24 Setembro 2014
A nomeação de um sucessor para o cardeal Francis George, de Chicago, foi vista como a primeira grande oportunidade de o Papa Francisco ter um grande impacto na Igreja estadunidense. Quando anunciaram a escolha por Blase Cupich, a jornalista que cobre religião Amy Sullivan tuitou: “Desde março de 2013 temos dito: vamos esperar até que ele escolha o novo arcebispo de Chicago; isso irá nos informar que está falando sério”. A escolha, segundo acreditam muitos analistas, foi uma prova de que Francisco quer, de fato, desenvolver uma espécie diferente de liderança, não apenas em Roma mas nos EUA também.
A reportagem é de Mollie Wilson O’Reilly, publicada por Commonweal, 22-09-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Escrevi em artigo publicado semana passada que Francisco me surpreendeu ao fazer o que eu mais esperava que fizesse: articular uma visão de liderança episcopal que diminuísse o maneirismo da guerra cultural e convocasse os bispos para se “dedicarem a reparar as divisões, e não aprofundá-las”. Novos relatos do “efeito Francisco” tendem a se referir às suas escolhas pessoais válidas de nota desde que ele se tornou papa – coisas como viver num pequeno conjunto de quartos em vez de morar nos apartamentos papais, evitar algumas das vestimentas mais imponentes do seu posto e dizer, cordialmente, coisas improvisadas como “Quem sou eu para julgar?”, ao falar com repórteres sobre questões polêmicas. Com certeza, o papa está dando exemplo quando faz estas coisas. Mas ele também expôs as mudanças que quer fazer em termos explícitos, e todo aquele que quer saber como um bispo na era Francisco deve ser precisa apenas ler o que este tem dito sobre o assunto.
A exortação apostólica do papa “Evangelii Gaudium” aborda especificamente a missão de evangelização por parte da Igreja, mas para Francisco este assunto trouxe uma oportunidade de explicitar, em detalhes, as formas de “conversão” pelas quais a própria Igreja precisa para comunicar o Evangelho de maneira mais fiel e eficaz. O parágrafo em que ele apresenta um conjunto de metas e traços desejados para os bispos deve ser posto ao olhar de todos. Se realmente o papa esteve intimamente envolvido na escolha de Dom Blase Cupich para a Arquidiocese de Chicago – e quanto a isso não tenho motivo algum para duvidar –, é seguro concluir que ele considerou Cupich um candidato para realizar esta missão:
A Evangelii Gaudiumm, no. 31, afirma:
“O Bispo deve favorecer sempre a comunhão missionária na sua Igreja diocesana, seguindo o ideal das primeiras comunidades cristãs, em que os crentes tinham um só coração e uma só alma (cf. At 4,32). Para isso, às vezes pôr-se-á à frente para indicar a estrada e sustentar a esperança do povo, outras vezes manter-se-á simplesmente no meio de todos com a sua proximidade simples e misericordiosa e, em certas circunstâncias, deverá caminhar atrás do povo, para ajudar aqueles que se atrasaram e sobretudo porque o próprio rebanho possui o olfato para encontrar novas estradas. Na sua missão de promover uma comunhão dinâmica, aberta e missionária, deverá estimular e procurar o amadurecimento dos organismos de participação propostos pelo Código de Direito Canónico e de outras formas de diálogo pastoral, com o desejo de ouvir a todos, e não apenas alguns sempre prontos a lisonjeá-lo. Mas o objetivo destes processos participativos não há de ser principalmente a organização eclesial, mas o sonho missionário de chegar a todos.”
Para além de saber o que eles vestem, onde moram ou que tipo de carro usam para viajar, se quisermos saber se um bispo está vivendo de acordo com as expectativas do Papa Francisco, poderemos olhar para esta visão impressionante de liderança pastoral. Não é uma liderança vaga ou fazia de substância. Ele fala de forma bastante específica e exigente. (Há até mesmo uma nota de rodapé no original indicando a quais cânones específicos ele se refere.)
O seu bispo tem uma presença “simples e misericordiosa”? Ele está fazendo tudo o que pode para “chegar a todos”? Ele é o tipo de pastor que “sobretudo” se preocupa em “permitir que o rebanho possua o olfato para encontrar novas estradas”, na medida em que caminha atrás do povo ajudando aqueles que se atrasaram?
Eis o que o Papa Francisco pensa que a Igreja precisa. Eis o que é um bispo ao estilo Francisco.
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Afinal, o que é um “bispo ao estilo Francisco”? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU