17 Novembro 2014
Premissa necessária: esta postagem publicada no “Vino Nuovo”, de 12/11/14, foi escrita antes do caso descoberto com relação a Vladimir Luxuria e Tv2000 e também antes da nova advertência do cardeal Bagnasco sobre os casamentos gay, pronunciado segunda-feira durante a palestra para a assembleia da CEI. Exatamente à luz destes dois fatos – porém – quando escrevo posso oferecer o sinal para uma reflexão, ou um pouco mais amplo, sobre a questão do relacionamento entre a Igreja e a homossexualidade.
O comentário é de Christian Albini, teólogo leigo, casado, italiano, publicado por Vino Nuovo, 12-11-2014. A tradução é Ivan Pedro Lazzarotto.
Poucos dias depois do clamor da saída do armário de Tim Cook, o administrador da Apple, que revelou a sua orientação sexual e definiu a homossexualidade como sendo um dom de Deus, na Itália tivemos a polêmica sobre a professora que, em um boletim paroquial, denunciou uma misteriosa conspiração na ONU para promover a homossexualidade e a pedofilia entre as crianças. Não é a primeira vez que leio coisas deste tipo e vejo a necessidade de me questionar se é possível falar destes temas de forma séria e serena para católicos e entre católicos.
É preciso distinguir os planos. Uma coisa é o discurso legislativo, com o correspondente debate sobre os direitos dos casais homossexuais e a equiparação ao matrimônio. Uma outras é a realidade das pessoas e como nos relacionamos com elas, em uma perspectiva de fé. Parece que existem duas frentes: de um lado os gay’s, furiosos e que querem destruir a família e de outro os defensores, e é preciso tomar partido. Ao menos certos comentários e artigos dão essa representação. E ainda, bastaria conhecer e frequentar as pessoas homoafetivas para entender que não é assim.
Eu nunca aceitei as lógicas de contraposição amigo/inimigo. Certamente não é uma lógica cristã. Jesus escandalizava por frequentar locais entre aqueles que eram considerados pecadores e hereges, de onde fazia surgir em primeiro lugar o lado positivo e a fé de que eram capazes. É um estilo que seria aplicado também no propósito dos homossexuais. Os frenéticos estão espalhados por todo mundo, entre católicos, entre os homossexuais, entre os ateus, entre os vegetarianos... Isso, porém não justifica o fato de cair sempre, falando de certos argumentos, em um dualismo opositor.
O ponto pra mim é: se posso dizer para os cristãos uma palavra positiva sobre os homossexuais e sobre uma relação homoafetiva? Pode-se dizer que toda violência verbal e física está errada? Pode-se dizer que considerar a homossexualidade uma doença não tem nada a ver com a fé cristã?
A Bíblia apresenta uma visão antropológica e teológica do relacionamento entre homem e mulher que se exprime no matrimônio. A homossexualidade não recai neste âmbito. Isso a rende, no todo, uma realidade má e pecaminosa? Quem conhece casais homossexuais pode dizer que não é assim. Foi afirmado recentemente também pelo cardeal Schönborn, aluno de Ratzinger que está entre os redatores do Catecismo. As passagens bíblicas que fazem referência aos atos homossexuais não são reportadas hoje sem uma consideração crítica, porque se fala como se estes relacionamentos fossem somente uma escolha deliberada de luxúria. Os autores bíblicos desconheciam a noção de identidade, orientação ou condições homossexuais e então não nos podemos fundamentar nestes textos nossa reflexão sobre o homossexualismo. Uma condição inata é algo bem diferente de uma decisão explícita, consciente e culpável de rejeição de determinados valores. O pecado se verifica neste segundo caso.
Para finalizar, existe uma questão legislativa, existe uma questão ética e existe uma questão teológica/antropológica. Existem planos diversos que não devem ser confundidos e sobre os quais a reflexão deve prosseguir, como dizia por exemplo um teólogo como Enrico Chiavacci.
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Por um discurso tranquilo sobre a homossexualidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU