24 Novembro 2014
Perdão. Vergonha. Tolerância zero. As vítimas vêm primeiro se essa denúncia se confirmar. Não fomos informados... A Conferência Episcopal Espanhola (CEE) está em comoção devido às notícias do último escândalo de abusos sexuais a menores por parte de religiosos, desta vez na arquidiocese de Granada, mas garante que soube pelos meios de comunicação. Foi o que afirmou esta manhã seu porta-voz, José María Gil Tamayo.
A reportagem é de Juan G. Bedoya, publicada pelo jornal El País, 21-11-2014.
Apesar de o papa Francisco ter telefonado em agosto passado para o jovem que sofreu abusos durante anos, e tenha voltado a se comunicar com ele na segunda semana de outubro, ninguém do Vaticano avisou sobre a investigação em andamento no órgão que coordena os prelados espanhóis. O arcebispo de Granada, Francisco Javier Martínez, um de seus membros, também não os alertou. Na realidade, não tinham obrigação de fazê-lo, ponderou Gil Tamayo, pois a CEE é apenas um órgão de assistência aos bispos, sem qualquer poder sobre eles. “A Conferência Episcopal não manda nos bispos; os bispos só dependem do Papa. Não há nada que obrigue a Conferência Episcopal a saber algo antes. Somos um órgão colegiado, não um órgão de governo, e de serviço. É doloroso e vergonhoso para nós se esta denúncia for confirmada. Precisamos ter um respeito extremo pelas pessoas, primeiro pelas vítimas e depois pelas pessoas envolvidas para que seus direitos não sejam violados”, sustenta Gil Tamayo, também secretário geral do organismo coordenado pelo episcopado.
Visivelmente abatido, com voz fraca apesar de sua habitual boa capacidade comunicativa, o porta-voz episcopal deu início à conferência de imprensa com esse assunto, antes de abordar os trabalhos despachados pelos 79 prelados (sobre 80 na ativa) presentes na assembleia plenária que começou na segunda-feira passada. Foi gravado por treze câmeras de televisão e ouvido por cerca de cinquenta jornalistas. “As vítimas vêm primeiro. Tolerância zero”, disse. Mais tarde, falou sobre “a dor que esses fatos produzem na comunidade cristã e católica e em qualquer pessoa com sensibilidade e ética”.
O porta-voz da CEE respondeu assim às numerosas perguntas sobre o assunto. “Quero reiterar a dor, o pesar e ao mesmo tempo a repulsa pelos supostos delitos denunciados. São uma ofensa à dignidade das vítimas, a Deus e um grave dano à Igreja, à comunidade diocesana e à sociedade. Essa pessoa [refere-se ao jovem denunciante], que tem convicções religiosas profundas, está sendo acompanhada. Todos os pastores da Igreja querem expressar solidariedade para com as vítimas, e há um processo de investigação para verificar as denúncias. Também quero expressar nossa proximidade com a comunidade diocesana de Granada. De seu pastor até seu presbitério e seus fieis, trata-se de uma comunidade eclesial viva, com uma história fecunda a qual é justo fazer referência, sem que isso suponha esquecer a dor e o sofrimento e a proximidade de quem sofreu esses fatos, que as autoridades judiciais tanto em âmbito canônico como civil têm de determinar. Mesmo que houvesse um único caso, seria demais. Tolerância zero em todos os âmbitos e que isso nos ajude a ter uma conscientização maior e que isso se erradique e se evite. Há uma confiança absoluta na justiça. Isso não admite meios-termos. As responsabilidades não são negociáveis nesse sentido. Se é um grupo de sacerdotes que é pernicioso, se tomam as responsabilidades e se extirpam, porque eles não vivem como sacerdotes. Essa não é a forma de viver sacerdotal”.
Sobre a atuação do arcebispo de Granada, Gil Tamayo pediu que fossem prudentes e que não se criasse tribunais paralelos. Acrescentou: “Ele falou e manifestou aos bispos o mesmo que os meios de comunicação vêm publicando. Não há uma manifestação dele aos bispos e a outros meios. Nem eu nem os bispos temos conhecimentos de mais nada. É lógico que se mantém uma confidencialidade. Que os tribunais elucidem o que há para dizer. Nossa missão é de denúncia e de exigência de justiça, assim como de respeito às pessoas, ainda que nada possa reparar o dano”.
Ele também opinou sobre o comportamento dos meios de comunicação, criticados por alguns prelados. Fez isso a pedido de um jornalista. Disse: “Tenho um enorme respeito pela profissão jornalística mas realmente acredito que há que se delimitar os âmbitos de atuação. Há o direito à informação, mas os jornalistas não são os sacerdotes de uma nova sociedade, nem os juízes. Temos de respeitar os procedimentos, esperar os tempos e trabalhar com as certezas. Quem tem uma exclusiva, vai trabalhar comprovando a veracidade dessas fontes”.
A plenária de bispos não poderia ter aprovado em pior momento a chamada ‘Nota pastoral’ sobre a saúde moral da sociedade espanhola, com o título Uma chamada para a solidariedade e a esperança. Seu porta-voz a leu com pouco entusiasmo. Isso é o que dizem três de seus parágrafos: “Junto a eficazes políticas de conserto social e de desenvolvimento sustentável, precisamos de uma verdadeira regeneração moral em escala pessoal e social e com ela a recuperação de um maior apreço pelo bem comum, que seja verdadeiro suporte para a solidariedade com os mais pobres e favoreça a autêntica coesão social da qual estamos tão necessitados”.
“A regeneração moral nasce das virtudes morais e sociais, e para um cristão vem a fortalecer-se com a fé em Deus e a visão transcendente da existência, o que leva a um irrenunciável compromisso social no amor ao próximo, verdadeira distinção dos discípulos de Cristo”.
“A todos nós é necessário relembrar que sem conduta moral, sem honradez, sem respeito aos demais, sem serviço ao bem comum, sem solidariedade com os necessitados, nossa sociedade se degrada. A qualidade de uma sociedade tem a ver fundamentalmente com sua qualidade moral. Sem valores morais se apodera de nós o mal-estar ao contemplar o presente e o pesar ao projetar nosso futuro. Quanto despertam, revigoram e rearmam moralmente a consciência o reconhecimento e o respeito de Deus!”.
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Bispos espanhois pedem perdão “às possíveis vítimas” de pedofilia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU