23 Setembro 2014
O Sínodo não pode ser reduzido a uma conta entre quem é favorável ou contra a Comunhão aos divorciados redesposados. O cardeal Walter Kasper, que havia preparado o debate sobre os temas do Sínodo, com a relação introdutória ao Consistório sobre a família em fevereiro passado, foi posto sob acusação por alguns outros cardeais, como réu de querer mudar a doutrina sobre o matrimônio da Igreja católica. E decidiu replicar através da revista italiana Famiglia Cristiana, 20-09-2014. A entrevista é de Alberto Bobbio. A tradução é de Benno Dischinger.
Eis a entrevista.
Eminência, que impressão lhe deram estes ataques?
Deixe-me dizer algo previamente: o Papa quer um debate livre. Mas, a discussão em curso mostra a tendência de reduzir todo o tema do Sínodo a um só e único ponto, aquele dos divorciados recasados.
Mas é um tema urgente...
Seguramente, e segundo a vontade do Papa será discutido, mas num contexto mais amplo e integral.
Ao invés disso?
Aqueles que insistem sobre este tema querem, de modo totalmente diverso de como o quer o Papa, evitar toda discussão. Marcam antecipadamente uma linha vermelha, se fazem de mestres do Sínodo e decretam que tudo já foi dito e decidido. Assim o Sínodo torna-se uma farsa e, consequentemente, para tantíssimos fiéis, uma desilusão.
O senhor está um pouco farto desta única discussão?
Digamos que me aborreceu. O tema do Sínodo é “Os desafios pastorais sobre a família no contexto da evangelização”. Portanto, o tema que enfrentei no Consistório dos cardeais, como me foi solicitado pelo Santo Padre, era um tema muito amplo. Dizia respeito ao “Evangelho da família”, um tema centra e também urgente no contexto do mundo hodierno, no qual tantas famílias estão em dificuldade.
Qual é a verdadeira natureza do Sínodo?
É totalmente diversa. É uma assembleia de bispos, que são pastores de suas Igrejas locais, reunidos numa atmosfera de prece e de escuta para uma troca serena sobre suas experiências e desafios pastorais que veem entre as pessoas e sobre como, escutando o Evangelho de Jesus Cristo e em comunhão com o Papa, encontrar um amplo consenso sobre a via a tomar, junto com os fiéis e os sacerdotes, para indicar métodos de práxis pastoral.
E do Evangelho que intuições podem vir?
Enquanto o Evangelho é princípio, fundamento e fonte de toda doutrina e disciplina na Igreja. O Papa o recordou, na Evangelii Gaudium, e, portanto não é um código ou uma lei escrita a impor, mas o dom do Espírito Santo através da fé, como explica Santo Tomás de Aquino, e portanto uma beleza a oferecer como via para alcançar a felicidade nesta vida e depois, no final, na vida eterna junto de Deus. Assim, a verdade tem um objetivo pastoral e a pastoral tem fundamento na Verdade, que não é uma doutrina abstrata, mas Jesus Cristo em pessoa, presente no Espírito em sua Igreja.
O Concílio ensinou, todavia, a ler os sinais dos tempos.
Certamente, porque é o Espírito que guia a Igreja a ver os sinais dos tempos. Deste modo, se pode crescer numa sempre mais profunda compreensão da Verdade, que é de novo, segundo o Papa Francisco, uma eterna novidade.
O que se espera do Sínodo?
Espero e peço que o Sínodo não seja somente uma pura e fastidiosa repetição daquilo que, de modo totalmente presumido, era dito desde sempre, mas nos ofereça descobrirmos a Graça, que é sempre a estupenda e surpreendente novidade de Jesus Cristo para a vida e a felicidade do mundo e das famílias. Principalmente nestes tempos não fáceis para todos, mas, insisto, de modo particular para as famílias.
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A verdade de Kasper: “O Papa quer um debate livre” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU