10 Outubro 2014
De fórmula de cortesia – ou de amor, ou de bajulação – aquele "seu desejo é uma ordem" tornou-se princípio jurídico. Não há grupo de ativistas que não reivindique o reconhecimento por lei dos seus próprios desiderata, elevados a "direitos". E ai de quem contesta essas pretensões, talvez em nome de valores que olham apenas um pouco além dos gostos pessoais: imediatamente se desencadeia o "politicamente correto", que censura qualquer um que ouse pôr um obstáculo entre desejo e direito.
A reportagem é de Edoardo Castagna, publicada no jornal Avvenire, 08-10-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Uma reação ao "totalitarismo cultural" do "pensamento único": "Uma expressão – ilustra o economista Stefano Zamagni – relativamente recente e relacionada com o conceito desenvolvido pelo cientista político inglês Irving Janis a partir do título do seu livro de 1972, Victims of groupthink (Vítimas do pensamento de grupo). No pensamento de grupo, os indivíduos que o compõem acreditam, sem nenhuma constrição, na verdade daquilo que foi elaborado por eles mesmos ou por aqueles que eles reconhecem como autoridade de referência".
Eis a entrevista.
Como se chega lá?
A ideia, nascida estudando as seitas religiosas, depois se estendeu também para outros âmbitos. Hoje, por exemplo, os jihadistas são expressão de um pensamento de grupo: estão realmente convencidos de lutar pela causa justa e fazem isso não por serem ameaçados ou retribuídos, mas para seguir a indicação do califa. Pois bem, entre os anos 1980 e 1990, esse conceito também encontrou espaço na economia, com a afirmação do modelo teórico neoliberal. Inicialmente, as coisas estavam indo tão bem que havia economistas (até mesmo prêmios Nobel) que consideravam concluída a sua tarefa, já que quase tinham encontrado um modelo capaz de difundir por toda a parte o bem-estar e a estabilidade dos mercados.
Eram os anos em que Francis Fukuyama teorizava o "fim da história", depois do triunfo do Ocidente capitalista sobre o comunismo...
Sim, mas não só: o pensamento único neoliberal tinha do seu lado também outras duas armas de sedução. A primeira era a elegância do instrumento matemático. A matemática tem um forte poder persuasivo: quando um teorema "é demonstrado", o homem comum acaba acreditando nele, esquecendo que – como lembram os matemáticos sérios – cada teorema só é válido sob determinadas hipóteses de partida. Em âmbito financeiro, o "modelo de Black-Scholes-Merton" é refinadíssimo do ponto de vista matemático e "demonstrava" como os mercados eram capazes de se autocorrigir, tendendo à estabilidade.
E a outra "arma"?
O sucesso imediato: graças a esse modelo, até 2007, fez-se dinheiro a rodo. A suposta solidez teórica parecia confirmada pelos fatos, e a confirmação dos fatos contribuía para difundir o modelo. Naturalmente, hoje sabemos que ele continha erros.
Quais?
O principal foi assumir que o risco financeiro é sempre exógeno, ou seja, que sempre provém de fatores externos ao sistema: eu o torno cada vez menor quanto mais aumento o volume das transações financeiras. Assim nasceu a bolha especulativa dos derivativos, sobre a qual caímos, porque, ao invés, o risco era endógeno e, portanto, aumentava assim que aumentava o espaço das finanças. Os derivativos foram criados em obediência ao pensamento único: aumentar o número das transações.
E agora em que ponto estamos?
O rei está nu: a teoria não é mais capaz de sugerir linhas de ação. Encontramo-nos em um limbo, mas eu sou otimista: a história do pensamento econômico ensina que, da incerteza, dentro de pouco tempo, nasce um novo pensamento. Foi assim no século XVIII, quando, depois do mercantilismo, afirmaram-se a economia civil na Itália (Genovesi, Filangieri, Dragonetti) e a economia política na Escócia (Smith). Foi assim depois da crise de 1929, quando surgiu Keynes. Hoje, até mesmo ex-defensores do pensamento único – como os nobéis Stiglitz, Phelps e Krugman – mudaram de direção, sem falar de Amartya Sen, que começou a criticá-lo desde os anos 1970... Está se preparando uma nova revolução científica.
Mas, se o político continua a delegar ao técnico as próprias decisões, não há o risco de logo cair nos mesmos erros?
A economia deve ser autônoma, mas não separada da ética e da política. É preciso derrubar o princípio do "Noma" (Non-overlapping magisteria) teorizado desde 1829 por Richard Whateley, que defende que "os magistérios não se sobrepõem", que, para ser ciência, a economia não deve se misturar à ética e à política. Business is business. Para evitar reproduzir o pensamento único, é preciso garantir o pluralismo. Ao invés, nas últimas décadas, os fundos de pesquisa, as cátedras universitárias, os espaços de publicação iam apenas para os "alinhados". Essa é a ditadura do pensamento.
Uma ditadura que não se limita ao campo econômico...
Isso vale para a economia assim como para as ciências sociais, o direito, a bioética. O individualismo libertário tende a fazer com que se acredite que as preferências dos indivíduos têm o mesmo status dos seus direitos: se eu prefiro me tornar mulher e gerar um filho, devo poder fazer isso; se eu prefiro escolher como o meu filho deve ser feito, devo poder fazer isso... No entanto, não há apenas o "direito" do adulto que decide: há também, por exemplo, o do nascituro, que nunca é reconhecido, porque não há ninguém que possa "negociar" em nome de quem não tem voz.
Mas essa é a teoria liberal clássica: mediação entre direitos que conflitam...
Os velhos liberais eram pessoas sérias... John Stuart Mill dizia que as preferências devem ter vazão até que sejam compatíveis com os direitos de todos. Era o espírito da primeira revolução do individualismo, a iluminista do fim do século XVIII. No final do século XX, ao invés, a segunda revolução impôs o pensamento único de um individualismo não mais liberal, mas libertário – para o qual as preferências do indivíduo têm o mesmo status dos direitos. E ele se tornou ainda mais perigoso pelo fato de que, hoje, a tecnologia permite que se obtenha aquilo que, antigamente, não se podia nem sequer imaginar.
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Nas raízes do pensamento único. Entrevista com Stefano Zamagni - Instituto Humanitas Unisinos - IHU