Por: Jonas | 16 Novembro 2014
“Queremos que nossos graduados sejam capazes de analisar as raízes profundas das injustiças estruturais que nos rodeiam, que tenham valor para comprometer sua vida na transformação deste mundo, que se sintam responsáveis pelo estado atual da humanidade, que queiram ser agentes de mudança social, que contribuam com seu conhecimento para criar um sistema que seja respeitoso da dignidade da pessoa humana, de todas as pessoas, sem exceção, e respeitosos também de sua casa, que é a Terra”, expressa a declaração das Universidades e Centros de Educação Superior da Companhia de Jesus da Espanha (UNIJES), no 25º aniversário do martírio dos jesuítas da Universidade Centro-Americana. A tradução é do Cepat.
Eis a declaração.
Nós, das Universidades e Centros de Educação Superior da Companhia de Jesus da Espanha (UNIJES), queremos comemorar o 25º aniversário do martírio dos jesuítas da UCA (Universidade Centro-Americana), de El Salvador, como um chamado à reflexão sobre a função social de nossos centros. No dia 16 de novembro de 2014, completam-se vinte e cinco anos daquela fatídica madrugada de 1989, na qual soldados do exército salvadorenho irromperam na residência de nossos companheiros jesuítas da UCA, e mataram cruelmente a todos os que encontraram ali: Ignacio Ellacuría, Segundo Montes, Ignacio Martín-Baró, Amando López, Juan Ramón Moreno e Joaquín López y López. Também não queremos esquecer as duas mulheres, mãe e filha, que trabalhavam naquela casa, e que nela se refugiaram à noite, diante do toque de recolher e da violência da guerra civil: Elba Ramos e Celina. Os soldados também acabaram com elas porque não queriam testemunhas, convertendo-as em símbolo do povo sofredor salvadorenho, dos mais de 75.000 mortos que houve naquele país, durante os dez anos de guerra civil.
Estes seis jesuítas mártires, liderados por Ignacio Ellacuría, a partir de sua profunda experiência do Deus de Jesus e de seu compromisso com o povo, entenderam a universidade de um modo novo. A função da universidade consiste em analisar a realidade histórica – que inclui todos os níveis do real – e em contribuir para a sua transformação, de tal maneira que a realidade constitua cada vez mais um espaço de liberdade e justiça para todos os seres humanos. Como costumava dizer Ellacuría, esta contribuição deve ser feita universitariamente, ou seja, não caindo em fáceis slogans, em concepções simplistas, ou em derivações ideológicas, nem tampouco se fechando em uma torre de marfim supostamente de alto nível intelectual, mas, sim, colocando o complexo aparato científico ao serviço de verdadeiros processos de transformação histórica, uma transformação que não poderá ser cosmética, nem pontual, mas, sim, acima de tudo, estrutural, e que permita a construção de sociedades mais inclusivas e de maior dignidade humana para todos.
O exemplo dos mártires da UCA interpela a nós, imersos em um sistema universitário espanhol e europeu sumamente complexo e competitivo, no qual são muitas as universidades que procuram assumir posição. A abundância de titulações, de faculdades com certificações de qualidade – nacionais e internacionais -, a necessidade de obter financiamento para realizar a pesquisa científica e para oferecer uma docência cujo custo consiga ser assumido pela sociedade; tudo isso representa um exigente desafio de melhora, e faz com que as diferentes comunidades universitárias estejam trabalhando todos os dias com intensidade e criatividade.
Sem dúvida, nós, UNIJES, sentimo-nos orgulhosos pela quantidade de jovens que todos os anos escolhem estudar em nossos centros, porque reconhecem neles uma indiscutível qualidade na formação acadêmica e na preparação para seu futuro profissional. São numerosos os nossos graduados com êxito profissional, e nos felicitamos porque conseguimos prepará-los para serem excelentes profissionais em nosso mundo atual, que é tão complexo.
Porém, isto não nos basta. Queremos mais.
Queremos que nossos graduados sejam capazes de analisar as raízes profundas das injustiças estruturais que nos rodeiam, que tenham valor para comprometer sua vida na transformação deste mundo, que se sintam responsáveis pelo estado atual da humanidade, que queiram ser agentes de mudança social, que contribuam com seu conhecimento para criar um sistema que seja respeitoso da dignidade da pessoa humana, de todas as pessoas, sem exceção, e respeitosos também de sua casa, que é a Terra. A partir da perspectiva cristã que nos anima institucionalmente, tudo isto responde ao desígnio de Deus, que quer que todos os seus filhos contribuam para tornar realidade seu reino de justiça e de paz.
Hoje, nós, professores, pesquisadores, trabalhadores de administração e serviços, estudantes e jesuítas de UNIJES, exatamente porque constatamos que nossos resultados estão muitas vezes distantes destes ideais, desejamos nos reconhecer devedores de Ignacio Ellacuría e de seus cinco companheiros, e solidários com aquele povo salvadorenho maltratado pela injustiça e pela guerra. E assim como a UCA fez um trabalho extraordinário em favor da transformação da sociedade salvadorenha, sem dúvida ainda inconcluso, nós queremos hoje colocar nossa docência e nossa pesquisa a serviço da sociedade e ao serviço de uma humanidade que sofre de diferentes formas, em todos os continentes.
Queremos atuar assim, e atuaremos, como dizia Ellacuría, universitariamente.
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Universidades a serviço da transformação social. Declaração por ocasião 25º aniversário do martírio dos jesuítas da UCA - Instituto Humanitas Unisinos - IHU