Por: André | 13 Novembro 2014
“A República da Argentina sozinha não tem unidade econômica; o Brasil sozinho não tem unidade econômica; o Chile sozinho também não tem unidade econômica; mas estes três países unidos formam talvez, no momento presente, a unidade econômica mais extraordinária do mundo inteiro, sobretudo para o futuro, porque toda essa imensa disponibilidade constitui sua reserva. Estes são os países reserva do mundo”. Com essas palavras o general Perón explicava, em 1953, na hoje Escola de Defesa Nacional, seu projeto ABC.
A reportagem é de Oscar Laborde e publicada no jornal Página/12, 12-11-2014. A tradução é de André Langer.
O presidente argentino não fazia apenas uma “leitura” muito mais abrangente das consequências do conflito armado com epicentro na Europa, que impediram o fluxo de matérias-primas e produtos elaborados dos países sul-americanos, substituindo importações e ampliando o mercado de consumo que envolveria milhões de pessoas.
Esta concepção e as ações que, paulatinamente, o governo argentino foi empreendendo, significavam uma mudança qualitativa na relação com os setores de poder no mundo e, acima de tudo, fortalecia as relações entre povos irmãos que, até esse momento, viviam brigados. As hipóteses de conflito de nosso país, a Argentina, estavam colocadas precisamente com o Chile e diante de uma sempre latente invasão brasileira.
Nesse discurso, Perón faz um repasse das ações empreendidas para Carlos Ibáñez del Campo (do Chile) e Getúlio Vargas (do Brasil). Com o primeiro deles assina um acordo aduaneiro em 1953 que colocava o epicentro na produção industrial e estabelecia vínculos bilaterais que escandalizaram a chancelaria brasileira – funcional aos interesses estadunidenses – que nesse momento negociava com a Argentina um acordo de iguais características.
Getúlio Vargas foi pressionado para não cumprir o compromisso assumido antes de ser chefe de Estado com o próprio Perón, e sua atitude em defesa dos setores populares fez com que os grandes grupos de poder pedissem sua renúncia. Em vez disso, preferiu suicidar-se em 1954, não sem deixar de assinalar em seu testamento quem eram os sabotadores do seu governo.
Ficou assim truncada uma das tentativas mais importantes por gestar um processo de integração regional, afastado dos grandes centros de poder do mundo e das políticas imperiais.
A Terceira Posição, além do seu componente doutrinário, teve na implementação do Pacto ABC um correlato na prática e na possibilidade de construir um novo cenário sul-americano.
Durante vários anos, este discurso do general Perón permaneceu em segredo e questionada a sua autoria; até que, em 1967, ele mesmo reconheceu sua autenticidade.
Existe agora um novo processo de integração regional, interpelado e atacado pelos mesmos grupos econômicos externos e internos. Três mulheres: Dilma Rousseff, Michelle Bachelet e Cristina Fernández de Kirchner, junto com os presidentes do Uruguai, Bolívia, Venezuela e Equador, assumem o desafio de consolidar esta nova época que atravessamos.
O Pacto ABC de Perón representa, pois, um espelho sobre o qual realizar uma aprendizagem, analisando fortalezas, contradições e a integralidade do processo histórico que hoje estamos atravessando.
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