17 Novembro 2014
Em circunstâncias ordinárias, a eleição de um novo vice-presidente regional para a conferência dos bispos italianos provocaria nada mais do que bocejos na Itália, e nenhuma reação em qualquer outro lugar.
As atuais circunstâncias na Igreja Católica, no entanto, são tudo, menos ordinárias.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada no sítio Crux, 13-11-2014. A tradução é de Claudia Sbardelotto.
Assim foi que, a vitória de terça-feira de 140 a 60 votos do bispo Mario Meini, de Fiesole, sobre Dom Bruno Forte, de Chieti-Vasto, para o cargo de vice-presidente da região central da Itália da Conferência Episcopal Italiana (CEI), foi rapidamente aclamada como um termômetro para a direção da Igreja no início do século XXI.
Especificamente, o resultado tem sido visto como um voto de desconfiança para o papel moderado-progressista de Forte no recente Sínodo dos bispos para a família. Forte foi o principal autor de um relatório intermediário polêmico com avaliações ousadamente positivas de uniões de pessoas do mesmo sexo e outros tipos de relacionamentos fora dos limites da doutrina oficial da Igreja.
A reação contra o relatório definiu o cenário para uma linguagem muito mais cautelosa no documento final do Sínodo, e sua derrota nesta semana foi estilizada como uma repreensão adicional.
Um blog católico tradicionalista na Itália publicou a notícia da eleição, juntamente com uma imagem de uma tela de telefone celular exibindo a mensagem, "Mensagem recebida!". Um blog católico de língua inglesa disse que o resultado expressava uma "reação contra a imprensa escandalosa e as táticas ao estilo politburo aplicadas no Sínodo de outubro".
O Sínodo de outubro foi concebido pelo Papa Francisco como uma fase de abertura de um processo de reflexão de duração de um ano resultando em um Sínodo dos bispos ainda maior, em outubro de 2015. Divisões surgiram em três frentes principais: como acolher gays e lésbicas, o quão positivos podemos ser sobre os relacionamentos "irregulares" como a coabitação e se os católicos divorciados e recasados podem voltar a receber a comunhão.
Os bispos foram para casa sem um claro consenso, e, portanto, é perfeitamente legítimo procurar sinais de como as coisas podem estar se posicionando diante do próximo confronto em 2015.
A tendência de ver a derrota de Forte como um revés para o campo progressista tem sido aumentada pelo fato de que o cardeal Angelo Bagnasco, de Gênova, presidente dos bispos italianos, usou seu discurso na conferência desta semana para chamar o casamento entre pessoas do mesmo sexo de um "cavalo de Tróia" destinado a "enfraquecer" o casamento tradicional.
No entanto, existem duas razões para que a discrepância entre Meini e Forte possa não ter sido um teste direto entre as posições progressista e conservadora.
As eleições para os escritórios regionais da conferência italiana geralmente não são vistas como referendos sobre questões maiores na Igreja.
Em vez disso, muitos prelados enxergam isso como uma oportunidade para dar um tapinha nas costas dos colegas negligenciados em dioceses menores cujo trabalho sólido, acreditam eles, não está ganhando muito crédito.
Forte já era o teólogo-bispo mais famoso da Itália, frequentemente mencionado como um candidato para assumir o escritório doutrinal do Vaticano, e recentemente esteve ainda mais no centro das atenções como um confidente do papa e a força motriz no sínodo. Muitos bispos podem ter sentido que ele teve o seu quinhão de aclamação e agora quiseram dar a vez para Meini.
Meini não pode ser, de fato, considerado um conservador forte.
No ano passado, ele recebeu grupos ambientalistas para uma liturgia "em defesa da criação". Em 2012, ordenou o fechamento de uma pequena comunidade diocesana de freiras, em Fiesole, conhecidas como Clarissas do Imaculado Coração de Maria e ligadas à tradicional missa em latim; e, no ano passado, celebrou missas em fábricas locais para mostrar o seu apoio aos trabalhadores.
Embora nada disso possa definir Meini como um "liberal", é o suficiente para excluí-lo como um verdadeiro herói para os falcões católicos. É difícil enquadrar a derrota de Forte como uma rejeição clara às posições expressas por ele no sínodo, porque Meini não tem um histórico sobre a maioria dessas questões de uma forma ou de outra.
Tudo isso sugere uma nota de cautela daqui para frente.
Nos dias de hoje, quase tudo o que acontece a um dos protagonistas do recente Sínodo gera murmúrios, e por isso uma certa triagem é necessária para verificar se estamos diante de um sinal real.
Quando, recentemente, o Papa Francisco rebaixou o cardeal Raymond Burke como chefe do Supremo Tribunal do Vaticano, por exemplo, isso foi, provavelmente, um revés verdadeiro para o lado conservador porque agora é menos provável que Burke esteja no próximo Sínodo.
No caso de Forte, a sua incapacidade de ser eleito para um cargo relativamente menor pode dizer algo sobre a sua posição entre seus companheiros prelados italianos. No entanto, ver isso como um prenúncio de tendências mais profundas é pedir demais, mesmo porque existem explicações mais simples disponíveis.
Na política da Igreja, como em outras arenas, às vezes um charuto é apenas um charuto.
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Na política da Igreja, também, às vezes um charuto é apenas um charuto - Instituto Humanitas Unisinos - IHU