13 Outubro 2014
Um arcebispo africano que está participando da reunião mundial de bispos católicos criticou, de forma franca, na úlltima quarta-feira, as atitudes ocidentais em relação ao seu continente, expressando a sua desaprovação à imposição de culturas estrangeiras ao povo africano.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 08-10-2014. A tradução é de Claudia Sbardelotto.
Os africanos "chegaram à idade adulta", disse o nigeriano Dom Ignatius Kaigama. "Nós devemos ser autorizados a pensar por nós mesmos".
"Somos cortejados com coisas econômicas", disse Kaigama, que lidera a arquidiocese de Jos na Nigéria. "Dizem-nos: 'Se vocês limitarem sua população, vamos lhe dar muito' e nós dizemos: 'Quem disse que a nossa população é muito grande?'".
Kaigama é um dos 36 prelados africanos presentes no Sínodo dos Bispos, que acontece de 5 a 19 de outubro no Vaticano, e também presidente da Conferência Episcopal da Nigéria.
A seguir publicamos as observações completas do arcebispo, que duraram cerca de quatro minutos.
Eis o texto.
Somos confrontados com alguns problemas, e, por vezes, [eles são] muito desconcertantes. Recentemente, tivemos uma grande conferência sobre questões pró-vida, e nessa conferência declaramos, de forma muito clara, o fato de que a vida é sagrada, que o casamento é sagrado e que a família tem dignidade.
Há organizações internacionais, países e grupos que gostam de seduzir-nos a fim de nos desviar de nossas práticas culturais, tradições e até mesmo de nossas crenças religiosas. E isso é por causa de suas crenças de que as suas opiniões devem ser os nossos pontos de vista. Que as suas opiniões e o seu conceito de vida devem ser os nossos.
Nós dizemos: "Não, nós chegamos à idade adulta". A maioria dos países da África são independentes há 50, 60, 100 anos. Devemos ser autorizados a pensar por nós mesmos. Devemos ser capazes de definir: o que é o casamento? O que constitui uma família? Quando começa a vida? Devemos ter respostas a essas perguntas.
Somos cortejados com coisas econômicas. Dizem-nos: "Se você limitar sua população, nós vamos lhe dar muito" e nós dizemos: "Quem disse que a nossa população é muito grande?" Em primeiro lugar, as crianças morrem - mortalidade infantil - morremos nas guerras inter-tribais e por causa de doenças de todos os tipos. E, no entanto, vocês vem com dinheiro para dizer: "Diminua a sua população; vamos dar-lhe ajuda econômica".
Agora vocês vem para nos falar sobre direitos reprodutivos, e vocês nos dão preservativos e contraceptivos artificiais. Essas não são as coisas que queremos. Queremos comida, queremos educação, queremos boas estradas, eletricidade, e assim por diante. Um bom atendimento de saúde.
Eles nos tem oferecido as coisas erradas e eles esperam que aceitemos simplesmente porque acham que nós somos pobres. E nós estamos dizendo que a pobreza não está relacionada ao dinheiro. Uma pessoa pode ser pobre em espiritualidade, pobre em idéias e pobre de educação e pobre de muitas outras maneiras.
Portanto, não somos pobres nesse sentido. Podemos ser pobres materialmente, mas não somos pobres em todos os sentidos. Assim, dizemos não ao que nós pensamos que é errado. E já passou o tempo em que nós apenas fazíamos tudo sem questionar. Agora, nós questionamos. Nós avaliamos. Nós decidimos. Fazemos perguntas. Isso é o que fazemos na África agora.
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No Sínodo, arcebispo africano critica atitudes ocidentais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU