoriamente a assembléia conciliar? Tratou-se ali de radicalidade evangélica ou de maquiagem superficial?
Não podemos neste breve espaço aprontar um confronto sistemático que explicite ponto por ponto contatos e diferenças, elaborando um juízo circunstanciado e definitivo sobre os efeitos do discurso kasperiano sobre o Sínodo (2). Limitar-nos-emos, ao invés,a um olhar em vôo de pássaro (§ 2), individuando alguma linha de tendência, e depois (§ 3) indagaremos que coisa houve, no Sínodo, dos “quatro passos” elencados por Kasper no Epílogo de O evangelho da família. Conduzir-nos-ão no breve percurso também os textos de O matrimônio cristão: deste verdadeiro e próprio pequeno tratado sistemático a relação introdutória ao consistório do passado mês de fevereiro representa, se quisermos, a extrema Síntese.
2. Percursos paralelos sobre o evangelho da família.
O implante complexivo da argumentação, tanto nos textos de Kasper quanto na Relatio synodi, segue uma idêntica articulação tríplice: 1) escuta/olhar sobre a situação atual, especialmente sobre sua dimensão crítica; 2) escuta/olhar sobre o dado da revelação cristã; 3) confronto entre as duas perspectivas para discernir novas vias.
A primeira passagem desta rodada metodológica, ou seja, o instantâneo sociológico-psicológico da realidade de matrimônio e família assim como se deixa fotografar hoje, é muito mais elaborado e complexo na relação sinodal conclusiva do que na relação introdutória kasperiana. Não obstante, o Kasper de O matrimônio cristão se alonga propositalmente numa análise muito mais desenvolvida, que mantém – na distância de quase quarenta anos – uma surpreendente atualidade.
Quando dirige o olhar ao dado neo-testamentário, segundo três passagens, o documento sinodal sublinha a dimensão paradigmática da conduta de Jesus (n. 14) e distingue, na pedagogia divina, três (melhor, quatro) etapas fundamentais: a aliança esponsal inaugurada na criação, depois revelada na história de Israel, recebe a plenitude de seu significado salvífico em Cristo e se completará definitivamente nas núpcias escatológicas do Cordeiro (nn. 15ss.). Estas próprias etapas históricas aparecem organizadas de modo levemente diverso em O evangelho da família: a ordem do criado e a ferida do pecado já são pensados em perspectiva antigo-testamentária, a ordem da redenção em Cristo move do ditado dos evangelhos lançando-se até as contribuições do epistolário paulino, o aceno à simbologia escatológica do Apocalipse se alarga sobre o tema do celibato para o reino, tocando o tópos da família como Igreja doméstica, à qual é dedicada uma inteira secção (3).
Dado que não constitui um tratado, nem um ensaio de teologia, é compreensível que a Relatio Synodi – diversamente dos escritos de Kasper – não se encarregue de perpassar o desenvolvimento da reflexão e do estabelecimento dogmático nos dezenove séculos que intercorrem entre a época apostólica e o Vaticano II. De fato, concentra-se exclusivamente nos documentos do Magistério emanados desde o último concílio e dos últimos pontífices. Reassume depois o “evangelho da família” no votadíssimo n. 21 (com 181 placet de aprovação), ao qual faz seguir imediatamente o mais controverso n. 22 (22 também os non placet) sobre os elementos válidos e positivos presentes no matrimônio natural (sob tal expressão são incluídas em sentido lato uniões civis, matrimônios tradicionais, convivências) concebendo-o, não obstante limites e insuficiências, como orientado ou então orientável a um desenvolvimento, isto é, à plenitude do matrimônio cristão (cf. também o n. 27). Ali se individua assim uma capacidade de evolução, um tornar-se potencialmente positivo. Enfim, nos nn. 23-25, após ter sublinhado a beleza e a positividade maturadora da experiência e do testemunho dos matrimônios exitosos, para os casos de fragilidade e de falência o Sínodo individua uma concepção pastoral e misericordiosa.
Explicitando perspectivas propriamente pastorais (é a terceira passagem), o documento resumido da assembléia dos bispos católicos – que realmente recalcando de perto as posições do cardeal alemão – individual a urgência e a necessidade de escolhas corajosas, de caminhos pastorais novos que falam da realidade efetiva, de um olhar diferenciado sobre as diversas situações concretas (n. 45), para fazer encontrar sobretudo a face misericordiosa de Deus e a caridade maternal da Igreja, que se traduzem em experiências de reconciliação e de ajuda (n. 44). Citando Evangelii gaudium, é lançado o apelo a escutar com respeito, tornando-se próximo e companheiro de caminho (n. 46). Insiste-se também num discernimento particular para acompanhar os divorciados redesposados (n. 47) e se individua a necessidade de procedimentos canônicos mais acessíveis e ágeis, além de gratuitos, para o reconhecimento dos casos de nulidade – não sem citar a possibilidade de dar relevância ao papel da fé dos nubentes em ordem à validade do sacramento (n. 48) (4). Promovem-se, enfim, o discernimento e o cuidado pastoral perante os divorciados redesposados, favorecendo alguma participação sua na vida da comunidade eclesial (n. 51).
A um olhar global, os pontos de contato entre o pensamento de Kasper e as reflexões conduzidas pelos padres sinodais parecem, portanto, configurar, embora com inegáveis diferenças de visual e de concepção, um substancial paralelismo de percursos. Procuramos agora precisar, embora por alto, o confronto.
3. O peso da história sobre a teoria do vínculo.
Que acolhida tem recebido os passos que o cardeal sugeria cumprir no Epílogo de sua O evangelho da família? Eram quatro os passos desejados: podemos segui-los um a um, em sua exata sucessão, concatenados como são entre si (5).
1) Na primeira das duas etapas do Sínodo dos bispos sobre a família, aquela extraordinária celebrada em outubro passado, procurou-se sem mais uma linguagem nova que, deixando de lado tanto tons catastróficos e pessimistas como a presunção de julgar antes ainda de entender, afasta-se do imobilismo míope que finge não ver os problemas sob o tapete. A favor de uma espiritualidade do amor conjugal, um amor que encontra sua máxima expressão encarnada na intimidade sexual – esta sua especificidade -, se levantaram vozes no decurso da assembléia sinodal e se encontram acenos positivos no “léxico familiar” do documento conclusivo. E, com isto, se pode dizer cumprido o primeiro passo.
2) O tom geral daquele documento sintetizador, antes ainda de afirmações individuais, atesta um perfil pastoral profundo, mais integrado no estilo eclesial, na trilha do Vaticano II: escanteadas considerações rigoristas e legalistas, tem a melhor uma conduta de acompanhamento solidário, substanciado por assim dizer de “paciência e empatia”. Conscientes do tesouro a eles confiado, mas também dos próprios limites, os pastores são chamados a cumprir um caminho (também de conversão, por que não?) junto aos cônjuges, guiando, mas fazendo-se ajudar por (alguns d) eles, em espírito de co-responsabilidade, e, de outra parte, a dirigir-se com olhar aberto também às pessoas que tem visto falir tristemente o seu projeto de vida em comum. No texto não aparece o termo oikonomia, talvez demasiado caracterizado pela tradição bizantino-ortodoxa, mas a substância do conceito assim como é entendido por Kasper no segundo passo proposto – a superação de uma alternativa maniqueísta entre rigorismo e laxismo – parece estar toda presente.
3) E quanto à necessidade de reorientar em sentido espiritual e pastoral os procedimentos canônicos sobre questões matrimoniais? Já vimos que na Relatio synodi os acenos nesta direção não faltam. Outra coisa é dizer se são suficientes, a partir do momento em que nas palavras de Kasper se poderia ler uma provocação mais sutil no sentido de reequilibrar, precisamente em termos espirituais e pastorais, exigências institucionais e jurídicas com dimensões individuais e privadas. Alguns observadores apontam que a matéria em objeto isto é, matrimônio e família – engloba um conjunto de questões que não são redutíveis nem à férrea lógica objetiva do dado institucional (o vínculo matrimonial estabelecido pelo sacramento), nem à magmática sensibilidade afetivo-emocional dos indivíduos (o sujeito autônomo e autodeterminante), mas se muito a um campo de co-presença e de tensão entre este dois âmbitos. Poderemos dizer: o campo da intersubjetividade.
As categorias e os pontos de referência – teológicos, canônicos, pastorais – que uma secular tradição nos consignou para dizer e praticar o evangelho da família propondo para uma intangibilidade do aspecto institucional. Como recorda o próprio Kasper em O matrimônio cristão, este revestimento cultural do dado evangélico era perfeitamente funcional a uma família centrada sobre a vocação pública e social: como comunidade econômica e centro de produção de bens e serviços, como explicam historiadores e sociólogos. À sensibilidade ocidental contemporânea que, ao contrário, exalta a livre escolha soberana do sujeito, se adapta mais um modelo de família baseado sobre sua vocação privada e pessoal (a integração afetivo-pessoal, bem como a vida profissional e a função produtiva). O destaque lancinante entre as duas perspectivas histórico-culturais – que se traduz num cheque-mate, diria alguém, para a comunidade eclesial – aparece à primeira vista inatingível (6). Entre as duas há um abismo, reconhece Kasper: de uma parte uma compreensão natural-estática, da outra uma de tipo mais pessoal – histórico - dinâmico (7). Para exemplificar: diante de uma crise matrimonial, a Relatio synodi pareceria ver somente a fragilidade dos sujeitos implicados e de seu caminho de fé, mas jamais uma criticidade do vínculo, um seu vir-a-ser, uma sua dinâmica histórica (cf. n. 24) (8).
A teologia kasperiana nos parece, ao invés, mais propensa a individuar elementos de gradualidade: uma lei de crescimento, de sempre maior compreensão e realização do ideal, de aprofundamento, que conhece as dimensões da conversão e da renovação (9). Nas posições expressas pelos padres sinodais, assim como reassumidas na relação final, pareceria, ao invés, prevalecer ainda a lógica precedente, que desengata o matrimônio da fragilidade das suas conexões a parâmetros privados, egoístas (estruturalmente instáveis e não vinculantes), mas, inversamente, não se envolve realmente com a qualidade relacional, a intensidade afetiva na esfera íntima, a riqueza emotiva da vida de casal, liberada hoje dos determinantes sociais, econômicos e biológicos de um tempo.
4) Se o passo precedente permanece não realizado, resulta prejudicado também o passo sucessivo, o quarto e último. É um dos temas mais candentes sobre o tapete: a possibilidade para os divorciados (redesposados ou não) de aceder – sob precisas condições e após um período de reorientação – aos sacramentos da penitência e da eucaristia, além da práxis tácita e oficiosa localmente toleradas: o documento sinodal trata disso ex professo no n. 52 (que recebeu, aliás, o maior número de non placet: bem 74!). Após ter sintetizado as opostas posições em campo, se conclui de modo asséptico que a questão espera ulteriores aprofundamentos (como para o escamoteio da comunhão espiritual, da qual se ocupa o n. 53): sinal que a corajosa ofensiva de Kasper não convenceu muitos expoentes do episcopado.
4. Para concluir
Ainda há todo um trabalho a desenvolver: falamos daquele trabalho jamais exaurido de inculturação, que responde à lógica da encarnação.
Não se trata de mitigar um evangelho exigente, de institucionalizar gratuitos subterfúgios referentes aos rigores da lei eclesiástica, de considerar superficialmente o empenho de toda uma vida, de excogitar enganosos sofismas e cômodos atalhos, talvez expondo os mais débeis – baste pensar nas crianças – ao capricho da volubilidade alheia, num jogo de auto-solução.
Não, a questão é outra. A questão é, a nosso ver, a de assumir responsavelmente o humano assim como é e se autocompreende hoje – não um humanum atemporal, abstrato, imaginário, pretensioso – e levá-lo a contato com a mensagem evangélica de sempre. Portanto, o trabalho a desenvolver é fazer ressoar crivelmente aquela mensagem ao longo da diretriz que cruza tanto as oportunidades reais (nem sempre valorizadas) quanto os verdadeiros perigos (estes últimos mais frequentemente lamentados e condenados) dos desenvolvimentos pós-modernos intervindos nos costumes, na antropologia, na cultura, quando se trata de vida de casal, de matrimônio, de família. Deve ainda gerar-se de forma convincente, dizíamos, uma nova consciência – doutrinal, jurídica, pastoral – da intersubjetividade daquele quid que é a família. Poder-se-ia, talvez, falar de inter-relacionalidade, reformulando Kasper: hoje a essência da pessoa e do matrimônio “não deve ser definida de modo natural, mas de modo relacional” (10). Do desenvolvimento deste encargo, que em 1977 o então professor de dogmática em Tübingen atribuía à teologia, aparecem somente tímidos traços na Relatio synodi.
De resto – e o indicava o próprio Francisco em seu discurso conclusivo – fora precedentemente estabelecido que aquilo de encontrar soluções concretas e de dar respostas praticáveis é o trabalho que resta fazer daqui até a próxima assembléia sinodal: um percurso de discernimento e maturação deverá conduzir até lá.
Faz bem esperar pelo fato que os (novos) métodos sinodais de trabalho, ativados sob a regia do Papa nesta experiência de diálogo eclesial nos níveis máximos, tenham permitido um efetivo exercício de responsabilidade coletiva da parte dos representantes do episcopado mundial. Aqueles métodos demonstraram ser suficientemente capazes de suscitar um franco diálogo e um confronto serrado que, na base de um ensinamento tradicional relido à luz da realidade contemporânea, tenham lançado sobre o terreno novas sementes de reflexão, que esperam germinar. Para inaugurar realmente uma vivência eclesial de encarnada radicalidade evangélica.
Notas:
1. “A nossa posição hoje não pode ser uma adaptação liberal ao status quo, mas uma posição radical, que vai às raízes, isto é, ao evangelho, e de lá dá um olhar in avanti”: W. KASPER, Il vangelo della famiglia. Queriniana, Brescia 2014, 9.
2. A des-homogeneidade – também somente de gênero literário e de finalidade – dos diversos textos em campo, ou então, a relação introdutória de Kasper ao consistório de 20-21 de fevereiro de 2014 e a relação final da III a Assembléia geral extraordinária do Sínodo dos bispos, induz à máxima cautela a quem quisesse operar um confronto ponderado.
3. Também aqui, a periodização histórica é ainda mais orgânica e detalhada em Il matrimonio Cristiano (Queriniana, Brescia 2014). Veja-se, por exemplo, o inteiro Apêndice I para a articulação da inserção do matrimônio tanto na ordem da criação quanto na ordem da redenção, ou veja-se o Apêndice II para o duplo tema da sacramentalidade do matrimônio cristão e da família como igreja doméstica.
4. Na realidade, nós o dizíamos como inciso, o tema da fé (melhor: de uma iniciação à fé cristã, a ser vivida com consciência, liberdade, maturidade humana) nos parece o artigo dirimente de toda a questão, não só em seu aspecto canônico: é frequentemente pressuposto, mas com isso está ou cai o inteiro edifício do matrimônio sacramento.
5. Cfr. KASPER, Il vangelo della famiglia, cit.,71-76.
6. A distinção, da qual pode depois se desenvolve a contraposição, entre esfera pública e esfera privada, assim como a sentimos nós hoje, é característica de uma época antes recente. Para um exemplo concreto, se pense somente naquele epifenômeno que é a casa moderna, o espaço habitacional da família como o entendemos nós: isso é desconhecido do mundo antigo. Até a plena Idade Média a casa era constituída fundamentalmente por um único vão, mais ou menos amplo, descarnadamente arredado, onde viviam juntos não só os membros do grupo familiar, mas também os colaboradores e os aprendizes envolvidos nas atividades comerciais ou artesanais do chefe de família, que ali se desenvolviam (com uma absoluta promiscuidade de pessoas – e, conforme o caso, até de animais). Somente na Holanda do Renascimento, isto é, a partir do século XVII, começam a realizar-se habitações nas quais a atividade laboral (configurando-se como questão pública) não se desenvolve mais no interior da moradia familiar (que tende a especializa-se em lar dos afetos, reino da privacy). “Tem origem aqui a história de uma dupla privatização: a da família com respeito à sociedade e aquela, no interior da própria família, entre os seus membros (G. Postiglione).
7. ID., Il matrimonio Cristiano, cit. 19.
8. Faz exceção o n. 59, que à afetividade e ao amor reconhece uma capacidade de crescimento no tempo e um percurso de maturação progressiva – sem que isto, no entanto, venha dito do elo conjugal enquanto tal. Antes, o texto em algumas formas suas dá a impressão de certo embaraço no dever reconhecer que também no interior do elo conjugal, e não só antes dele, a afetividade não se dá como viva a não ser como dinâmica de maturação!
9. “Esta lei da gradualidade me parece ser uma coisa importantíssima para a vida e para a pastoral matrimonial e familiar. KASPER, Il vangelo della famiglia, cit., 31.
10. ID., Il matrimonio Cristiano, cit., 21.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Matrimônio e família, após o sínodo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU