10 Novembro 2014
Também os católicos, e não apenas os agricultores, devem levar em consideração "qual poderia ser o significado de uma vocação à agricultura", disse o presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz.
A reportagem é de Mark Pattison, publicada no sítio Catholic News Service, 06-11-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em considerações preparadas para a última quarta-feira, como parte de um congresso em St. Paul, nos EUA, chamado "Fé, alimentos e ambiente: a vocação do líder agrícola" [Faith, Food & the Environment - The Vocation of the Agricultural Leader], o cardeal ganense Peter Turkson disse que Jesus esperava que aqueles que o ouviam soubessem de agricultura ou, ao menos, estivessem expostas a ela.
Isso lhe permitiu contar, explicou o cardeal, a parábola do semeador, que Jesus usou para ensinar aos seus discípulos que a palavra de Deus, assim como a semente do agricultor, deve ser cultivada para produzir uma colheita frutuosa.
Turkson foi uma ausência tardia na agenda do congresso, já que os organizadores ficaram sabendo apenas dois dias antes do seu discurso programado que ele não conseguiria chegar ao congresso, pelo fato de ter sido indicado pelo Papa Francisco para ajudar a orientar a resposta da Igreja à crise de ebola na sua África ocidental natal. Quem leu as declarações do cardeal foi o seu chefe de gabinete, o padre jesuíta Michael Czerny.
O cardeal tem sido um dos consultores na elaboração de uma esperada encíclica papal sobre ambiente, ecologia e criação. Os 70 participantes convidados para o congresso "Fé, alimentos e ambiente", durante todo o encontro, sinalizaram o seu interesse na encíclica, que deverá ser publicada no ano que vem.
Em seu discurso, o cardeal disse que o Papa Francisco afirmou em um encontro de um grupo no fim de outubro no Vaticano: "As suas preocupações estarão muito presentes nessa encíclica".
"Desde o início, o Criador nos diz para cultivar a terra e para cuidá-la" – não no sentido da propriedade privada, disse Turkson, mas preservar o seu uso para as gerações futuras. Dadas as práticas agrícolas atuais, observou, "é possível que nós tenhamos cultivado demais e não cuidado o suficiente".
A agricultura "não pode ser apenas um trabalho", disse, "se nós a mantivermos como parte do plano e da história de Deus".
Como no mundo dos negócios, "para todos aqueles que muito foi dado, muito mais será exigido", disse o cardeal Turkson. "Isso também se aplica às pessoas que trabalham na agricultura. (...) É isso que nós esperamos ver delas na sua vocação."
A pressão para alimentar um número crescente de pessoas no planeta se intensifica, e o uso de organismos geneticamente modificados tem sido proposto como um meio de saciar os famintos. O debate sobre a ética por trás do seu uso continua.
Mas Turkson perguntou se os gigantes agrícolas mundiais "aceitam a soberania alimentar de cada nação e região (...) Isso é o melhor para a humanidade e para o ambiente?". Ele acrescentou que o "melhor" nem sempre significa necessariamente "mais", observando que o conceito perpassa esferas como o uso de fertilizantes, o lucro e até mesmo o ato de comer.
E a pressão para produzir mais alimentos pode estar deslocada, de acordo com o cardeal. "Se estamos jogando fora 40% do que produzimos, é ideal produzir 20% mais?", perguntou.
Turkson observou que o Papa Francisco disse que a reforma agrária, "além de ser politicamente necessária, é uma obrigação moral". Mas as obrigações não podem parar por aí, disse.
"Será que nós também não concordamos que precisamos de uma reforma agrária – de um repensamento de todo o quadro?", perguntou. "Será que, então, quereríamos uma reforma energética? Será que, então, quereríamos uma reforma sustentável da alimentação? Será que, então, quereríamos uma reforma do clima?"
O congresso "Fé, alimentos e Ambiente: a vocação do líder agrícola" foi realizado nos dias 5 a 7 de novembro no câmpus da University of St. Thomas, em St. Paul. Mais informações e subsídios em http://faithfoodenvironment.org/.