''Este Sínodo é quase um Concílio.'' Entrevista com Antonio Spadaro

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15 Outubro 2014

"No Sínodo, respira-se um clima quase conciliar. A Igreja se interroga amplamente sobre si mesma." O padre Antonio Spadaro está entre os padres sinodais de nomeação pontifícia. O diretor da Civiltà Cattolica, a revista dos jesuítas, cujos esboços são aprovados pela Secretaria de Estado, refere-se ao Ângelus de Francisco: "Deus que não discrimina e amplia o banquete para além de todos os limites, porque o Reino não é uma igrejinha para estarmos cômodos no centro da cena."

A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada no sítio Vatican Insider, 13-10-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis a entrevista.

É razoável esperar do Sínodo novidades sobre a readmissão dos divorciados em segunda união à Comunhão?

Abriu-se um processo de discernimento pastoral. A discussão sobre os divorciados em segunda união se encaixa em uma visão abrangente, e isso não põe em discussão a indissolubilidade do matrimônio. O Sínodo se ocupa da família como núcleo vivo de relações: filhos, parentes, amigos... uma riqueza em um tempo em que corre o risco de prevalecer o isolamento e o individualismo. O divórcio, nesse sentido, é um momento de fragilidade e fraqueza que entra como uma fratura nessa visão. A questão dos sacramentos a quem contraiu segundas núpcias, de fato, não é o único tema tratado, mas certamente é um tema sentido com particular intensidade.

Mesmo entre perspectivas diferentes, percebe-se uma busca comum de soluções possíveis. Percebe-se o coração dos pastores que ouvem a vivência dos fiéis. Para alguns, o fato de que a relação entre Cristo esposo e Igreja esposa seja o fundamento do matrimônio cristão torna substancial o nexo entre Eucaristia e matrimônio. Certamente, quantos matrimônios vivem com clareza essa relação? E qual é o papel da fé na própria validade do sacramento? Mas também foi dito que não se pode falar de um estado de pecado mortal permanente para o divorciado em segunda união e falou-se da sua sempre possível comunhão espiritual. Com base nessas condições, ou seja, estado de graça e de comunhão, interroga-se se, portanto, não é possível uma admissão à comunhão sacramental à luz de um discernimento pastoral atento às histórias individuais de vida. O debate está plenamente em aberto.

Existe realmente uma divisão entre "inovadores pastorais" e "conservadores da doutrina" ou é uma representação útil apenas para obstaculizar a discussão franca e livre pedida pelo Papa Francisco?

Na Aula, vive-se um clima muito descontraído, de exercícios espirituais. O que faz a diferença não são intervenções individuais, mas a dinâmica do Sínodo. A chave de leitura é imaginar que o acesso aos sacramentos não é nem para todos nem para ninguém. Não com uma abordagem normativa, através de regras válidas em geral, mas considerando as pessoas e as suas histórias segundo a sua vivência. Confrontam-se visões de Igreja de amplo fôlego. Está em curso um debate muito mais radical do que o que aparece na superfície.

O maior fruto desse Sínodo no momento é justamente a liberdade de expressão e de debate: não há nada que não se possa dizer por temor ou respeito humano. Há também uma grande escuta recíproca. O papa, nisso, é um modelo: ele está sempre presente e escuta todo o dia. De fato, ele chega antes dos outros e cumprimenta os padres, até tomando o cafezinho no intervalo: tudo isso cria um clima de grande fraternidade "cum Petro e sub Petro".

Como a Igreja está mudando?

Do Sínodo, surge uma Igreja claro que se interroga sobre si mesma e sobre a sua missão. Entre os padres, há um clima de diálogo pleno e aberto. Eu diria sereno. Mas, certamente, confrontam-se não opiniões sobre aspectos particulares da vida de fé, mas eu diria de visões da Igreja. O hospital de campanha de que fala Francisco não é apenas uma bela imagem poética, mas um verdadeiro modelo eclesiológico que leva a uma nova compreensão da missão da Igreja e do valor dos sacramentos. Nesse sentido, eu diria que, na Aula do Sínodo, respira-se um clima quase conciliar.