22 Outubro 2014
"Uma porta se abriu, e uma maioria se expressou, pedindo que se siga em frente com um novo curso: será preciso avaliar como implementar isso, mas para trás não se volta." Um dos mais autorizados padres sinodais fotografa dessa forma a terceira fase do debate dentro da Igreja sobre o tema da família.
A reportagem é publicada pelo jornal La Repubblica, 20-10-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Encerrada a assembleia extraordinária, a reflexão volta para onde começou, isto é, às diocese, entre as pessoas e as comunidades dos teólogos, à espera do compromisso que o Papa Francisco fixou para outubro de 2015, quando se deverá tirar uma conclusão que, naquele ponto, não será indolor.
A hipótese de um novo questionário
O cardeal Lorenzo Baldisseri, secretário do Sínodo, durante os trabalhos na Aula deu a entender que poderia haver um novo questionário a ser submetido aos fiéis, para focar melhor as questões que ficaram em suspenso. Começando pelos atormentados parágrafos sobre coabitação, homossexuais e comunhão aos recasados, os três aspectos sobre os quais a maioria qualificada de dois terços não foi alcançada (como no primeiro caso) ou até mesmo fracassou.
O arcebispo e teólogo Bruno Forte, secretário especial da assembleia e autor da primeira versão do texto sobre os gays, sugeriu que, por trás da rejeição, havia também os votos contrários da chamada ala "reformista", insatisfeita com uma exposição cautelosa demais.
O prelado acredita que, caso contrário, deveriam ser considerados como "bizarros" os 62 "non placet" expressados, por exemplo, sobre o parágrafo 55, que é composto por duas frases, uma retirada do Catecismo, e a outra, de um documento da Congregação para a Doutrina da Fé, elaborado nos tempos em que Ratzinger era o seu presidente.
"Talvez, para alguns, o Sínodo é uma batalha ou o fruto de uma estratégia – acrescentou o prelado –, mas essa não é a perspectiva."
Confronto na web entre Spadaro e os "tradicionalistas"
Certamente, as duas semanas de trabalhos no Vaticano deixaram restos. Na web, por exemplo, o jesuíta Antonio Spadaro acabou no centro de uma polêmica sobre o relatório intermediário lida pelo cardeal Erdö e julgado por alguns como causa de "desorientação" até entre os padres sinodais.
O diretor da revista La Civiltà Cattolica respondeu contestando com uma série de tuítes as interpretações definidas como "ideológicas" por parte de sites "tradicionalistas" e republicando o vídeo da reação da Aula ao texto: "As toupeiras às vezes também são surdas", escreveu Spadaro, referindo-se aos aplausos que se seguiram à leitura do documento.
Equilíbrios eclesiásticos em suspenso
Depois, é preciso gerir os equilíbrios eclesiásticos postos em discussão pelos acesos debates que precederam e acompanharam a fase sinodal. Francisco pedira a "parresia", ou seja, a máxima franqueza, e, no seu discurso final, disse que ficaria preocupado e entristecido se não houvesse as "animadas discussões" entre os padres.
Agora, porém, será preciso encontrar uma solução. Em 2015, deverá ser encontrada uma formulação menos genérica e, se faltar o acordo, mesmo assim deverá ser preciso fazer a "conta". Nesse caso, no entanto, a falta de uma maioria qualificada forçaria o papa a tomar a iniciativa, como Paulo VI fez sobre o tema da contracepção, ele que foi beatificado justamente no encerramento do Sínodo, assinando a contestada encíclica Humanae vitae.
E, nesse ponto, dado o calibre dos representantes dos dois lados, Francisco poderia acabar em um conflito com figuras de destaque dos seus dicastérios ainda mais evidente do que aquele que parece estar incubado nesta fase. Sempre admitindo-se que o cenário nos palácios pontifícios seja igual ao atual.
Em uma entrevista ao National Catholic Reporter, por exemplo, o cardeal Raymond Burke, um dos pontos de referência da frente tradicionalista, anunciou que está acabando a sua experiência à frente da Signatura Apostólica, o mais alto grau do tribunal vaticano.
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Sínodo, a reflexão continua. Talvez com um novo questionário aos fiéis - Instituto Humanitas Unisinos - IHU