15 Outubro 2014
"Diversos padres sinodais consideram plausível a hipótese de admitir à Comunhão, depois de um caminho penitencial, pessoas divorciadas em segunda união. Entretanto, só em situações irreversíveis, onde haja a dor o arrependimento pelos erros cometidos no passado. Ainda não há uma decisão. Estamos em caminho, e esse é o estilo colegial encorajado pelo Papa Francisco. Devemos amadurecer juntos, nós, bispos, ouvindo o povo de Deus, os especialistas, os leigos, os casais de esposos, os pastores."
A reportagem é de Marco Ansaldo, publicada no jornal La Repubblica, 13-10-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Dom Bruno Forte, secretário especial para o Sínodo sobre a família, pensa pacatamente em uma salinha da Casa Santa Marta, a residência do papa, enquanto o pontífice se prepara para rezar a missa em São Pedro.
O arcebispo de Chieti, fino teólogo, com estudos na Alemanha e na França, explica ao jornal La Repubblica alguns temas que constam na Relatio post disceptationem que foi apresentada na manhã dessa segunda-feira no Vaticano, na metade dos trabalhos sinodais.
Depois de salientar que o objetivo principal é o de anunciar o Evangelho da família, ele menciona a questão de admitir à Eucaristia quem se uniu em um segundo casamento.
Eis a entrevista.
Excelência, estamos na metade do Sínodo. Com que resultados?
O resultado mais importante é o clima de escuta recíproca, fruto do encorajamento do Papa Francisco para viver o Sínodo na maior liberdade.
Mas o relatório intermediário dessa segunda-feira contém duas linhas diferentes: a dos expoentes favoráveis às aberturas e a dos conservadores. Como estão as coisas?
Parece-me que reduzir o Sínodo à dialética sobre os divorciados em segunda união é pouco. Naturalmente, há uma riqueza de posições que a Relatio registra em relação à validade das propostas. Mas o que surge é uma atitude de respeito pelas situações dos divorciados em segunda união, dos casais de fato e dos homossexuais. Com uma intenção comum: a de manifestar no agir da Igreja a misericórdia com que Deus olha para cada um deles. (…)
Na semana passada, as posições dos bispos reformistas surgiram com força, em detrimento daqueles que defendem a doutrina. Chegará a contraofensiva dos conservadores?
Vivendo o Sínodo por dentro, sinto essa dialética como forçada. Apesar da variedade de posições, há uma busca comum intensa.
E é possível um compromisso?
Haverá um trabalho de amadurecimento até o Sínodo de 2015. Não nos esqueçamos que os trabalhos não se concluem com decisões, mas com propostas, sobre as quais caberá ao papa discernir. Essa será a palavra definitiva que todos estamos prontos para aceitar.
O cardeal Scola, em uma entrevista ao jornal La Repubblica, reiterou o seu "não" à comunhão aos divorciados em segunda união. Qual é a sua posição?
Parece-me que a atitude fundamental deve ser o de fazer om que essas pessoas, como batizadas e como fiéis, se sintam plenamente parte da Igreja. Sou favorável à busca de soluções não abstratas, mas caso a caso, de acolhida, e em alguns casos acho que deve ser avaliada a possibilidade de admissão à Eucaristia em condições precisas.
Fala-se de uma possível solução através de um caminho penitencial. E depois há o exemplo dado pelos ortodoxos. São posições conciliáveis?
Através do chamado princípio de condescendência, ou seja, da misericórdia pastoral, os ortodoxos, quando se encontram diante de uma situação de novas núpcias, admitem as pessoas aos sacramentos depois de um caminho de purificação. Mas isso estava previsto também na Igreja antiga, para o matrimônio dos viúvos. E a hipótese de um itinerário penitencial, que reconhece, no entanto, as primeiras núpcias como as únicas sacramentais, é o que a Igreja Ortodoxa faz em relação aos recasados. Pode ser um caminho para se refletir e para receber impulsos e luzes.
Os fiéis se perguntam se realmente alguma coisa vai mudar. O senhor está otimista?
Eu diria que sim, por três motivos principais. O primeiro é que eu acredito no Espírito Santo. O segundo é que eu tenho muita confiança no testemunho do Papa Francisco. E o terceiro é porque, como teólogo e pensador italiano e, ainda, napolitano, sei que os cursos e os recursos históricos sempre caracterizaram, como dizia Giambattista Vico, o caminho dos homens. Então, para usar uma expressão de Eduardo De Filippo, ha da passà 'a nuttata [a noite vai passar]. Até mesmo os momentos mais difíceis podem ser superados.
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''Este é o caminho para aproximar os divorciados à Comunhão.'' Entrevista com Bruno Forte - Instituto Humanitas Unisinos - IHU