07 Outubro 2014
Os votos nulos e em branco ficaram em segundo lugar no estado do Rio. Somados, eles superaram a quantidade de votos obtidos por Marcelo Crivella, candidato do PRB que foi para o segundo turno com o governador Luiz Fernando Pezão, do PMDB. Enquanto Crivella conquistou 1.619.165 votos, foram computados 1.701.650 votos brancos e nulos. Pezão angariou 3.242.513. O Rio é o único estado em este que fenômeno aconteceu.
A reportagem é de Raphael Kapa, publicada pelo jornal O Globo, 07-10-2014.
Percentualmente, foram 6,12% de brancos e 11,44% de nulos. Apesar do número alto, o Rio não é o estado que mais anulou voto percentualmente. Entre os brancos, o Rio ficou em 10° lugar. Já com os votos nulos, o estado atingiu a quarta posição. O maior número de votos brancos foi registrado em Minas Gerais, com 8,57% e, entre os nulos, o título foi para o Rio Grande do Norte, com 16,29%. Quando somados nulos e brancos, também foi o Rio Grande do Norte que possuiu o maior percentual de votos não válidos, com 30,39%.
— O estado do Rio tem um histórico de voto nulo muito forte que se apresenta de forma mais acentuada em eleições com candidatos com alto índice de rejeição. Nesta eleição teve um candidato que a rejeição era quase de 50%. Não é falta de opção, mas descrença com o modelo político e os seus representantes — afirma o cientista político Francisco Lobo.
Nacionalmente, o número de brancos e nulos foi inferior ao que aconteceu no estado fluminense. Foram 3,84% de votos brancos e 5,8% de nulos nas eleições presidenciais. Quando avaliada a capital do Rio, os números aumentam.
Mais de 226 mil cariocas votaram em branco, o que corresponde a 5,96% da população da cidade, e 484.702 anularam nas urnas, o que corresponde a 12,77% do total no município.
— É muito expressivo este número tão alto no primeiro turno. É o momento em que você tem um pluralidade maior de candidatos, você pode escolher algum que possua uma identidade e propostas mais próximas das suas, mas isso não aconteceu — afirma Lobo.
Para o historiador Marcelo Braga, especialista em eleições fluminenses, o voto nulo tem que ser entendido como uma forma de protesto mesmo que o eleitor não tenha consciência do que está fazendo.
- Antigamente, o voto nulo era muito visto como uma forma de protesto. Hoje, esta interpretação já não é muito trabalhada. Porém, se olharmos o que motiva um eleitor a anular seu voto, veremos uma insatisfação. Este descontentamento é uma forma de protesto. Equivocada, até — afirma Braga.
O descontentamento dos eleitores refletido em votos nulos também é criticado por Lobo, que lembra as manifestações de junho do ano passado.
— Os protestos nas ruas em 2013 mostraram que a população esta insatisfeita. O aumento no número de nulos confirma que o descontentamento é mais com o modelo político do que com candidatos específicos — afirma Lobo.
Percepção equivocada do voto nulo
O desconhecimento sobre a importância do voto e a interpretação de que anular é se ausentar do debate eleitoral são dois problemas apontados pelos especialistas que culminam no fato de as eleições deste ano de terem um número maior de votos não válidos do que de eleitores do segundo lugar.
— Existe a percepção que quando se anula o voto, você não está participando. Muitos falam que preferem não votar para não se comprometerem com algum candidato que possa ser ruim no futuro. Isto está errado. Quando você anula, você ainda é responsável pela escolha daquele que vai representar a sociedade e você — afirma Braga.
As eleições no Brasil são definidas através dos votos válidos, ou seja, excluindo brancos e nulos. Quanto mais votos brancos e nulos, mais valor, percentualmente, é dado para aqueles que escolheram entre os candidatos possíveis.
— Em uma eleição, como a do Rio, em que a diferença entre o segundo e o terceiro lugar foi muito pequena, cada voto válido teve uma importância muito grande. O eleitor que vota nulo influenciou diretamente no cenário eleitoral, mesmo acreditando que não — afirma Braga.
A crítica ao voto nulo também é compartilhada por Lobo que vê uma permanência de um desgosto pela política da época da ditadura.
— Somos uma democracia em construção. Na ditadura, o voto era feito, mas não tinha valor. Muitos ainda guardam esta percepção. É necessário mudá-la. Mostrar que a escolha de votar nulo é uma decisão que tem o mesmo nível de comprometimento com o resultado do que escolher algum candidato — afirma o cientista político.
Urna eletrônica evita efeito "Macaco Tião"
O alto número de votos brancos e nulos não é uma novidade desta eleição. Em 1994, 11,41% dos fluminenses votaram em branco, enquanto 8,9% dos votos foram nulos. Em 1998, o percentual de eleitores que votaram nulo foi de 12,92%, enquanto os que votaram em branco configuravam 4,35%.
Na eleição seguinte, o número de votos não válidos caiu drasticamente. Na eleição de 2002, em que Rosinha Garotinho tornou-se governadora, eram 2,5% de brancos e 5,7% de nulos O crescimento deste eleitorado veio nas duas eleições que levaram Sérgio Cabral ao Palácio Guanabara e, neste ano, volta ao patamar que existia na década de 1990.
— O eleitor fluminense possui um histórico de votar nulo que varia de acordo com os candidatos que estão pleiteando o cargo. A urna eletrônica trouxe uma diminuição desta cultura ao inviabilizar votos em personagens específicos, como aconteceu na eleição em que boa parte dos cariocas votou no Macaco Tião — afirma Braga.
Em São Paulo, o fenômeno apontado no Rio, de ter mais voto não válido do que eleitores do candidato em segundo lugar, quase ocorreu. Foram, somados nulos e brancos, 4.395.059 votos não validados. Já Paulo Skaf, que ficou em segundo lugar, teve 4.594.708 votantes. Uma diferença de cerca de 199 mil eleitores.
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No Rio, nulos e em branco superaram os votos dados a Crivella - Instituto Humanitas Unisinos - IHU