23 Outubro 2014
Nesta terça-feira, a cúpula do Vaticano para o Oriente Médio ouviu um forte chamado à proteção das minorias cristãs, mas também uma forte rejeição da guerra como solução à situação na Síria e no Iraque.
A reportagem é de John Thavis, publicada em seu blog, 20-10-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
O Papa Francisco denunciou o que chamou de “terrorismo em escala inimaginável à primeira vista”.
O cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, foi mais específico, condenando os fundamentalistas do Estado Islâmico pelas “atrocidades sem precedentes”. Ele também disse que os líderes islâmicos têm a responsabilidade de publicamente denunciar os objetivos e as atividades do assim-chamado Estado Islâmico. De forma mais ampla, Parolin disse que a separação da religião e do Estado é uma ideia que deveria se desenvolver no mundo islâmico.
Parolin abordou diretamente a questão do “uso da força para deter as agressões e proteger os cristãos e outros grupos que estão sendo vítimas de perseguição”. Disse que a ação para deter uma agressão injusta é legítima, mas que precisa ser realizada “em respeito ao direito internacional”.
“No entanto, vê-se claramente que não podemos confiar a resolução do problema a uma resposta militar apenas. O problema precisa ser enfrentando de forma mais profunda, começando com as causas que estão em sua origem e que são exploradas pela ideologia fundamentalista. Quanto ao assim-chamado Estado Islâmico, dever-se-ia dar também a atenção às fontes que apoiam as suas atividades terroristas por meio de um apoio político mais ou menos claro, assim como por meio do comércio ilegal de petróleo e do fornecimento de armas e tecnologia”, disse ele.
Há igualmente um trecho bastante importante presente no discurso de Parolin destinado aos líderes locais do Igreja no Oriente Médio sobre os acordos políticos junto às autoridades governantes. Os líderes das pequenas comunidades cristãs, disse ele, estão chamados a cooperar com os muçulmanos e a agir como construtores da paz, “sem ceder à tentação de buscar proteção ou defesa das autoridades políticas ou militares, no intuito de ‘garantir’ a sua própria sobrevivência”.
Abaixo apresento alguma passagens importantes do discurso feito pelo cardeal Parolin no encontro de um dia reunindo cardeais e patriarcas:
“Temos ouvido com emoção e grande preocupação os testemunhos sobre as atrocidades sem precedentes perpetradas por mais de um partido na região, mas em particular pelos fundamentalistas do grupo que se chama Estado Islâmico, uma entidade que viola o direito e que adota métodos terroristas num esforço para expandir o seu poder: assassinatos em massa, decapitações de pessoas que pensam de forma diferente, a venda de mulheres, alistamento de crianças para o combate e destruição de lugares de adoração.
(...)
No caso concreto do assim-chamado Estado Islâmico, uma responsabilidade particular cai sobre os líderes muçulmanos, não só para se distanciarem da pretensão daqueles que se chamam ‘Estado Islâmico’ e que tentam formar um califado, mas também para condenar, de maneira mais geral, o assassinato de alguém por razões religiosas.
(...)
Diante dos desafios atuais, atenção deve ser dada às raízes dos problemas, devendo reconhecer também os erros do passado e buscando favorecer um futuro de paz e desenvolvimento para a região, ao se focar no bem da pessoa e do bem comum. A experiência mostrou que a escolha pela guerra, em vez do diálogo e negociação, multiplica o sofrimento de toda a população do Oriente Médio. O caminho da violência sempre conduz à destruição; o caminho da paz conduz à esperança e ao progresso. O primeiro passo urgente para o bem da população da Síria, do Iraque e de todo o Oriente Médio é abaixar as armas e dialogar.
(...)
No caso específico das violações e abusos cometidos pelo assim-chamado Estado Islâmico, a comunidade internacional, através das Nações Unidas e das estruturas estabelecidas para tais emergências, deveria agir no sentido de prevenir possíveis novos atos de genocídio e auxiliar os inúmeros refugiados. Parece oportuno que os Estados na região estejam diretamente envolvidos, junto da comunidade internacional, nas ações a se desenvolver, cientes de que não se trata de proteger uma comunidade religiosa em particular ou algum grupo étnico, mas pessoas que fazem parte da família humana e cujos direitos fundamentais estão sendo sistematicamente violados.”
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Vaticano condena terrorismo do Estado Islâmico e rejeita guerra como solução - Instituto Humanitas Unisinos - IHU